domingo, 10 de janeiro de 2010

Isso que é old school?


Nunca somos os mesmos. Foi uma das primeiras lições que o Parkour intelectualmente me ensinou. Cada treino, por mais simples, cada vitória, mesmo pequena, me elevavam um degrau rumo aos objetivos que, no inicio, nem eu mesmo sabia quais eram. Uma escada de aprendizados que ainda hoje não consigo visualizar onde termina.

Esse foi o começo. Cheio de erros e com alguns muitos acertos. Uma época feliz e que me traz nostalgia do clima que era sentido e vivido no Brasil e até nordestemente falando. Muitas pessoas passaram bons e maus bocados ao meu lado e tantas outras passaram o mesmo distando a quilômetros dele. O Orkut e o Youtube eram os atalhos que nos unia e fazia com que eu, mesmo longe pra caralho, me sentisse parte de uma “unidade”. Eu estava ligado, de certa forma, a pessoas que perseveravam e galgavam os meus mesmos degraus. É... no inicio tudo era tão melhor.

Eu buscava entender nos vídeos como meu corpo deveria se movimentar. Afinal de contas, era um mundo novo, cheio de variáveis e minha compreensão era muito infantil para dar a base que necessitava. Os vídeos e a experiência dos antigos era uma cartilha de sabedoria que fazia brilhar intensamente a direção que eu queria seguir. Me traziam a mensagem de que “Hoje aqui... amanhã lá!”. Eu sabia que, um dia, nós (que começávamos agora) seriamos o horizonte de novos iniciantes, e que eles, assim como eu fiz, se empolgariam com a idéia de se tornar um “ícone”. Mas eu gostava mais da internet nos meus primeiros tempos de Parkour.

O passar do tempo fez com que eu perdesse o gosto pelos vídeos. Até ouvir o que certas pessoas têm a dizer se tornou algo nocivo pro meu crescimento. Os vídeos que antes circulavam acompanhados de frases como “qualquer ajuda é bem vinda” ou “sua opinião me ajuda a crescer”, hoje, infelizmente trazem “assista, comente, avalie e subscreva”. Assim mesmo, frio, grosso e no imperativo. Uma ordem. As pessoas só querem saber de tornarem-se vistas, elogiadas e famosas. Se você assiste, ela ganha “views”. Se você comenta, ela ganha uma massagem no ego. Se você avalia, as estrelinhas do youtube sobem. Se você subscreve, ela ganha um público cativo e fama.

Ter a fama, ou melhor, buscar a fama talvez tenha se tornado o atual objetivo de porque algumas pessoas fazem um vídeo (não sou maluco de generalizar jamais!). A invasão de demos, showreels, prévias, e tanta papagaiada conseguiu subir a cabeça dos praticantes de Parkour e fazer com que o ego falasse mais alto que a necessidade de crescimento pessoal. Vale tudo por um espaço aos holofotes!

Acredito que estou sendo bonzinho por não ter comentado ainda a nova onda de “inspirar através das frases”. Ah... Essa é a melhor! Todos nós viramos filósofos de bar. Os nomes dos vídeos deixaram de ser “Treino com os amigos do Sul” para ser substituído por “A arte sentida no meu coração!” (aka The Art Of My Heart! Porque no inglês fica gringo!). Cara... Que profundo! Não te dá uma vontade de chorar? Eu choro... na maioria das vezes não sei se por raiva ou nojo. Apenas frases de impacto; algumas muitas retiradas do último livro auto-ajuda que leu.

Aprendi que o que busco com o Parkour já está dentro de mim. Não preciso mais de novos referenciais imediatos. Não preciso saber da nova moda dos Europeus (o moletom dos ingleses, a camisa listrada e os girinhos pole-dance do Oleg, as tiaras do Vigroux e do Ilabaca...). Eu já sei andar, sei correr, sei subir um muro... não era essa a base que eu buscava para seguir adiante? E ainda por cima eu estou rodeado de amigos maravilhosos; pessoas com quem terei espaço para conversar e trocar idéias o resto da minha vida.

Me entristece porque antes eu gostava muito de assistir vídeos. Ainda gosto muito, é verdade, mas é difícil encontrar um que não esteja mascarado com a necessidade de autopromoção. Os dos conhecidos eu ainda faço um esforço porque ajuda a matar a saudade e, mesmo podendo não ser mais o objetivo de alguns deles, eu ainda sou chato de fazer meus comentários da mesma forma que fazia a 3 anos atrás. E tem também os daquelas pessoas do meu coração. Os que eu tenho a certeza de que meu tempo ao assistir não estará sendo desperdiçado.

