quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ímpeto!


Se você já leu dicas em inglês sobre movimentação já deve ter se deparado com a palavra “momentum”. Não vou negar: nunca compreendi direito o sentido dessa palavra e muito menos o que ela na prática significa. Desde a época da ginástica eu tentava achar um termo brasileiro que traduzisse a intenção dela e não conseguia.

Recentemente, enquanto estudava minha própria movimentação, a resposta simplesmente brotou do nada: ímpeto. Uma palavra tão pouco utilizada, marginalizada em nosso vocabulário, e que é responsável pela fluência perfeita almejada pelos praticantes de Parkour.

Explico. Se a fluência é o objetivo do tracer, o ímpeto é a força que atua alimentando o seu flow. É um pouco complicado de entender. Demorei um tempo até que ficasse claro em minha cabeça, mas acho que usando o Super Mario eu exemplifico melhor:

Lembra de uma fase onde o chão é coberto por tartarugas de espinho que aquele sol maldito fica jogando de cima da nuvem? Mario não é capaz de matá-las pulando em cima e nem pode tocá-las sem morrer. Então a fase traz pontos específicos onde uma estrela cai do céu e te dá imunidade contra as tratarugas. Para passar, você pega a primeira estrela, corre que nem o cabrunco, atropela todas as desgraçadas, e tem que pegar a próxima estrela antes do efeito da anterior acabar. Se demorar, hesitar, ou pensar duas vezes, não dá tempo e o poder de invencibilidade acaba. Uma corrente que deve ser mantida a todo custo.

Outro exemplo:

Tente se imaginar por um segundo durante uma corrida de 100 metros rasos. Você tem cada passo garantido (ou é idiota de errar o chão?) e por isso é capaz de imprimir em sua movimentação o máximo de explosão que o seu corpo pode ceder a ela. Cada músculo é ativado com o propósito de te impulsionar a frente. Seus pés trabalham em uníssono com o objetivo de te jogar adiante. Sua mente tem o foco de te fazer alcançar a linha de chegada no menor tempo.

BINGO!
Isso é o ímpeto!
Isso é o momentum!


Algo que me ajudou muito a entender esse conceito foi o treino de passadas (passos largos em corrimãos, muros...). Antes eu corria em direção ao obstáculo e já realizava a primeira passada travando a velocidade com o músculo da coxa. O medo de errar o local do pé fazia com que meu próprio corpo lutasse contra a movimentação planejada. Em condições como essa, onde você se torna seu obstáculo, o sucesso é muitas vezes comprometido.

Eu não sei definir se o bloqueio do ímpeto é algo mais físico ou mental. O que já sei é que o menor pensamento de falha, a menor negatividade que eu tiver, ou o milésimo de segundo de hesitação que manifestar, refletirá na forma como meu corpo irá se movimentar.

Tenho obtido bons resultados em “liberar o meu ímpeto” através de treinos de manutenção de velocidade: ultrapassar obstáculos de modo a conservar ou aumentar a velocidade, e evitando, ao máximo, reduções de marcha. Com isso tenho conseguido até eliminar aqueles passinhos irritantes que às vezes fazemos para consertar a perna que iniciará determinada movimentação. Se você treina seu ímpeto você fica pronto pra agir da forma que seu corpo se encontrar. Detalhes se tornam apenas detalhes e não mais os responsáveis pelo seu acerto.

Desenvolva um senso critico de movimentação. Analise fisicamente e cruelmente a movimentação de outras pessoas. Ache os “erros” que elas cometem durante seus percursos e imagine o que deveriam ter feito para melhorá-lo. Ultimamente eu gasto muito tempo observando meus parceiros de treino e apontando para eles o motivo de “não estar indo muito longe”, “não conseguir alcançar determinado lugar”, “travar o flow”... É como tocar uma ferida com o dedo. E, em sua maioria das vezes, a resposta que tenho como retorno é “eu nunca tinha parado pra pensar nisso”.

Pois pense! Grave seus próprios percursos e analise-os da mesma forma clínica e cruel. Se não achar a solução do problema, não se desespere. Compare sua movimentação com a de alguem que atinge o objetivo que você pretende alcançar.

Sei que é óbvio, mas eu no momento enxergo melhor que o que diferencia o meu êxito do meu fracasso são os erros e vícios que eu mesmo criei. O corpo é meu e a culpa é minha. Se aprender a achar esses meus erros e tiver a atitude coerente para consertá-los... E o limite? Onde está o limite?

Desculpa! Não resisti! É que criar frases de impacto é a nova moda!
HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUHUA

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

525.600 minutos



Faz 10 dias que fiz aniversário e ainda não fui ler as mensagens que recebi no orkut. No ano passado eu lembrei de desativar esta opção, mas atualizando o profile, ou sem querer, eu devo ter recolocado. Isso me fez comparar o duddu de quatro anos atrás e o que hoje eu vejo no espelho.

Sempre amei aniversários. Esperava o ano inteiro pelo 10 de novembro, dava dicas aos meus pais e familiares das coisas que eu gostaria de receber, não chegava ao cumulo de anunciar para todos o “hoje é meu aniversário”, mas amava receber telefonemas, mensagens fonadas, cartões... Até o cantar dos “parabéns pra você” era foda pra mim. Um rito de passagem. Uma celebração de pessoas dizendo que me amam. Um retorno de tudo aquilo que devotei a elas o ano inteiro. Um feedback que meu ego precisava para saber e mesurar o quanto eu era querido.

Meu deus como eu era tolo e egoísta! Não posso dizer que o Parkour me fez mudar nesse aspecto, mas posso dizer que a convivência com as pessoas que ele trouxe pra minha vida sim. Minha consciência de quem eu sou, e do meu papel no mundo e sociedade foi muito influenciado por elas. E logo eu que sempre me vi como fortaleza onde somente eu sabiamente escolheria os rumos a tomar. Pois é, quanta balela... Hoje enxergo que muito do que sou é reflexo das boas companhias (sim, apesar de tudo vocês são boas companhias) que eu tive.

Sinto que estou perdendo o foco do meu texto; deixar o fluxo da consciência e minhas memórias tomarem conta dos meus dedos não deve ser algo legal de se ler, então voltarei ao meu aniversário. Ele não significa mais nada do que significava há quatro anos. Tá lá no meu orkut mais de uma centena de recados e a única certeza que tenho é que a esmagadora maioria me desejou felicidades pela convenção social (e o lembrete de datas do orkut).

Meus amigos me desejam coisas boas todos os dias. Meus pais e irmãos demonstram amor por mim todos os dias. As pessoas que me cercam me tornam uma pessoa melhor todos os dias. Porque diabos então eu precisaria de um dia para ser lembrado e homenageado? Nesse momento eu só consigo escutar a voz do Edi gritando “capitalismo” na minha cabeça... hahahahhaha! A cada dia estou mais certo disso. Vivemos em um mundo altamente capitalista onde o peso de datas festivas faz engordar as fatias de lucro dos mercados. Não me sinto bem sendo manipulado dessa forma.

Faz quatro anos que deixei de dar presentes a meus pais nos aniversários e dia dos pais. Minhas irmãs sempre cobram a caixinha enrolada numa fita, e pior, elas ainda contabilizam quantas eu já estou devendo. HAHAHAHHAHAA! Mas eu faço questão de tentar fazer dos 365 dias do ano deles, um aniversário. Eu as vezes não consigo. Sou burro pra caralho. E embora não pareça, eu acho que tenho muito problema em demonstrar sentimentos pras pessoas que gosto. Tenho mudado esse traço de personalidade, mas ele ainda se encontra meio rude.

Podem não acreditar, mas isso é muita verdade! O duddu que se apresenta nos eventos de Parkour e pros novos amigos é ainda um projeto. Estou em uma mudança de valores constante desde que o Parkour entrou na minha vida e acredito que uma conversa de 10 min com minha mãe revelam isso pra qualquer um... ahauahuahuahuahuahuhuahua!

Fugi do tema de novo... eta cabrunco! É hoje! ¬¬

Enfim, se você é um dos scraps que eu não respondi, não pense que eu não dei bola pra ele... tenha certeza! Cada um sabe o impacto que causa na vida do outro e eu mesmo nunca imaginei estar cercado por pessoas (que não fossem familiares) por quem eu estaria disposto a me sacrificar.

Uma data é apenas uma data. E esse duddu não precisa mais de um dia festivo onde alguns terão a obrigação de dizer o quanto ele é especial. A verdade é que esses “alguns” já fazem todo o meu ano ser especial.

“NO DAY BUT TODAY!
MEASURE YOUR LIFE IN LOVE!”


(Rent - Os Boêmios)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Criança Interior


As coisas que acontecerem nas últimas semanas parece que foram premeditadas para me obrigar a fazer essa postagem. Eu sou um cara bobão, com espírito criança... porém todo esse ar infantil não modifica a minha realidade em que vivo: um mundo que é, por sua natureza, adulto. Não tenho contato diário com crianças e, muitas vezes, passo um bom tempo sem conversar com uma.

Durante a virada esportiva, eu tive a oportunidade de orientar muitos iniciantes, mas nenhum deles me deu tanto prazer como a tropinha de seus 11 anos que, subitamente, parecia ter brotado ao meu lado. Eles são os parceiros de treino perfeitos! Topam de tudo, conversam com naturalidade, não sentem pudor ao toque, treinam porque se sentem bem e fazem questão de que cada momento empregado no treino seja em prol de seu próprio objetivo (diversão).

Nesse dia em específico, eu lembro que por diversos momentos os papéis se inverteram: eles é que me instruíam e mostravam o que eu devia fazer pra me divertir como eles. Cheguei várias vezes a entregar a liderança do percurso para eles só pra ver o grau de macacadas que iriam aprontar! Huaahuahuahu! E foi muito legal! Tive que me arrastar no chão, galopar os corrimãos mais baixos e não saltar os maiores (porque obviamente eles não alcançavam) e tomar rotas que eu provavelmente não escolheria. O meu “guia” de tempos em tempos olhava pra trás com aquela cara de “deixa eu ter certeza que ele está me seguindo mesmo afinal ele é um adulto...”, e eu até agora lembro da cara de espanto dele ao constatar que “é... ele ta mesmo fazendo tudo que eu faço...”.

O tempo passou e aquela lembrança voltou comigo pra Aracaju. Os treinos por aqui estavam da mesma forma: pouco motivados, sem caras novas e com as pessoas infelizmente só se dedicando ao Parkour de final de semana. A realidade daqui, inclusive, não contribuiu muito para que a campanha do “One Giant Leap” em Aracaju fosse tão boa como poderia ser, mas eis que o evento produziu um fruto único: crianças.

