terça-feira, 15 de junho de 2010

Do Verde ao Amarelo



Muro verde. Não gosto desse frio na barriga. A respiração começa a ficar ofegante, o coração a pulsar mais rápido e quase consigo sentir a adrenalina sendo descarregada na corrente sangüínea. Faltavam poucos segundos pra eu sair em disparada. Basta que o skatista desça a rampa para eu poder sincronizar meus movimentos com o dele e a gente não colidir. “Poucos segundos” é também a minha meta do verde ao amarelo. Ele desceu! Eu corri!

A primeira passada no chão liso me fez saltar um rio de lava imaginária. A segunda atravessou uma fenda real. Sincronia boa de braços e pernas e quando dei por mim já voava em direção ao muro. Segurei de um jeito péssimo e por isso o cimento comeu um pouco de pele dos meus dedos. Precisei ajeitar o corpo e em seguida me lancei por cima do corrimão do half.

Droga! O cara do skate começou a voltar! Se eu mantenho o percurso em linha reta bato de frente com ele. Um obstáculo móvel seria legal. Acho que consigo desviar fácil, mas seria imprudente confiar somente nisso. Não sei com quem estou lidando e nem se ele é do tipo que pensa rápido. Melhor não arriscar. Vou pelo lado.

Desvio a corrida e consigo numa boa desmontar do half pro chão. Joguei com um pouco mais de força porque sabia que a chuva tinha feito lama com o gramado. Se sujasse o tênis teria que dobrar a atenção com a aderência. Aterrissei no cimento, bati as mãos no chão e continuei a correr. Bastaram uns 10 metros e atingi o corrimão estranho. Como ele fica no alto, passar por dentro é o caminho mais rápido. Passei.

Putz! Agora só tem chão. Já que é pra ser o mais rápido então vamos correr! O campo aberto convida a aumentar a velocidade. Corri com força. 100 metros ou 200. Minha matemática não tá mais funcionando pra isso. Grama molhada! Hora de reduzir! A pisada nela sujou meu tênis, mas não importa agora... falta pouco!

Por cima do banco. Evito usar o pé molhado. O toque com o chão já me deixa em posição de passar a arquibancada. Uso as mãos, atiro o corpo pra frente e mais um obstáculo ficou pra trás. Ah! Vou aterrisar com um pé só! O direito. Por ele ser mais forte dá pra continuar a correr!

TUM! Um barulho abafado. O menino no muro amarelo chutou alguma coisa em minha direção. Pé torto da porra! O amigo dele tá do outro lado e ela tá vindo na minha cara! Só deu tempo de ajeitar o pé no chão e desviar a bola com a mão esquerda. Apesar da força que ela vinha eu só precisei de um toque sutil. Parecia até cena de jogo... em câmera lenta! Três passadas no chão... outra na parede... e tô no topo! Muro amarelo. O outro lado.

Ficção não! Realidade!

Passo a passo da minha mente durante um dos melhores flows que já fiz na minha vida. Para fins de recordação: Praça da Juventude, Bairro Augusto Franco no dia 13 de junho.

Terminei a corrida rindo muito por causa da bolada! Ah... como essa sensação de “imparabilidade” é boa! Dei a volta no muro e o menino quando me viu começou a rir junto! “Foi mau aí, veio!”. Ele não fazia idéia de quanto eu estava agradecido a ele naquele momento.

Do verde ao amarelo em poucos segundos.
O tempo que gastou lendo esse texto dá pra fazê-lo de novo indo e voltando.

Futebol? Parkour.