Ah Fábio... Eu não podia escrever essa postagem sem tocar no seu nome. Lembra quando a gente digladiava-se por horas no msn a respeito dos vídeos brasileiros? Enquanto eu defendia “O importante é mostrar como está a movimentação e obter o auxilio que precisa; ou então registrar um bom momento que viveu”, você gritava comigo que “Se vai fazer, porra, faz bem-feito! Para de tremer o caralho da câmera! Aprende a editar fora do movie maker! Bola um roteiro legal!”. Dizia que todo praticante de Parkour deveria estudar também para ser um bom editor. A gente chegou até a ficar chateado um com o outro umas vezes, tá lembrado? QIUOUPQIOUWPIOQUOWUOPQUWPIUOQIOPWUIOP!

Ah meu amigo... Eu me pergunto o que você faria agora. Quantas novas maneiras de se empurrar a cara de uma pessoa na lama você iria criar para destilar sua ironia e sarcasmo em cima dessas pessoas que possivelmente corromperam o seu espírito de treino.

Eu estou bem comigo. Quanto mais subo degraus, menos à vontade me sinto com essa publicidade. Adoro estar rodeado com os amigos e gravar os momentos de diversão. Quando a gente se separa, por vezes, até fico querendo chorar ao assistir as boas recordações que produzimos. E durante a virada de ano eu conversei com esses mesmos amigos de como será maravilhoso mostrarmos para os nossos filhos e netos essas coisas: “Olha o Gustavo noob no 1º Encontro Nordestino de Parkour!”... “Caralho, como o cabelo do Edi tava feio na virada de 2009!”.

É isso.

Meus treinos têm sentimento. Minha arte é viva e minha sede pelo equilíbrio é justa. Mas não é maior nem superior a de ninguém e muito menos eu quero fazer disso uma arma para ser reconhecido em meio à multidão.

Eu quero que você me avalie. Que faça comentários de como posso melhorar e que me subscreva em sua vida como um amigo que está ao seu lado já há um bom tempo. A idolatria, a fama e as estrelinhas? Coloca nos seus bolsos. Você é tão merecedor dela quanto eu.

18 comentários:

Jarbas Rodrigues disse...

=)

nunca tive aquela coisa de "ah, vou gravar um video, por no youtube pra mostrar que sou fóda" mas ja passei pela fase de gravar um video, por no youtube e perder momentaneamente a vontade de treinar, como se minha missão ja estivesse cumprida postando uma merda de video no youtube, ridículo, eu sei =(... mas ja passou, graças a Deus, posso upar trocentos videos, minha vontade por treinar continuará a mesma, aprendi a amar e admirar pessoas através de videos, ainda gosto pra caramba de ver videos, não sei se pelo interesse em ver pessoas fódas se movimentando de formas espetaculares ou pela saudade que sinto de pessoas que tive a oportunidade de treinar junto, enfim... to com saudades, venha no proximo mês, tem 2 grades de cajuína esperando por vocês.
te amo =*

Jean disse...

"Meus treinos têm sentimento. Minha arte é viva e minha sede pelo equilíbrio é justa. Mas não é maior nem superior a de ninguém e muito menos eu quero fazer disso uma arma para ser reconhecido em meio à multidão."

Aff, odeio essa modinha de usar frases de impacto para inspirar. Achei que ia terminar esse parágrafo com "Ame sua missão!" ou algo do tipo...

Duddu Rocha disse...

Jean, eu vou lhe dar um murro... debiloide! QIUIOPQUIUQPEUIPIQUOEIUOPQ!

Qualquer ser imbecil (até você) é capaz de entender que eram frases em resposta as frases de impacto que se tornaram modas. ¬¬

Ou eu deveria colocar um "tb" pra vc entender?

"Meus treinos TB têm sentimento. Minha arte TB é viva e minha sede pelo equilíbrio TB é justa.

Morra!
Jarbas S2!

Rafael Santiago disse...

Palmas para o Duddu!!! muito legal o texto... e não estou postando por modinhagem... é por que textos como esses me inspirão a treinar cada vez mais...

Unknown disse...

Otima postagem :D
\o/

Sayeg. disse...

CARAAAAAAAAALHO, do jean eu ri alto, muito

Unknown disse...

entendi.

Arteba disse...

o ultimo paragrafo também foi demais velho ... realmente impactante e inspirador ...5/5 duddu

hauhuahq

Ícaro Iasbeck disse...

Duddu... só você mesmo pra fazer essa postagem, não esperava menos!


... "AMAZING!"
hahahaha, não aguentei! :D

Rafael Sotero disse...