Elas, que estavam no parque passeando com os pais, se misturaram aos poucos iniciantes daquele dia e me obrigaram a largar o treino avançado para me dedicar as suas traquinagens. O local era um tanto perigoso para treinarem (uma árvore única que alcança uns 5 metros de altura) então por isso eu me desloquei com o grupinho para uma área mais neutra. O “tio”, que constantemente era dito pra mim, me deixava muito feliz e me fez sentir novamente aquela sensação da virada esportiva. Conversei com elas e após ver que eu estava lidando com novos praticantes em potencial, tomei a decisão de trazer os treinos de iniciantes do GT para Aracaju. Estamos partindo para a quarta semana com um treino semanal, e embora eles sejam poucos e nosso tempo a principio curto, é o suficiente pra nos divertirmos juntos e aprendermos uns com os outros.

Vou aproveitar o espaço e o tema e registrar dois acontecimentos que ocorreram durante os treinos do GT por aqui e que eu quero me lembrar sempre e sempre.

Léo é um menino de 12 anos, classe média-alta e super-protegido pelos pais. Ele me adicionou no msn do nada e colocou na cabeça que queria treinar parkour. Fiz um tratamento de choque dizendo que ele seria mais um que quando visse o quanto parkour é difícil iria largar de imediato. Engano brutal. Esse menino têm demonstrado uma vontade de aprendizado incrível e têm me ajudado muito no meu próprio entendimento de “o que quero com o parkour e como atingirei meus objetivos”.

Quando cheguei ao primeiro treino de iniciantes, o Léo e um amigo dele estavam pulando de um local um tanto alto e caindo com toda força no chão. De imediato tomei uma decisão: todos os treinos de iniciantes seriam descalços.

Mas não pense que foi fácil... saca só a conversa após o alongamento:

- Bom pessoal, vamos começar. Mas antes queria pedir que vocês tirassem o tênis.
- Porquê?
- Porque treinar descalço vai te ajudar a conhecer melhor seu corpo e a não confiar no excesso de segurança que o tênis te dá.
- Mas se eu tirar o tênis meu pé vai começar a doer e eu não vou conseguir fazer nada.
- Léo, eu te garanto que você vai treinar numa boa e que essa dor será mais um motivo para você aprender a se movimentar sem fazer algo que machuque seu pé.
- Mas você disse que ia treinar com a gente também e que não ia ficar só falando.
- Ué, mas alguém disse que eu não vou?
- Mas você vai treinar sem tênis também?
- Exatamente.


Eu sentei no chão e tirei o meu. Após ele ver que eu estava me igualando a ele, ele se sentou e retirou o dele. Achei muito interessante esse raciocínio e o questionamento. Me fez perceber que se naquele momento eu frustrasse a expectativa dele, as recomendações que fiz ao longo do treino não teriam sido tão bem absorvidas. Nos treinos vou sempre fazer o meu máximo pra me igualar. Antes de ser visto como “o instrutor” eu prefiro ser visto como “o colega”. Estar ali no meio, sofrendo em conjunto e compartilhando o mesmo trabalho é fundamental nesse processo de aprendizado em duas vias.

No mesmo dia, após já termos treinado pra caramba, o Léo saiu com mais dois meninos para pedir água numa lanchonete. Quando fui atrás deles me deparei com o Léo atirando um copo descartável no chão e vindo ao meu encontro. Deu-se o outro diálogo:

- Cara, eu só saio daqui quando você voltar lá, pegar o seu copo e jogar no lixo.
- E porque eu tenho que fazer isso?
- Porque a praça não deve ser culpada pela sujeira que você criou. Quando a gente chegou aqui ela tava limpa.
- Todo mundo joga lixo na rua.
- Mas a gente não vai jogar. Vamos fazer assim, todo lixo que a gente tocar a gente fica sendo responsável por ele e tem que dar um fim.
- Então porque você não jogou no lixo aquele pedaçinho de papel que você pegou no chão no começo do treino?


Eu senti o chão sumir dos pés. Antes do aquecimento, eu tinha pegado no chão um papelzinho de uns três centímetros, li o que estava escrito e devolvi pro mesmo lugar. E agora? Como inspirar "o correto” se eu não fiz o correto? A única coisa que me veio a cabeça foi:

- É mesmo. Você tem razão.

Dei meia volta peguei o papel e joguei no mesmo lixo que ele já estava colocando o copo descartável.

Analisando a situação mais tarde, vi que essa foi a melhor postura que eu poderia ter tomado. Apesar de ser mais velho e mais experiente, eu não posso pensar em ser superior a eles, pois na maioria do tempo eles estão vidrados em tudo que eu faço. E se eu for irredutível ou tentar mascarar os deslizes que cometer... como diabos terei autoridade suficiente para cobrar?

O rosto do Léo ao ver que “tinha me pego” era bem do tipo “olha, ele também erra” e melhor ainda, era “olha, eu posso falar porque ele ouve o que eu falo”.

Eu vou tentar manter o máximo possível essa postura flexível. Claro que o controle da situação deve ser mantido, e as vezes precisarei ser rígido, mas tô aprendendo aos poucos que não preciso ser rude e fingir que sou perfeito para ser respeitado ou inspirar alguém.

Tomara que o Léo nunca leia essa postagem, se não ele vai ficar se achando o rei da cocada preta! HUAHUAHUAHUHUAHUAHUAHUHUAHUUHHAHUHUAHUAHUA!

Ah... e meu sobrinho nasceu!
Gabriel, aprenda logo a engatinhar para que o tio possa te ensinar a subir uns muros!

domingo, 13 de setembro de 2009

Barriga Verde



Me sinto extremamente idiota por fazer essa postagem no blog, mas... vamos adiante.

Desde o dia 09/09/2009 (quarta passada) o meu corpo não sente o prazer de comer carne. Sim. Me converti ao vegetarianismo. Não pretendo fazer aqui apologia sobre o assunto e nem tenho intenção que outros me sigam. Quero apenas comunicar a minha decisão e acabou.

É incrível como as poucas pessoas que já souberam disso, manifestaram-se de forma agressiva como se eu tivesse puxado uma coxa de galinha de suas bocas! Eu respeito a escolha delas em comer carne e da mesma forma espero que elas respeitem a minha de não fazer o mesmo. Vá questionar a puta que pariu! Livre arbitrio é salvo conduto!

Apesar de ter conhecimento de muitos dos males (e benefícios) que a carne proporciona, me tornei vegetariano por princípios. Estudei bastante nos últimos dias e estou satisfeito com a decisão. Será mais uma batalha a enfrentar e já senti na pele que não é tão fácil.

Fui educado em um mundo altamente carnal e praticamente todas as refeições do meu dia giravam em torno de carne. Nessa semana eu tive que rejeitar o Burguer King que tanto amava, a alcatra que minha mãe assava especialmente pra mim, e todos os pedaços de charque que ela colocou na sopa (que é tradição da sexta-feira desde que eu nasci).

E sinceramente?
Não quero pensar nas outras coisas que não farão mais parte da minha vida.

Por outro lado, durante a semana consumi vegetais que nem sabia existir: conheci uma folhinha verde chamada "couve" que é fora de série! E, nem eu acredito que vou falar isso agora mas... hoje comi uma carne de soja FENOMENAL feita pela minha mãe.

Fim. Acabou o post. Tchau.

Isso aqui é apenas um marco para que, futuramente ao reler essas linhas, eu me recorde de cada decisão importante que me fez quem eu sou.

AHHH!
Ainda em tempo!

Sempre me vangloriei por saber controlar meus instintos muito bem. É sério! Eu tenho uma capacidade enorme para suportar dor; eu aguento não cagar, acho que, durante uns 3 dias (e olha que diariamente, eu vou 3 vezes ao banheiro); e eu consigo fazer o xixi voltar pra bixiga mesmo quando as gotinhas já começaram a sair!

Sempre achei que as pessoas que não largavam vícios por causa de tentação (não estou falando de dependência química) eram fracas de espírito e dignas de pena. Pois é. Chegou a hora de me colocar a prova e ver se realmente tenho uma força mental tão boa quanto acredito e se sou tão digno assim de minha própria admiração.

Ai meu deus que medo!
Pizzaria... sopa de mocotó... coxinha... pastel... churrasco...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Treino do Caba Macho



A maior dificuldade que vejo um iniciante enfrentar no Parkour é a falta de uma condição física que dê suporte a tudo que ele deseja aprender. Acredito que não adianta espírito, garra, ou motivação se você não tem tendões, músculos e articulações para entrar na batalha ao seu lado.

Cerca de quatro meses atrás, senti que meu corpo não estava no ponto que eu precisava para alcançar meus próximos objetivos. Resolvi que era o momento de tomar uma atitude com relação a isso e, então, entrei numa academia. Malhei dois meses e foi uma experiência legal. O trabalho localizado e intenso tornava meu corpo mais forte e eu somente tinha que aprender a reutilizar essa força nos treinos de Parkour. Um dia talvez eu faça uma postagem mais complexa sobre isso, pois foi o suficiente para eu chegar a algumas conclusões.

No entanto, uma questão mais ética do que física martelava em minha cabeça. Sentia que o treino indoor numa academia era não só uma prisão como uma negação dos valores que eu buscava no Parkour. Eu estava condicionando minha evolução física a uma rotina chata, presa a um espaço e a aparelhos, e que retirava toda felicidade que eu sentia quando meus músculos começavam a queimar. É muito diferente você sentir essa sensação quando ela é inesperada do que quando ela é justamente o objetivo.

Acho que o lema “Quer ficar forte para o Parkour? Treine Parkour!” não é uma verdade absoluta. Treinos e rotinas físicas são ótimas ferramentas para evolução e autoconhecimento. Mas, no meu caso, prefiro que isso aconteça longe de uma academia. Por vezes eu me sentia um trapaceiro, já que tenho o objetivo utópico de cada dia ser menos dependente de instituições, pessoas e medicamentos; e a academia era justamente mais uma variável nesse rolo todo.

Em meio a todo essa confusão, fui apresentado à nova loucura do Ibyanga: O Treino do Caba Macho. É uma rotina física pra ajudar nos treinos de Parkour e que, apesar de não ter sido criada com nenhum embasamento cientifico ou biológico, é filhadaputamente útil e eficaz se você for responsável e comprometido.

O treino se encaixou como uma luva em minha, então, atual situação. E assim... é macabro! Muito estressante tanto físico quanto mentalmente! E no meu caso, que o realizo 80% das vezes sozinho, torna-se um fardo ainda pior.

É meio estranho escrever em palavras algo que só sabe quem sente, por isso vou ressaltar alguns pontos aleatoriamente aí em baixo e se tiver vontade de entender do que se trata, faça um teste.

Os dias de braço são assustadoramente mais estressantes que os de perna. Climbar uma vez é fácil. Fazer 50 já pesa um pouco. E logo em seguida fazer 100 puxadonas te destrói! Isso tudo se você já não estiver reclamando do sangue e dos calos abertos nos polegares durante as “puxadonas fechadas”. As flexões são somente 100, mas depois de tudo que você já passou... cada uma pesa uma tonelada! Eu sempre tive uma boa condição física da parte superior, mas terminar o treino de braço é sempre um desafio que se eu pensar duas vezes antes de encarar, eu acho que desisto.

Os de perna começaram como um desafio enorme, mas com o passar do tempo meu corpo se acostumou. É que eu não tinha hábito de correr e o início dele é com no mínimo cinco quilômetros de corrida. A parte mais chata são as 100 precisões, pois como a perna já está “afetada” dá um certo trabalho realizar cada precisão perfeitamente.

Em comum com os dois dias, tem as porras dos abdominais estáticos. São os dois minutos mais sofridos de todo o treino, e embora tudo no momento conspire pra que eu não os complete, sempre eu dou um jeito de tirar força do cu e terminar (fico imaginando músicas alegres e coisa inusitadas).

Estou me estendendo demais e essa postagem era pra ser bem curta. No momento diminuí minha rotina: faço ele somente quatro vezes por semana pra deixar tudo mais equilibrado com os treinos de Parkour.

Ah... a maior dificuldade do treino na maioria das vezes não é somente “chegar ao final”, mas “chegar ao final” sabendo que dentro de 24 horas você estará se fudendo novamente. A preguiça pro treino do outro dia começa ainda durante a execução do que você ainda não terminou... é incrível! HAHAHAHAHAHHHAHAHA

Bjo pro Ítalo (nosso caba-macho-mor), Edi, Aaron (nosso caba-macho gringo), Ricardo Farias, Paulo, Marcelo, os cearenses e todos aqueles que de uma forma ou de outra sofrem comigo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Thomas Couetdic & Kazuma



Uma pergunta que ouvi mais de uma vez no Encontro Brasil-França foi: “E aí? Você ainda odeia gringo?”.

Vamos colocar os pingos nos “i”. Eu jamais falei isso. Apenas não nutro, por pessoa alguma, senso de adoração. Um psicanalista poderia catalogar essa minha postura como “orgulho, inveja ou apatia”, mas asseguro que não se trata de nenhum dos três. É que desde pequeno aprendi a não ter ídolos. Aprendi a admirar as pessoas, sem precisar idolatrá-las. E um ídolo pra mim é algo meio divino, as pessoas o adotam como modelo da perfeição e se esquecem de que aquele é apenas outro ser humano, como ele mesmo.

E é assim que eu escolho começar uma postagem falando sobre o Kazuma e o Thomas.

Essa característica de não bajulação era muito presente no grupo com quem eu me encontrava e estabeleceu a conexão na medida certa que precisávamos para construir um elo saudável para a troca de experiências. Pra se ter uma idéia a lembrança mais forte que tenho do Thomas é ele dizendo: “Duddu, o Belle se casou, mas mesmo se não tivesse, você não teria chance porque ele não é gay.”. E a do Kazuma seria ele pegando na minha mão e a gente andando que nem duas amigas no recreio em pleno shopping.

Tenha calma... já vou postar o que você quer ler... mas o blog é meu então sente aí e espere... ¬¬

A maior parte do dia do Thomas é com uma peste de uma moeda na mão e fazendo-a sumir e reaparecer das mais variadas formas possíveis. O engraçado é que ele faz com tanta vontade de melhorar e te pede tanta opinião que você acaba adquirindo gosto pela coisa e aprende vários truques bacanas. Já o Kazuma é o homem das pernas mais bonitas que eu já vi. Menino, quando eu o chamei de “coxudo” e expliquei o que significava... PRONTO! Aí foi que ele começou a forçar mesmo! Parecia um desfile: de cueca, de toalha, de sunga, de toalha rasgada na bunda... hhuahuahuahuahuhuahuahuhu

Mas deixa tudo isso pra lá e vamos ao que interessa!

São duas pessoas ALTAMENTE OPOSTAS quando o assunto é Parkour. Eu buscava pelos pontos em comum e não os encontrava. Se definisse o Kazuma como um Tigre dentes-de-sabre, o Thomas seria um... um... gatinho do Shrek (bonitinho, fofinho mas que sabe cumprir perfeitamente o seu papel).

Eu sei que é tosco fazer comparações quando o assunto é Parkour mas é que era muito estranho! Pra não ficar citando os nomes deles alternadamente, eu vou escrever minhas impressões sobre cada um em blocos separados e você que se vire pra entender.

O Thomas é um cara muito tranqüilo. No início eu achava que ele estava com vergonha da gente porque ele ficava muito calado. Depois que já estávamos mais íntimos, eu pude ver que aquele era um traço de sua personalidade e que, por sinal, refletia em seu modo de treinar Parkour. Ele é extremamente calculista, perfeccionista e concentrado. E não pense que aquela mimosidade toda é sinônimo de fragilidade não... ele é muito forte! Forte ao ponto de durante os workshops conseguir fazer 2 vezes a quantidade de nossos esforços e sem cansar. O resultado não poderia ser outro: os treinos que o Thomas nos convidava a fazer exigiam mais equilíbrio mental do que físico.

Em Brasília ele me falou: “Não importa se é a primeira repetição ou a última, você tem que manter a mesma atenção e vontade. Tente esquecer o mundo a sua volta e se concentre no que você está ali pra fazer”. Estávamos em um grupo de 10 pessoas fazendo um treino de precisão. A meta era contabilizar 10 pontos, sendo que cada ponto só era ganho quando TODAS as 10 pessoas acertassem a precisão consecutivamente. A distância eu acredito que era cerca de 9 a 10 pés com desnível. Não era tão difícil assim, mas a pressão psicológica por saber que o grupo inteiro iria se prejudicar caso eu errasse me preocupava muito. Acho, inclusive, que eu fui um dos que mais falhei. Mesmo que todos ali soubessem que pouco importava “finalizar o jogo”, aquilo era um treino de “agora é minha vez, não posso falhar”. Meu psicológico vacilava às vezes.

Cara, a concentração do Thomas é imensa! Naquela tarde treinamos essa precisão (somente ela) por cerca de 2 ou 3 horas... eu vou chutar que fizemos 500 precisões. Dessas 500 eu vi ele errar 2. DUAS! E isso quando estávamos no final. Quando o pé dele escorregou do murinho, ele olhou pra mim e disse: “Droga! Errei a primeira” e eu respondi: “Eu sei! (seu filho da puta!)”.

Fora isso ele é um cara que consegue se satisfazer com pouco. Quando visitamos a Lagoa, no RJ, ele enfezou em um percurso que envolvia 4 passadas em desnível. Era uma seqüencia um tanto arriscada mas que eu o vi repetir umas trocentas vezes. Cada hora ele fazia questão de incrementar algo: uma posição melhor de mão, um jeitinho mais legal de encaixar o pé... e nisso se a gente deixasse ele ia noite adentro.

Quando questionado sobre o Parkour Generations e Belle, a impressão que me ficou (embora ele não tenha dito com todas as letras) é que o trabalho deles com a PKGEN é praticamente o que todo mundo esperava que o Belle houvesse feito, e ele não fez. O Thomas não o criticava, ao contrário, falava muito bem dele e dizia que ele sabe viver sua vida. Não é porque ele é o “criador” do Parkour que é obrigado a dedicar a vida a isso. Ele tem outros objetivos, quer fazer outras coisas e ninguém tem nada a ver com isso. E é nesse ponto que o olho do Thomas brilha. Ele protege e defende a iniciativa do PKGEN com unhas e dentes. Dá pra notar que não é porque ele faz parte, mas porque o cara quer viver pra servir aquela causa e manter os princípios da atividade vivos.

Deixando o senhor Couetdic de lado, vou escrever agora sobre o senhor Rognoni.

Pra começar nunca o chame de Steve Rognoni. Ele é revoltado com o nome que os pais lhe deram e por isso quando ficou mais velho escolheu o seu próprio: Kazuma (extraído de um anime). Ah... nem falei que os dois são fanáticos por animes né? Pois são. Voltando: Se o Thomas é o cara “eu-quero-fazer-bem-feito” o Kazuma é o cara “foda-se-eu-quero-é-chegar”. Fazia muito tempo que eu não via alguém se jogar de cotovelo em um muro ou chapar o pé com toda a força no chão. As precisões dele pareciam que iam tirar o planeta de órbita, porém a força da perna do cara segurava qualquer impacto. O cara quando se movia parecia uma locomotiva: “o que tiver na frente eu passo por cima... ou derrubo!”.

Os workshops que passava se focavam mais nessa questão da agressividade. Normalmente ele nos fazia cansar no inicio e então, do nada, enquanto o grupo todo (ele inclusive) se encontrava no chão fazendo flexões, olhava pra gente com aqueles olhinhos puxados e dizia: “Vamos continuar fazendo as flexões, mas estão vendo aquele muro e aquela arvore? Quando eu der o sinal a gente corre, sobe o muro, salta de lá de cima, volta correndo, faz essa rotina 5 vezes seguidas, assim que terminar sobe de novo, salta pra arvore, volta pra cá, faz outra vez...” Você tá entendendo? Essa criatura queria nos matar! Eu só via o Zico urrando que nem um animal e o Thiago Lima se esborrachando no chão de tão exausto.

Mas havia um propósito. Ele nos disse que fazer um percurso em condição física normal é muito fácil, mas que Parkour lida com a movimentação continua mesmo em cima do desgaste físico. Se você aprende a se mover quando o seu corpo pede pra parar, aí sim você está fazendo algum progresso. Eu tive diversas vezes problemas em concentrar minha respiração e o que tanto o Kazuma quanto o Thomas berravam a todo momento era: “Você ainda consegue respirar, então você não está tão cansado! Diminua o seu ritmo, mas JAMAIS pare”. Cara, quando o Kazuma via você parar... ele corria e te dava uns empurrãos ou te enchia de soco e beliscão (Lissescão como ficou conhecido)! oO

Esse espírito guerreiro de manter a movimentação, não importa o esforço empregado, foi uma das maiores lições que aprendi e que faço questão de recordar a cada novo treino que faço.

O Kazuma, apesar de ministrar alguns workshops, não faz parte do Parkour Generations. Na verdade, de grupo nenhum. O PKGEN meio que tomou as rédeas do Parkour mundial nas mãos e disse: “Nós iremos guiar vocês pelo caminho da luz”. Já o Kazuma é daqueles que defende que as próprias pessoas devem encontrar esse caminho e não uma instituição o apontar. Ele tem o sonho de construir um Parkour Park em uma fazenda e anunciar: “Tracers do mundo todo, aqui vocês podem treinar sem serem incomodados! Venham! Se hospedem! Passem o tempo que quiser! E tragam dinheiro pro churrasco!”. Eu fiquei de cara quando ele falou isso. O cara é um fofo. Pelo que descrevi é meio fácil concluir que ele não é muito fã do ADAPT né? (Enquanto o Thomas defende o programa ferrenhamente).

Ah eu vou parar de escrever por aqui... tem um bocado de outras coisas mas eu num sou fi di rapariga pra escrever tudo não. Quando a gente se vê de novo você liga um USB na minha testa.