Os tempos mais antigos internet do parkour costumavam realmente ser mais gostosos de se ler e assistir. Creio que perdeu seu brilho por conta de muitas informações e de muitas cabeças diferentes que nunca batem com um mesmo objetivo e acabou virando algo banal e zoneado.
Quando youtube era desconhecido por mim, lembro-me até do Esquilo (de Floripa minha primeira e real inspiração em vídeos) nós postavamos no "videolog.com".
Não tinha isso de avaliar e tudo mais (pelo que eu me lembre). Eu postava mais pela minha galera que treinava comigo. Era muito gostoso, quem era de fora, pedia para ver o video, e eu mostrava (gostei deste comentário de vídeo duddu, me fez lembrar e rever, de novo).
Lembro que meu primeiro video que postei no youtube foi bastante criticado no Le Parkour Brasil. Esbravejei, e chinguei a todos e levei meu primeiro BAN! Mas alguma alma caridosa atendeu meu pedido para conversar com o dono ou os moderas e voltei.
Dali desde então percebi que brigar não ia me fazer melhor, e graças a isso minha vida teve rumo e apartir dali, foi que eu comecei a produzir com seriedade buscando neles os meus erros e crescendo para ser um profissional. Hoje trabalho e ganho nisso e sou grato a todas as criticas, tanto as destrutivas quanto as construtivas.
Meio do ano compro meu carro e minha camera semi profissional. Dá pra sacar? Graças a isso tudo!
Tenho muitas saudades.
Frase inspiradoras de cú é rola. "Pior é aquele que fala e não vive o que diz". (Teatro Mágico - Zaluzejo) Filosofos de Bar, quero ver! Ponham essa no seus títulos rsrsrsrsrsrsrsrs
(Filosofos de bar foi boa =*)
Caralho Duddu, tu me força a escrever toda hora tb!
Lá vai... aqui no Valparaíso de GOIÁS, neguim já está usando molenton, quente pra porra no GOIÁS. Eu acredito que eles usam moletom na gringa por dois motivos;
Umas é que eles moram no continente Europeu em uma região fria ou porque são preguiçosos e não trocam de calça para treinar quando acordam, tactel deve ser bichisse para eles.
É como eu digo sobre um usar e outros a imitar
Gringo say: Boxer man!
All the People: Boxer man!
Eu queria ter tido ( Psiu...a palavra "tido" existe?) conversas com o Fábio a respeito disso ao contrário do burro duddu que ia contra a boa estrutura de um vídeo. Burro, burro, burro!

RI!!!! "Olha o Gustavo noob no 1º Encontro Nordestino de Parkour!”... “Caralho, como o cabelo do Edi tava feio na virada de 2009!”.

AH SIM!!! E COM ORGULHO AINDA LHES APRESENTO O NOSSO VIDEO AINDA NO VIDEOLOG!!! PQP NEM EU SABIA DESSA!!! AINDA NÃO FOI APAGADO E OLHA QUE PAGAVAMOS O SITE PARA EXIBIR!!! Eu não sabia editar ainda! Editado em movie maker como poderão ver. Primeiro video. Ponham em favorito e escrevam, sim?

http://videolog.uol.com.br/tcvtspk

C.R. disse...

Meu deus duddu tanta coisa pipocando pra mim falar, caraca você conseguiu transcrever algo que sinto, na verdade sempre disse que esse negocio de "ai eu faço video pra ver minha evolução" uma mentirada, pq se for pra ver que veja você, postar é criar ego e assim vai. Não vou me delongar o Jean disse algo otimo tbm em seu coment hahahaha

Fico por aqui meu contentamento com este texto que evia ser venculado para a grande massa parkuristica.

Tatiana Maria disse...

Gostei muito do seu texto!!

Rohd disse...

Acho que da mesma forma que quem posta um vídeo na internet, é pra se promover, é quem quem cria um blog hoje em dia, é para se auto afirmar.

Fica a dica.

Rachacuca disse...

B-eautiful.

Nostálgico.
5/5

Duddu Rocha disse...

Rodrigo, a grande diferença eu acho que está no objetivo que você quer atingir com cada coisa. Eu considero meu blog quase anonimo. Não tenho hábito de sair divulgando ele por aí (que na verdade é o que acontece com os videos de parkour). Antes de ser um espaço para outros lerem, é um espaço para eu escrever. Não enxergo nisso auto-afirmação.

E assim, seu fi da peste! HUAHUAHUAHUHUAHU Como é que você fala uma peste dessas se você é o mais novo blogueiro do mercado internetilistico? AHUHUAHUAHUAUAUAHA

Tá querendo se afirmar tb é seu nojento? Tati, coloque a cabeça desse menino no lugar pelo amor de deus...

bjo.

Bronze disse...

Isso já tava engasgado faz tempo hein? Eu lembro de você comentar comigo sobre as merdas de showreels sahushaushashahsh

Vem se banalizando eu acho.
Antes o propósito parecia ser outro sim. Hoje postam vídeo por tudo e por nada.
Que nem foto. Antigamente fotos eram tiradas em ocasiões especiais. Reunião de família etc. Hoje tira-se foto de qualquer coisa e se num tiver muita relevância é catalogada como poética ou artística.

Unknown disse...

Duddu... eu li e re-li esse texto varias vezes e passei para varias pessoas lerem tambem. Muito lindo.

Unknown disse...

vou colocar esse post no jornal quero nem saber