Ah... e eles não fedem e bebem muita água!
Bjos

sábado, 1 de agosto de 2009

De Volta Ao Real




Eu estava sentindo falta... falta mesmo. Até podia ter atualizado o blog antes, mas acho que o turbilhão de informações que minha cabeça recebeu ultimamente ia criar posts altamente desconexos e que até mesmo eu quando os lesse daqui a algum tempo não iria compreender.

Do dia 06 até o dia 26 de Julho, eu estive na maior viagem que já fiz em minha vida. Saca só o trajeto:

Aracaju – Salvador
Salvador – São Paulo
São Paulo – Rio de Janeiro
Rio de Janeiro – Belo Horizonte
Belo Horizonte – Brasília
Brasília – São Paulo
São Paulo – Salvador
Salvador – Aracaju

Nem eu sei como suportei. O estresse tanto físico quanto mental era evidente do meio da excursão pro final e tudo que eu pensava era em voltar pra casa.

Em contrapartida vivi momentos maravilhosos. Como se não bastasse o fato de poder visitar os maiores picos do parkour brasileiro, o GT estava unido novamente (com exceção do Jarbas). Eu acho incrível como moramos tão longe uns dos outros e nos damos tão bem pessoalmente. A sensação é de que não houve intervalo de um encontro pro outro; meio que um “pause” que é apertado quando nos separamos e é reapertado quando nos reencontramos.

Durante a viagem, ainda tivemos como companheiros de jornada o Kalebe, o Vítor, o Luiz Martinez e os franceses Thomas e Kazuma. Como pode ver, eu tive uma oportunidade de ouro pra aprender com tanta gente com tanto pra passar adiante.

O roteiro começou com o “Encontro Brasil-França”, depois passamos três dias no Rio de Janeiro, seguimos pra Belo Horizonte e ficamos um dia por lá, e depois partimos pro evento “Partour” que aconteceu em Brasília.

O “Brasil/França” foi uma surpresa pro GT porque a aceitação do público ao evento foi maciça. O espaço tornou-se até minúsculo para a quantidade enorme de pessoas que compareceram (estimo que umas 400). O Kazuma e o Thomas se incomodaram um pouco (tá... não foi só um pouco) com a quantidade de praticantes e infelizmente o esperado Workshop só rolou para aqueles que estavam no pé deles.

Eu fico feito um passarinho que caiu do ninho nesses eventos. Não sei pra onde olho, não sei com quem eu falo, não sei pra onde vou. São muitas pessoas que eu gostaria de passar horas conversando ou treinando, mas o tempo é minúsculo pra tudo que tenho vontade. Então sempre volto pra casa com essa sensação de “ainda não foi o suficiente”.

Mas é uma sensação indescritível ter ao alcance de um abraço todas aquelas pessoas que significam algo pra mim. Esse encontro, em particular, marca minha trajetória por ter me dado acesso à pessoas que à muito tempo eu queria conhecer. Destaco, em especial, o Kako no meio delas.

Em Belo Horizonte... os Pkmaxianos! São pessoas incríveis, onde eu deposito um carinho enorme. Em minha vivência, eles servem não somente como referência para o Parkour, mas também como seres humanos. Eu lamento do fundo da alma estar tão cansado no dia que passamos em Minas. Não estava bem, minha cabeça doía, meu corpo estava fadigado das mais de 10 horas de carro e sem dormir. Isso pra não reclamar do esgotamento físico proporcionado pelo workshop do Thomas no dia anterior. Então, até peço desculpas aos mineiros pelo “Duddu Zumbi” que aportou na terra deles. Lá, eu, Bacon, Gustavo e Leo ficamos hospedados na casa do Arthur. Foram momentos de muita conversa, risadas e comilanças (meu deus, me senti um rei!). Arteba, meu querido, valeuzão por tudo de coração!

Rumo a Brasília, pegamos estrada pela noite e foi uma canseira sem fim, cerca de 12 horas novamente em um carro e com o Kalebe cantarolando as músicas mais chatas do planeta enquanto eu tentava dormir. Eu estava com tanto sono e anestesiado que nem os beliscões do Kazuma me causavam mais dor. Pegamos o evento já na metade então só deu pra aproveitar o segundo dia.

Cara, eu precisava desse dia em Brasília! Fomos recebidos de braços abertos pelo BRTracer e eu não fazia idéia de como os brasilienses eram legais. É que todo contato que tive anteriormente com eles, me passava uma impressão meio fria, inflexível, rígida e sem sentimento. Com exceção do Miih e do Alex Pires, eu tinha impressão que aquela cidade era um criadouro de pessoas chatas. Engano gigantesco.

A começar pelo Santigas, que se revelou pra mim (ui!) uma pessoa extremamente legal. O jeito caladão dele sempre me causou aquela sensação de “não sou bem-vindo aqui” e por isso eu antes mantinha uma certa distância. Burrice. O cara é um amor de pessoa e eu realmente fiquei impressionado de como não tinha percebido antes. Valeu de coração por tudo meu velho!

Eu podia citar de um por um: O Leandro que eu não conhecia e que de cara me apaixonei! O Miih... mas esse nem vale a pena falar nada (s2). O famoso Breno que tanto eu ouvia falar (melhoras no pé, rapaz!). O Manoel que é um monstro fofinho! O Maurício, que é um cara que um dia eu vou perder a amizade por jogar um pedra na cabeça! O Belém... ah o Belém... o cara que sempre que encontro arruma um jeito de colocar perguntas em minha cabeça que perduram por semanas, meses e tem algumas que até estão completando aniversário em Setembro (hauhauauauhu!).

Eu revi o Butuí! O Beto! O Pedrinho Thomas! O outro Pedrinho! Os meus amados Renatto, Racir e Pedro de João Pessoa! A Poli! O Alex! Conheci o Bernardo! Ah cara... vou parar por aqui! Se eu te esqueci não é porque você não é importante é porque eu tô com sono... A Sofia!! Tá vendo que é sono, mesmo? Eu jamais esqueceria a Soso...

De volta a Sampa, o Thomas pegou o avião dele e eu o meu. Eu teria ainda mais 5 dias em Salvador até voltar pra casa. Lá, eu fui com o Gustavo na Coordenadoria de Esportes falar sobre o Encontro Brasileiro e já deixamos algumas coisas encaminhadas. No final de semana pude participar de mais um Acamparkour. Dois dias acampados numa faixa de terra que divide o Rio do Mar. São momentos de muito relaxamento mesclados com muito treino exaustivo e “cortante” por dentre os mangues. São horas que valem cada minuto! E só tenho a agradecer ao Guga, ao Fred, ao Joe e ao Fallux (mesmo esse faltando o acampamento todas às vezes) pelos momentos fodas que eu passo naquela terra.

Pois é isso. Estou de volta a minha casa. Treinando que nem um cavalo. Esperando as aulas da faculdade começarem. Em busca de um emprego. E vivendo a minha vida.

Cada vez que o Parkour se manifesta no meu dia, seja em lembrança, seja em treino, seja em internet... eu sinto que ele contribui significativamente pra me tornar a pessoa melhor que irá acordar em minha cama no próximo amanhecer.

E essa sensação é impagável.

PS: A vivência com o Thomas e o Kazuma merece um post especial, por esse motivo me abstive de comentar sobre eles. Assim que minhas idéias se ordenarem novamente, eu volto pra tentar colocar em palavras o que consegui absorver.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um passo certo com o tênis certo


A foto ficou boa, né? Se não gostou, por favor... Minta! Eu até coloquei umas pétalas de flor pra ela ficar bem enfeitada e colorida! Isso tudo porque esta é uma postagem de celebração! Eu tenho vários motivos pra comemorar, e quem me conhece sabe que eu extrapolo na gayzice quando estou feliz. Ah... E eu também falo pelos cutuvelos! Então “senta que lá vem história” (imagine uma espiral de preto e branco rodando no seu monitor):

Em outubro do ano passado o Rinoceronte Diamarante, mais conhecido como Pop, me presenteou com esse tênis da foto: Um rainha VL-2500. O novo vício (leia: moda) do Ibyanga era utilizar essa peste de tênis. Eu era um dos únicos que não havia aderido. O fato é que ele apesar de ter uma aderência foda, não amortece bosta nenhuma e eu estava acostumado com meus Olympikus Tube, Mizunos e Asics (não pense que sou rico, tudo é herdado do meu irmão). A absorção deles era assombrosa! Pra ter uma idéia tem um que você até pode colocar umas pastilhas extras de amortecimento... vai ver o tênis é projetado pra saltar de prédio mesmo.

Voltando ao Pop e ao tênis da foto... ele me deu esse tênis de presente. Eu sei que você já leu isso, mas eu quero repetir porque significa muito pra mim. Acontece que eu não conseguia treinar com essa coisa no meu pé. Eu tentava e depois de uns 10 minutos o pé reclamava. Meu calcanhar sofria muito e teve até uma vez que eu bati tão forte que fiquei sem conseguir encostar o pé no chão durante 1 semana.

Toda vez que eu ia pra Maceió eu levava o tênis. Eu queria mostrar pro Pop que eu valorizava o presente e que estava treinando com ele. Tudo mentira... porque quando eu voltava pra Aracaju eu jogava essa bosta pra longe e voltava pros meus amortecedores.

Um dia ele veio pra cá, pegou o tênis em suas mãos, deu graças novamente, e disse: “Que triste... eu dou meu tênis pro cara e ele não usa. Se você não quiser eu pego de volta! Esse solado não tá gasto e isso é sinal de que você não treina com ele”. E era verdade. Afinal, eu só usava o tênis pra enganá-lo e ele não ficar triste.

Aquela época coincidiu com a vinda do idiota do Gustavo pra cá, e como eu já relatei naquele post-carta-de-amor, eu resolvi mudar o modo de encarar meus treinos e impactos. Treinei descalço por um tempo e naturalmente esse tênis se tornou um amigo. Acho que hoje poderia escrever um livro sobre ele. Aprendi lições valiosas como:

- Controlar e confiar no mecanismo natural de absorção de impactos do meu corpo.
- Eu amo meu calcanhar.
- Meu dedão do pé é quem me equilibra no balance.
- Aprender o limite entre o “eu consigo” e o “vale a pena?”.

Quando você o calça a impressão é que colocou uma camada fina de borracha pra proteger seu pé contra vidros e espinhos. Mas somente isso. Você sente cada pedra, cada desnível, cada mudança de terreno e cada dedo tocando o chão. Eu tive que aprender a me livrar daquela superficialidade toda dos tênis fodões e notei de imediato que a falta do conforto reduziu meu nível de “monstruosidades”.

Passei a fazer coisas menos impressionantes e a focar em “besteiras” corriqueiras do treino de qualquer tracer. Eu não fazia mais nada admirável por sua grandeza, mas contabilizava pequenas vitórias em cada precisão de 8 pés amortecida com segurança. Na verdade isso é algo muito monstruoso, eu que antes não dava o devido valor.

O Fred de Salvador quando veio aqui em casa me perguntou: “Você não guarda os seus tênis antigos não? Pois eu guardo. Sinto prazer em lembrar de como cada um deles me ajudou a evoluir e de quanto eu mesmo evolui.”.

Pois esse rainha é o meu primeiro troféu.
EU ACABEI COM ELE, POP!
USEI ATÉ O FINAL!


Sei que você está tão orgulhoso de mim quanto eu mesmo.
Não vejo a hora de comprar outro!

Feliz Aniversário Adriano Pop Diamarante.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Parkour Aracaju no Cinform




É tão legal quando um jornalista tenta entender o que você quer transmitir não é? Todo mundo quando cede uma entrevista na hora de conferir o resultado fica com as pernas bambas. O medo de terem distorcido sua palavra é gigantesco. Esse tipo de reportagem é aquela que eu acho extremamente saudável pro parkour, sem contar que é uma mão na roda pra apresentá-lo à comunidades locais.

Sugiro que as pessoas usem e abusem desse artificio. Jornal impresso é muito lido e normalmente serve otimamente para divulgar que a atividade existe em seu estado (me alegro muito em saber que a maioria dos oficiais militares lêem jornal impresso). E se vocês derem a sorte de pegar um jornalista como o Ben-Hur (velho, brigadão por tudo!) o resultado não tem como ser melhor.

domingo, 7 de junho de 2009

Sims e Nãos




Você sabe a diferença de um para o outro?
Nunca havia procurado uma resposta pra essa pergunta.

Em minha cabeça, o "não" sempre foi a escolha sábia e o "sim" a cômoda. No ensino médio eu não precisava ter uma justificativa para marcar que o item era "verdadeiro", mas precisava estar muito seguro e com as idéias muito bem alinhadas para dizer que ele era "falso".

E o que falar de influência externa?
Numa conversa entre amigos é muito melhor para sua imagem optar em concordar com o que ele diz, mas é preciso muita bravura pra dar a sua cara ao tapa e dizer "não acho", "não concordo" e "não quero" para ele.

Acho que é por ter dado minha cara a tapa muitas vezes que meu grupo de amigos é seleto. As pessoas simplesmente não gostam de receber "nãos" e eu sempre fui uma pessoa que sentia um certo prazer em distribui-los. Ser criticado, e principalmente quando você espera um elogio é algo que pode destruir um relacionamento. Minha família, com o tempo desenvolveu um escudo contra mim:

"Só pergunte a opinião do duddu se não for se chatear com o que ele pode vir a te dizer".

Por diversas vezes eu vi minhas irmãs, antes das festas, perguntarem "como estou vestida?" pra todo mundo... menos pra mim. (É que como eu tenho intimidade eu uso adjetivos como "mendiga, palhaça, pata choca, mulher de vila..."). huahuahuaua!

Mas é com prazer que em todas vezes que algo de importante estava pra acontecer com elas, eu as via se dirigir a mim e falar:
"Duddu, preciso de sua opinião/conselho".

Isso não é uma forma de egoísmo?
Eu escolho sempre ser verdadeiro comigo mesmo e não necessariamente pensando na pessoa.

No parkour é comum pedirem minha opinião sobre uma movimentação ou um video. E quando eu não conheço muito bem a pessoa, eu já cheguei ao cúmulo de perguntar:
"olha, você quer que eu fale o que vai te agradar ou o que eu estou pensando?".

Se responde que quer o primeiro eu falo tudo que achei legal, se responde o segundo eu falo tudo que achei legal e despejo a lista (normalmente grande) de coisas que achei ruim.

Foi essa a forma que aprendi a lidar com essa caracteristica humana de sempre buscar a aprovação. Pelo menos assim eu não me sinto "mentiroso" (e quem me conhece sabe o quanto odeio essa palavra).

Eu não sabia que tinha tanto a falar sobre esse assunto!
E olha que nem cheguei ao meu objetivo inicial!

Como visto acima o "não" pra mim sempre foi um amigo. Ele é o reflexo externo de meu senso crítico, de quem eu sou mentalmente e absolutamente. Mas tanta negatividade podem trazer consequências... er... negativas.

Nos últimos meses ocorreram uma sucessão de fatos que me fizeram repensar meu comportamento. A quantidade de "nãos" que eu chego a dizer diariamente me assusta. E com a ausência de um simples "sim" eu deixei, em 23 anos, de passar por experiências que teriam sido valiosas.

Convite pra ir com amigos a um show que não gosto.
Convite para se encontrar com amigos que eu não via a anos.
Convite para ficar bêbado com amigos do lado.
Convite para sair com aquela menina que dava mole e eu nem ligava.
Convite para ir com amigos a um puteiro.

Como eu posso, verdadeiramente, viver diariamente uma disciplina que me incentiva a enfrentar obstáculos, se eu usava o "não" para me esquivar deles?

Eu não estou dizendo que passarei a dizer "sim" a tudo. Mas é que muitas vezes perdemos essas oportunidades por comodidade. Não queremos sair de nossa rotina ou contrariar o nosso dilema interno de "eu gosto disso e não gosto daquilo". Como vou saber se gosto de algo sem ter provado?

E na "pior" das hipóteses, em todos os 5 exemplos que eu coloquei ali em cima, por pior que o local ou a noite fosse, eu estaria ao lado deles: amigos.

É uma nova experiência que coloca meu corpo e mente a prova. Não vou jamais fazer algo que vá me prejudicar integralmente. Eu sou o meu bem mais precioso. Mas a todas oportunidades que a vida e meus amigos fornecerem, se eu estiver certo que não trará um mal irreparável, eu vou me jogar de cabeça.

As vezes tenho medo de escrever abertamente desse jeito no meu blog porque são transformações pessoais e experiências que eu compartilho sem saber aonde irão me levar. É uma exposição? Sim, é. Mas eu não me sinto (ainda) incomodado com ela.

Então, por favor, nunca tome o que ler aqui como verdade. Eu vou errar muito e vou acertar outras vezes. Dessa vez eu apenas quero ter certeza de que deixei a porta aberta para que as coisas aconteçam.

Agradeço, em especial, ao Edi, Pop, Leleo, Bata, Ítalo, Diogo, Jean, Ísis, Bacon, Gustavo, Fred, Cintia, Monique, Ingrid, Kako, Fábio Gomes, Sayuri e ao Jim Carrey.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

"No Pain, No Gain"




Lendo o título do tópico, eu pensaria: “Agora ele vai contar o quanto tem treinado pra evoluir”. Mas não. Esse é um daqueles posts chatos que não se focam em meu treino físico, mas sim no que anda passando por minha cabeça.

Eu odeio clichês. Não suporto papagaismos e só falto morrer quando modas como “Isso é Mara” ou “Ronaldo” ganham o boca-a-boca ao meu redor. Pra mim isso é o resultado de uma mente que se deixa influenciar facilmente sem apresentar o mínimo de senso crítico.

No Parkour não é diferente. Logo a princípio, antes mesmo de ser apresentado aos aspectos da prática que realmente me apaixonariam por ela, eu aprendi que:

Eu tenho que sofrer.
“No Pain, No Gain”

Eu tenho que ser útil.
“Etre Fort Pour Etre Utile”

Eu tenho que me cuidar.
“Etre et Durer”

Claro que pra pessoas que não tem uma direção a seguir, esse mundo de frases feitas se torna uma bíblia. Eu, particularmente, nunca dei bola; sempre entrou por um ouvido e saiu pelo outro. No máximo, incorporei algo do conteúdo que achei útil, mas isso sem a supervalorização da frase.

Duas delas são oriundas do método natural de Georges Hébert. O cara era um visionário e o seu pensamento de “ser forte, ser útil e durar” ajudou a nortear tanto o rumo da educação física moderna quanto os princípios do parkour em si.

Porém, eu me recordava de já ter visto a “No Pain, No Gain” em algum lugar. Quando a ouvi no parkour, fiz uma pesquisa e constatei que ela é o pilar para várias outras atividades físicas como: halterofilismo, fisiculturismo, bodybuilding, circo, ginástica artística e rítmica e qualquer outra onde a busca por resultados seja a propulsão para se treinar.

Semana passada, durante a aula de “Literatura Norte-Americana III”, um cara chamado Benjamin Franklin disse:

“A indústria não precisa de um desejo, e aquele que vive de esperança é o que morre mais rapidamente. THERE ARE NO GAINS, WITHOUT PAIN”.

O Caminho Para a Riqueza (1758)


O cara foi filho de um vendedor de velas que tinha 17 filhos e que por isso o pai só pôde lhe pagar dois anos de educação. Com certeza esse cara tinha uma infinidade de experiência para compartilhar por ter saído desse cenário social e se tornado o criador do “American Dream” e o pilar da independência americana.

Mas, o que me chamou muito a atenção foi o desvirtuamento que a frase de Benjamin sofreu com o tempo. O “pain” a que ele se referia não tinha muito a ver com “dor, sofrimento, repetições infinitas e cansaço físico” a que hoje nos referimos. É comum em atividades como o halterofilismo você se deparar com atletas que vão parar em hospitais por conta do esforço empregado. oO

Eu acho que a intenção de Franklin era inspirar as pessoas a deixar a preguiça de lado e construir um mundo melhor pra si mesmo com as próprias mãos; e não entrar em um processo doentio em busca de resultados (onde em muitas vezes se perde o prazer de cada passo que constitui essa busca). E por isso, termos como “dedicação, vigília e prontidão”, ao meu ver, seriam uma tradução melhor para “pain”.

Ao que remete ao parkour, a desvirtuação da frase é ainda um pouco pior. Eu já me deparei com tracers que se cortam, quebram ossos, batem canela por falta de prudência e quando você olha pra eles, com um sorriso amarelo, eles soltam a pérola: “Velho, é assim mesmo, no pain, no gain”. Quanta irracionalidade desse fi du cabrunco!

Por isso que sou ferrenhamente defensor dos “tracers pensantes”. Não me importa se pensam igual a mim, me importa que pensem! Essa política de muito copiar e pouco se analisar pra enfim tomar um partido, me irrita.

No twitter, o Rachacuca recentemente postou algo como “Deixe para xingar o despertador depois de ter se levantado para o desligar”. É esse o significado do “No Pain, No Gain” que eu acredito me ser útil.

Quanto ao sofrimento em demasia ou a idiotabilidade de se justificar falhas com frases, eu deixo para aqueles que precisam provar algo a alguém. No mais, o objetivo do meu treino é ser agradável a mim.

Com todo respeito aos masoquistas de plantão:

Busquem frases para justificar sua busca e resultado, eu buscarei me respeitar e me divertir.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

“Meu Pé, Meu querido Pé!”


Um ginasta perfeito é um ginasta que crava sua movimentação. Eu nunca fui um bom cravador. Por mais que treinasse, eu só conseguia terminar o movimento sem ser despontuado se plantasse o calcanhar no chão. Ou era isso, ou então eu dava um passinho pra frente (desconto de 0,10 por passada). No parkour, as precisões trouxeram de volta meu problema com cravamento. E agora? E agora que arrume um outro otário pra chapar o calcanhar no concreto! Não tem mais o fofinho do colchão não, meu filho!

Na última viagem pra Salvador, a gente começou um treino depois da meia-noite. Eu estava alegremente brincando com meu mais novo vício: passadas (saltitos iguais aos do Bambi, imaginando que o chão são corrimãos). E então Fred e Fallux resolvem parar pra assistir a belissima cena que isso deveria ser. Ficamos durante um bom tempo os três analisando minha movimentação, até que o Fallux perguntou: “você não usa o tornozelo?”.

Vou fazer uma pausa aqui pra explicar o que aconteceu com a minha cabeça. Sabe o filme que dizem passar na nossa mente quando vamos morrer? Pois nessa hora, eu vi um mosaico de vários movimentos meus que estão na lista de “preciso melhorar”. E em todos eles eu notei que não uso o calcanhar:

Mortais de costas. Precisões. Amortecimentos. Passadas. Enfim, qualquer coisa que necessite de absorção de impacto ou geração de impulsão com os pés.

Nós três ficamos meio com cara de “????” porque isso é como caminhar... TODO MUNDO FAZ NATURALMENTE! Menos o abestalhado que tá digitando...

No outro dia, Fred e Fallux separaram um tempinho pra trabalhar exercícios de fortalecimento de pé comigo. Pra minha surpresa eu descobri que sou um Sr. Calça Frouxa! Minha resistência não chegava à metade da deles e minha flexibilidade na articulação do tornozelo é quase inexistente. Fizemos caminhadas usando somente a ponta do pé, depois só o calcanhar (sem tocar os dedos no chão), depois com a lateral esquerda, direita...

Eu suava. Fazia caretas. Até derramar uma lágrima eu derramei (e olha que sou homem!)! Não sei se todo mundo tem tanto problemas pra andar desses jeitos como eu, mas é que doía muito mesmo. Só que era aquela dor de “está forçando muito, porra!”. Isso me fez ver que o fortalecimento dessa área com certeza ajudará na minha movimentação. Estou regularmente trabalhando em cima disso. \o/

Minha saída para a precisão antigamente:



Minha saída para a precisão agora:



Eu ainda não tenho força pra sustentar o impacto do peso do meu corpo em cima do tornozelo, e nem aprendi ainda a usar conscientemente o tornozelo na hora da precisão. Mas quando eu lembro de usar, eu notei que vou muito mais alto, mais longe e mais suave. É só uma questão de hábito e treinamento. Nada que muito suor e trabalho mental não dêem conta.

Agradeço enormemente aos debiloides lá de cima pela ajuda e preocupação. :)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O Petróleo de Petrolina


Descobri que meu tempo biológico para atualização do Blog é de 15 em 15 dias. Esse é o período certo onde sempre acontece alguma coisa que fica martelando na minha cabeça e é preciso cuspi-la pra fora dela em palavras. Quando eu ultrapasso esse tempo é porque ou estava emendando uma viagem atrás da outra ou a universidade pegou no pé. O meu atraso recente é devido à combinação dos dois.

Deixando minhas lamentações de lado, eu queria citar um recado que um dia recebi: “É incrível como por qualquer besteira o duddu diz que o mundo dele virou do avesso!”. Não foram essas as exatas palavras, mas o sentido sim. Quem a disse foi o Arthur do PKMAX (Bjo Arteba!) cerca de dois anos atrás. Lembro também que o G1 (Morra, Jean!) deu umas risadinhas de deboche em seguida.

Pra mim, era uma época de aprendizado. Eu havia começado a questionar a atividade que praticava e a me libertar da prisão que a falta de informação me mantinha. Por isso era tão comum eu ser surpreendido por opiniões de pessoas que “abriam meus olhos” para uma realidade que eu nunca havia sequer imaginado. Pensando bem, nessa época eu jamais cogitaria a possibilidade de que esses dois (e tantos outros) pudessem vir a se tornar pessoas amigas.

Três parágrafos de introdução para dizer que eu estou apaixonado pelo Jarbas. Eu acho que eu preciso aprender a resumir, né? HAUHUAHUAHUA! Mas como o Arthur diria: MAIS UMA REVOLUÇÃO! Acho que é por isso que eu não morro de amores por gringo. É que tem tanta gente foda ao meu lado, com quem tenho horrores a aprender, que eu acho desperdício de energia pensar no Brasil afora.

No feriado da páscoa, eu, Jean e o Jarbas fomos modinhar em Salvador. Nos encontramos com o Gustavo, Tchuke, Fallux, Fred e outras pessoas que espero que não fiquem bravas por não citá-las. Minhas recordações do cenário baiano para o parkour não era lá esses chocolates todos, e por isso eu fui mais com a intenção de matar a saudade desse povo todo.

Que surpresa agradável!

O bom trabalho que os baianos têm feito no Costa Azul já rende frutos: eu fiquei impressionado com a quantidade de pessoas treinando seriamente, interessadas em evoluir e trocando experiências a torto e a direita. Aprendi muito com essas pessoas e a empolgação delas serviu como um “novo gás” para os meus treinos em Aracaju. Fui muito bem tratado por todos e espero ter conseguido retribuir o carinho da mesma forma.

Mas e o Jarbas velho?

Mermão... Sei lá o que falar dele! Esse cara tem postagem no orkut desde 2005. E onde diabos ele se escondia? Petrolina deve ser onde a casa da peste fica... Só pode!

Meu primeiro contato com ele foi no último “Encontro Nordestino”, porém eu voltei pra casa com a sensação de “não aproveitei a presença do Jarbas”. Minhas condições físicas e mentais no evento não estavam as melhores e muita da diversão pra mim foi deixada de lado.

Essa viagem tinha esse carater de "resgate". Nossa... e eu acho que resgatei bem! Suguei o máximo de experiência dele que eu pude e é foda velho... o cara mora lá onde nem tem energia e computador ainda... tá... até tem... mas ele é dono de uma fibra e uma força de vontade invejáveis! Quando ele me dizia no msn “acordei hoje às 4 da manhã e treinei até as 6 antes do trabalho” parecia mentira. MAS NÃO É.

A dedicação dele e o zelo pelo parkour são admiráveis. Depois de um ano de treinos em Aracaju eu estava ávido pra conhecer novas pessoas. O Jarbas levou três. Na primeira noite ele disse: “Conhecer e estar aqui com vocês pra mim já valeu a pena a viagem... o que vier é lucro!”. Até parece! Nós fizemos a viagem valer muito mais a pena!

Foram horas de suor ao lado dele... e quando a gente se cansava... açaí pra repor as energias e voltar a treinar! Teve uma hora que eu comecei a rir da imundice que minha roupa tava e quando olhei pro Jarbas ele estava tão sujo quanto! HAAHUHUAHUHUHUHUAHUA! É um espírito de menino que contagia!

No dia em que ele foi embora, ele me acordou às 6 da manhã, me deu a camisa que usava e se despediu. Eu tava meio grogue de sono e voltei a dormir (a gente sempre ia dormir tardão da noite batendo papos). E nesse dia em especial só acordamos ao meio-dia. Quando me levantei olhei pra mim e... CARALHO! EU TÔ VESTIDO COM A CAMISA SUADA DO JARBAS!

Por mais gay que isso pareça, significou muito pra mim. É mais um gigante digno de minha admiração e que eu tenho certeza que ainda renderá ótimos momentos de parceria.

Camisas de parkour eu tenho várias... mas a do Oparra me faz pensar em quanto esse cara suou vestido nela e isso é uma inspiração e um orgulho que eu faço questão de registrar.

sábado, 4 de abril de 2009

Survivors!



Nunca fui muito fã de história. Lembro que na escola de freiras onde tive minha formação básica, o aluno ganhava 2 pontos por comportamento e os 8 pontos restantes eram do resultado da prova escrita. Nessa matéria eu tinha comportamento ZERO e na véspera da prova decorava completamente o capítulo para tirar o meu 6 ou 7.

Uma vez meus colegas contaram isso para a professora e ela disse que se eu citasse a página completa eu nem precisava fazer a prova. Foi o primeiro (e acredito que único) 10 que já tirei nessa matéria. E assim cresci. Passei anos enrolando a mim mesmo e só vim descobrir que essa “merda” valia pra alguma coisa anos depois.

Ainda hoje não consigo transformar os erros dos meus antepassados em acertos para o meu presente. Sou do tipo cabeça-dura que apanha na cara pra depois poder dizer: “ah... agora entendi”.

Os membros do Ibyanga, em sua grande maioria, são mestres no assunto. Ao menos quando querem usá-lo como apoio para as atitudes que tomam. É um tal de socialismo pra lá, democracia pra cá, anarquismo por baixo... Sempre que estamos juntos muita crítica é feita e várias delas fundamentadas em conceitos que não pertencem ao meu vocabulário. Eles me influenciaram a buscar compreender os diversos sistemas de governo existentes e a entender o que nomes como “Che Guevara”, “Rousseau” e “Hitler” querem significar.

Tenho lido cada vez mais sobre o assunto e hoje entendo um pouco melhor porque eles criticam tanto o método de governo brasileiro. O capitalismo encontra-se infiltrado em todas as relações sociais (parkour inclusive) e o conceito do “ter para ser” é evidente até em miudezas de nosso dia a dia. Você sempre se considera superior a alguém por deter algo que julga faltar a ele. Seja um conhecimento, uma habilidade ou um bem material.

A verdade é que eu tenho medo do homem. Tenho medo de não haver limites entre mim e as pessoas e mais medo ainda de que elas não tenham limites perante mim. Regras existem, basicamente, para melhorar o nosso convívio social. E eu lamento o desejo das pessoas que anseiam viver distante de um código de leis.

O ser humano é o mais maluco dos seres. Se o nosso sistema de sociedade não existisse, se hoje o governo caísse, se estivéssemos somente por nossa conta, EU ENTRARIA EM PÂNICO! Toda selvageria humana que é contida pelas regras e leis viria à tona! A propriedade privada cairia de imediato: Seríamos livres para ir aonde quiséssemos, mas reclamaríamos quando nosso espaço fosse invadido. Será que realmente haveria liberdade em um ambiente onde os limites não seriam mais respeitados?

O próximo viveria realmente próximo, e me cago de medo ao pensar no uso que daríamos a essa proximidade. Eu me relaciono super bem com as pessoas, mas preciso que elas mantenham-se em seus lugares para eu me sentir seguro! Numa terra sem lei tudo pode acontecer, principalmente se tratando de gente.

Eu, ao menos no momento, me sinto totalmente incapacitado de lutar em um mundo onde tenha que cruzar o limite de alguém para atingir os meus objetivos. Não tenho dúvidas de que acharia uma forma de “sobreviver”, mas também tenho certeza de que a consciência por cada atitude tomada me faria perceber que não é dessa forma que eu gostaria de "viver".

Eu dependo de cada um de vocês.

sexta-feira, 20 de março de 2009

“Mas aqui não tem onde treinar...”


Ao contrário do que sugere, essa postagem não é sobre métodos de treino e muito menos para te ajudar a usar a imaginação. É mais pra abrir os olhos sobre um assunto que, roda e vira, me incomoda:
A falta de conhecimento a cidade em que se vive.

Eu escuto o desabafo de muitas pessoas (amigos inclusive) de que estão cansados de sempre treinarem nos mesmos picos, fazer sempre as mesmas movimentações e deixar o parkour cair “na rotina”.

Moro em Aracaju desde que nasci e sempre fui um cara caseiro. Meu conhecimento da cidade se resumia ao trajeto que fazia pra escola, pro cursinho e o quarteirão onde morava. Meus pais me diziam “Acorde pra vida! Você não conhece nada do mundo! É um Zé bobão!”. E de fato toda vez que eu precisava ir pra algum lugar que desconhecia era um sufoco. Tinha que fazer perguntas sucessivas para as pessoas, buscava pontos de referência pra me orientar e por vezes me atrasava para os compromissos.

Parkour modifica a visão que temos da cidade, correto?
Mas do que adianta essa percepção se você nunca conheceu sua cidade?

Quando comecei, um dos primeiros pensamentos foi: “Moro no menor estado brasileiro, aqui não deve ter muito lugar pra treinar”. Procurei as praças clichês, treinei nos pontos óbvios e eis que chegou a minha vez de dizer: “cansei dos locais que tenho”.

Eu considero essa fase crucial para um tracer porque é o momento em que ele desperta pro interesse de conhecer VERDADEIRAMENTE a sua cidade. Aquele que ignora esse “chamado interior”, me desculpem a expressão, mas volta pra mesma merda. Se nega a possibilidade de evoluir tanto como praticante de parkour quanto como cidadão.

Eu era uma anta. Desconhecia completamente a realidade do que era a minha cidade. Vivia preso e protegido sobre o trajeto de vida que meus pais preparam para mim desde a infância. E acho que é nosso dever nos libertar-nos disso.

Hoje, sempre que conheço alguém que mora numa região remota eu faço questão de dizer que sou praticante de parkour e pergunto se não existem algumas praças legais no local onde ela mora. Essa atitude já me rendeu ótimos frutos (além de instruir mais uma pessoa que futuramente poderia recriminar a prática).

A foto que encabeça essa postagem é a maior arma que já encontrei: Mapas rodoviários e urbanos. Ele foi retirado da lista telefônica de Aracaju e é minha arma secreta. Além de mostrar as ruas, ele assinala... Sabe o que?

PRAÇAS!
Todas as da minha cidade além dos parques!

Não tenho como descrever o quanto minha visão ampliou e a quantidade de picos que ganhei. Será então que é justo você reclamar sem conhecimento de causa? Uma pessoa teve o trabalho de mapear sua cidade e colocar em forma de desenho tudo que você precisa pra ter locais ilimitados de treino. É irresponsabilidade sua não fazer proveito desse instrumento pro seu próprio crescimento. Ontem mesmo levei o mapa pra auto-escola e depois dela fui visitar um parque que nunca tinha ouvido falar. Treinarei nele hoje à tarde.

- Ah duddu, mas eu não tenho um mapinha...
- Http://earth.google.com/

Imprima, entre num ônibus e pense duas vezes antes de chorar no meu ombro.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Dicas para se treinar só I



É pra falar a verdade?
Eu amo meus treinos sozinhos!

Claro que você perde todo o apoio, chamego e conversa dos amigos, mas, pense pelo bom: "aquele momento é unicamente seu!". Na intenção de tirar melhor proveito desses momentos, eu percebi que instintivamente desenvolvi alguns artíficios. Vou listá-los sempre que lembrar para ajudar outras pessoas que passam pelo menos caso e para eu mesmo ter um registro. :)

1 - No caminho para o local de treino faça das quadras pares um obstáculo. Cada quadra normalmente tem 200 metros (se eu não me engano). Na ida, brinque de que nas ímpares você tem que ir caminhando rápido e respirando compassadamente, e nas pares você tem que prender o ar e correr o máximo que puder. É engraçado porque quando eu estou numa quadra ímpar (a primeira por exemplo) eu já a percorro nutrindo raiva pela quadra par (a segunda). Daí quando ela chega o primeiro passo quando subo a calçada é "sai daqui sua desgraçada!".

2 - Trave duelos com o pico. Nesse caso, eu foco em algo que está dentro do meu limite físico, ou de algo que quero apurar a técnica. Por exemplo: uma precisão de 10 pés. Como ela é díficil pra mim, eu estabeleço que vou fazer somente 10 naquele momento. Cada precisão certa é 1 ponto pra mim, cada errada é um ponto pra precisão. Da primeira vez que treinei isso, o placar foi 0 x 10 pro pico. Não contenha a raiva, chame ele de filho da puta mesmo! Sempre volte e faça a competição no mesmo local. Quando eu consegui (meses depois) fechar um 10 x 0, eu quase choro de alegria! Se você perder 5 de cara, lute por cada uma das seguintes! E se perder a sexta, faça as últimas 4 pensando em lavar a sua honra e voltar pra casa de cabeça erguida. "Ao menos acertei uma! SEU FI DO CABRUNCO! VAI VER DA PRÓXIMA VEZ".

3 - Não se limpe. Normalmente eu vou sem camisa, então sempre que rolo ou subo em árvores minhas costas ficam pretas. Percebi que as pessoas olham pra você (e te atrapalham) mais, quando você está com o cabelo certinho, cheiroso e com carinha de "minha mãe me arrumou". Se você estiver porco, suado e sujo, elas fazem menos piadinhas imbecis e se tocam que o que está fazendo é algo sério.

4 - Saia de casa sempre com o pensamento: "Não volto até ter encontrado algo novo". É incrível como essa obrigação aguça a mente. O pior (ou melhor) é que você vai esquartejando o pico metro por metro e cada dia sobra menos coisa nova pra fazer. AÍ A COISA FICA BOA! Você vai se pegar analisando cada galho de árvore em busca do seu "ínedito daquele dia". E NÃO SE ENROLE! No desespero de não ter achado nada, re-olhe o local buscando as coisas mais simples e idiotas, normalmente são elas que você deixou passar em branco (mesmo treinando lá há anos).

5 - Mentalmente, no trajeto de volta pra casa (sempre volto caminhando e relaxando), tente pensar em situações em que poderia usar o parkour de forma útil. A de hoje eu imaginei que um ladrão poderia me abordar a qualquer momento (a rua era deserta) e eu iria dizer que não tenho grana nenhuma porque estava treinando parkour. Quando ele me perguntasse o que é isso (O SER HUMANO É CURIOSO PRA CARALHO!) eu ia explicar bem gaymente que é um esporte que treina a pessoa pra salvar outras pessoas. E que se naquele momento um cachorro corresse atrás da gente, eu teria como subir um muro e ainda ter força pra puxá-lo pra se esconder comigo. Moral da história: Ele ia achar o parkour algo tão nobre que não iria me matar. Seja bobo!

6 - Imagine sempre que você é o Jerry e o Tom quer te fuder. Na sua precisão ele colocou espinhos pra te furar se você errar (ENTÃO NÃO SE DEIXE ERRAR!). No local onde você apoia suas mãos nos climbs ele colocou uma chapa quente (CLIMBA E SAI RÁPIDO PORQUE QUEIMADURA ARDE!). Imagine essas situações idiotas. Vai ver como sua perícia aumenta.

Sempre que usar algum novo ou recordar de um antigo eu posto aqui.

Um treino de parkour só é ruim quando você não quer treinar.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

"Gustavo, eu te odeio!"


Não consigo parar de repetir essa frase durante meus últimos treinos. Gustavo é um cara que durante muito tempo treinou descalço. Acho que durante mais ou menos 1 ano acompanhei os treinos com esse favelado e não tinha maturidade pra entender o porque dele se inserir em um meio que o excluia da esfera de "evolução rápida" que todo tracer sentia prazer em estar.

Explicando melhor, o Edi é capaz de fazer cat-leaps de "n" pés, eu de fazer sdcs grotescos; evoluímos de forma cavalar em pouco tempo e o gustavo... er... ficou na precisão descalça de 8 pés e nos flowzinhos curtos e compassados.

Em Dezembro ele me deu um tapa na cara:

"Gustavo, todo mundo que eu vejo a minha volta evolui a amplitude e "agressividade" na movimentação. E você está sempre na mesma. Nunca tenta um cat-leap mais distante, nunca vejo você se desafiando a fazer algo novo e mais complexo... não acha que está perdendo tempo em não forçar seu corpo um pouco mais não?"

A resposta pra tanta ignorância minha veio em uma frase curta:

"Eu tenho todo o tempo do mundo".

Essa foi somente uma das muitas vezes em que essa, até então, minha ignorância foi quebrada pela sensatez desse baiano viado. Todo mundo que treina com um pouco mais de seriedade, almeja fazer isso pra sempre. Então por que eu tinha na cabeça esse pensamento de que as pessoas sempre deveriam apresentar algo que impactasse pra demonstrar o resultado dos treinos?

Tenho consciência de que nunca treinei por vaidade e muito menos pra provar a ninguem do que sou capaz. E depois de muito matutar cheguei a conclusão de que esse meu pensamento foi mais um legado que a ginástica olímpica implantou em mim. Um dos principais focos dos meus treinos não era ganhar as competições mas evoluir a dificuldade das combinações de movimentos. Na ginástica essa escala vai de "A" até "Super E". Cheguei a fazer combinações A, B, C e D. E meu orgulho era imenso ao galgar cada degrau desse alfabeto.

Fiz o mesmo com o parkour esse tempo todo e me fudi. Evolui muito rápido, confiei no meu passado muscular e mental e negligenciei treinamentos básicos que o Gustavo gastou 1 ano fazendo.

Passamos cerca de oitos dias juntos nas ultimas semanas, inclusive três desses foram com ele aqui em aracaju treinando diariamente. Nesses tempo ele fez uma lavagem cerebral em mim, me transformou em um crítico tão grande em matéria de parkour quanto eu sou em matéria de ginástica por causa do curso de arbitragem que fiz.

Estabelecemos um flowzinho pra eu fazer. Coisa básica de iniciantes: "passa muro, passa mureta, passa mureta, corre, passa mureta". Fiz achando que estava abafando; flui dentre os movimentos, fiz o mais rápido que conseguia, mas no final a cara de reprovação que esse menino fez... da próxima vez eu peço um soco no lugar. Me apontou diversos erros tolos na minha movimentação: gasto de energia desnecessário, afobação, respiração, calcanhar, contração muscular errada, suavidade inexistente... Claro que não topificou, apenas abriu meus olhos pra enxergar isso tudo. Tentei fazer o mesmo percurso descalço e percebi melhor tudo aquilo que errava. Pisadas de rinoceronte... um verdadeiro Juggernaut.

Adquiri um senso crítico de mim mesmo que me vez enxergar mais erros do que acertos em minha movimentação. Uma frase que ele usou cai como uma luva agora: "Fazer é fácil, quero ver você fazer leve!"

Durante o resto dos treinos, mesmo com ele de costas pra mim, eu sentia o "olhar de reprovação" pra tudo aquilo que eu fazia.

Voltei ao começo. Atualmente estou treinando descalço ou com tênis de futsal e tenho sofrido pra caralho. Meus pés estão doendo muito, minha panturrilha tá inchada, o gasto físico do corpo quando se treina com consciência do que se faz é muito maior do que treinar por treinar. Estou aprendendo a duras penas que o meu progresso foi muito rápido e descontrolado. Até andar na rua se tornou motivo de "o gustavo está me olhando!".

"Você já reparou como as pessoas andam? A ciência aponta o calcanhar como base da caminhada e os tênis de hoje em dia trazem proteção cavalar pra suportar esses impactos. E as pessoas, mal acostumadas, se apoiam nesse conforto agredindo seu corpo a cada passada. Quando começei a treinar respeitando meu corpo até minha forma de caminhar mudou. Cada passada na rua tem uma flexão de joelho para que o calcanhar não se sobrecarregue".

Em um texto antigo usei a seguinte frase: "O futuro do parkour assusta se você pensar em uma realidade onde as pessoas são auto-suficientes". Fico muito feliz em ver que existem pessoas como o Gustavo que vão lutar pra que esse futuro não se torne real.

Valeu por tudo, meu irmão! E volte sempre!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Debate do 1º Encontro Paraibano de Parkour


O debate do encontro paraibano de parkour contou com a participação do diretor da Aliança Francesa da Paraíba (que até poucos meses morava na França), Fernando Cunha (Professor de Educação Física da UFPB), Vant (diretor do Grupo Ethnos), tracers das mais variadas regiões da Paraíba, assim como eu (de Aracaju) e o Edi e o Ítalo (ambos de Maceió).

A mesa-redonda teve duração de pouco mais de 2 horas e aconteceu na Associação dos Bancários, João Pessoa/PB. Os assuntos não foram pré-definidos, portanto sempre que algum tópico encontrava-se “concluído” era feita a pergunta “podemos seguir adiante?”.

Segue abaixo as impressões mais importantes que tomei nota (não necessariamente discutidas nessa ordem):

01 - Air Alert 3

O professor Fernando Cunha é especializado em trabalho de preparação com atletas de vôlei e basquete, e, portanto foi questionado sobre o famoso programa de treinamento que é repassado por dentre os praticantes. O resultado obtido na discussão foi de que o programa da NBA não faz milagre. É um sistema utilizado por atletas de alto rendimento que passaram desde a adolescência por um treinamento de elite, e, portanto, possuem as fibras musculares e tendões mais desenvolvidos para se submeter ao programa. O máximo que pode ser utilizado pelos tracers são as idéias de exercícios e a padronização de rotinas.

02 - CREF / Universidades

O professor Fernando Cunha é militante de um movimento anti-CREF e ressaltou que futuramente os praticantes de parkour que se encarregarem de ministrar aulas pagas poderão sofrer com a repressão do órgão (assim como aconteceu com os mestres de capoeira e os professores de dança). Iniciativas como os workshops do PKGEN, e o ADAPT, podem ser passíveis de caça as bruxas no Brasil. O professor assegurou que assim como os mestres de capoeira, os praticantes que futuramente ingressarem no ramo de “dar aulas” podem alegar o tempo de prática como “formação” e lutar judicialmente (se chegar a esse extremo) para continuar a lecionar.

03 - Abordagem ao iniciante

Ficou de comum acordo que não existe uma fórmula mágica para abordar o iniciante. Cada ser humano é individual e terá suas dificuldades e facilidades. Como o contato primário do iniciante é, normalmente, com um outro praticante, o melhor a ser feito é orientá-lo para que ele perca a visão de que parkour é o que ele viu no filme/televisão/vídeo e que ele aprenda a enxergar o que precisa fazer com seu corpo para conseguir se movimentar livremente (perder peso, ganhar resistência respiratória, força de abdômen...).

04 - Associação / Organização

A Paraíba está na iminência de criar a Associação Paraibana de Parkour, então a discussão sobre o tópico foi grande. Criar uma associação demanda muito gasto, quebra de cabeça, conhecimento jurídico e empenho em troca de (a principio) pouco retorno. No caso da Paraíba, eles já tiveram como receber apoio governamental e foram barrados por não possuírem um CNPJ. Então, para eles, a necessidade da associação é maior. Porém, para os grupos e estados que não tem tantos contatos em prefeituras e órgãos (Vant, que é um dos coordenadores do parkour em PB, por liderar a “cultura de rua” da cidade, conhece toda sorte de incentivos públicos) chegamos à conclusão de que é melhor nos organizarmos localmente, em iniciativas pequenas e um dia, se necessário também, evoluir para algo imenso como uma associação.

05 - Aliança Francesa

Vant conseguiu o apoio da AF de João Pessoa (cessão de camisas) e o diretor dela (presente no debate) levantou alguns pontos sobre o assunto. A AF não é somente um curso de francês no Brasil. Ela tem interesse voltado para toda manifestação francesa no país e está presente em quase todos os estados brasileiros. O diretor, inclusive, encorajou a mim e ao Edi a buscar as alianças francesas de nossos estados, pois elas normalmente apóiam com facilidade esse tipo de eventos. Existe uma comissão julgadora de onde a verba de patrocínio da aliança será utilizada, mas desde que o pedido de apoio seja feito com antecedência ao evento, a chance de sucesso é grande. Ele disse ainda que futuramente encontros de parkour podem se tornar encontro de alianças (e facilitado pela ação conjunta delas) e que até a vinda de alguma “autoridade francesa” para engrandecer o evento pode ser arranjada com maior facilidade.

06 - VO2Max

Como o professor foi avisado com antecedência sobre o debate, ele buscou informações e a ver vídeos sobre o parkour. A análise dele foi de que o parkour (como deveria ser treinado) é uma atividade altamente aeróbica (foco na resistência) com seus momentos distintos de trabalho anaeróbico (foco na explosão muscular). Então ele salientou a necessidade de nós, praticantes, aumentarmos o Vo2max constantemente. VO2max é a taxa máxima que o organismo de um indivíduo tem de captar e utilizar o oxigênio do ar que está inspirando para gerar trabalho. Quando questionamos como isso pode ser melhorado, ele respondeu que através de corridas com percursos determinados e com o aumento gradativo destes. O ritmo de corrida também influencia diretamente nessa taxa porque quanto mais seu corpo trabalha sem parar, mais oxigênio você precisa respirar para supri-lo. O resultado dessa discussão foi que hoje em dia a maioria dos treinos dos praticantes são voltados para a movimentação em si (manobras com trabalho, principalmente, anaeróbico) e a parte da corrida é, muitas vezes, negligenciada. O ideal é que um tipo de treino jamais substitua o outro.

07 - Ramificações oriundas do parkour (Puro, Estético e Competições)

Assim como todo esporte ou atividade que compõe a chamada “cultura de rua”, inúmeras variantes surgirão com a o parkour disseminado a cada dia mais. Cada cabeça funciona de uma forma e busca um objetivo diferente. O cenário paraibano não é dominado por tricksters e free-runners, então o conceito de “parkour puro” é aceito com facilidade por lá. Estendamos a conversa para o cenário mundial e nacional para definirmos o que a propagação de cada idéia reflete no cenário da prática. O resultado obtido foi que “existe espaço para todos”. O que falta é cada nova vertente saber limitar-se ao seu espaço e não tomar posse do espaço do semelhante. Assim como o futebol de areia não participa da regulamentação do futebol de campo, cada “nova disciplina” deve buscar sua firmação sem apoiar-se ou atrapalhar a disseminação da outra. Do contrário, se as novas disciplinas não aprenderem a respeitar que, o que se faz é diferente do que o parkour em si prega, os puristas irão continuar a falar e a gerar discussões em defesa do parkour puro. A definição de parkour no debate ficou clara: objetividade, fluência e livre movimentação corporal com o propósito de ser o mais rápido e prático possível. Qualquer coisa pregada de modo a ferir esse conceito deveria ser chamada por outro nome.

A discussão sobre competição praticamente não existiu pela unanimidade de opinião: não é o foco do parkour, nunca será, e se alguém criar algo do tipo, deixou de ser parkour.

08 - Parkour em Lisses

O diretor da aliança francesa visitou Lisses na época em que o parkour surgia e deu umas palavrinhas de como isso se sucedeu. Disse que as crianças não tinham opção de diversão, a cidade era muito parada e os jovens facilmente ingressavam na marginalidade. A atitude dos fundadores do parkour foi de levar para aquela comunidade algo que eles poderiam fazer sem precisarem de um espaço construído pra eles, um apoio governamental ou mesmo aprovação dos pais. Comentou ainda que o parkour nasceu de forma espontânea para dar liberdade e aliviar a atmosfera “cinza” e monótona que cercava os jovens de Lisses.

09 - Necessidade de Intercâmbio

Ficou definido como algo imprescindível para a propagação do parkour e a própria melhora individual. O próprio pessoal da Paraíba se impressionou com a “cara nova” que os visitantes deram aos seus locais de treino e com as diferenças sutis de foco durante os treinos. A troca não acontece de um lado somente e da mesma forma, os visitantes puderam aprender com a forma de treino paraibano. O resultado foi tão satisfatório que, Eu, o Edi e o Ítalo conseguimos meio que arrastar alguns praticantes do Paraibano para o Nordestino.

Conversamos também sobre o crescimento que esses intercâmbios provocaram no parkour nordestino nos últimos dois anos e que a tendência é que eles aconteçam cada vez com mais freqüência.

10 - Impactos e Equipamentos de segurança

Reafirmamos a necessidade do tracer depender cada vez menos de suportes e equipamentos para se locomover e então o professor da UFPB levantou uma discussão sobre se não era negligência dos praticantes fazer descaso do uso de aparelhagem de proteção individual. Vários praticantes manifestaram opinião que iam desde o uso de cutuveleiras aos tênis da moda com amortecimentos exagerados. O resultado atingido foi de que o parkour necessitaria de proteção individual se os riscos oferecidos ao iniciante fossem os mesmos que são apresentados aos veteranos. Como o desenvolvimento físico e mental é gradativo e o processo de descoberta do parkour por parte do iniciante deveria ser constante e consciente (e essa consciência deve ser implanta no iniciante pelos veteranos), o uso de equipamentos passa a ser desnecessário. Um iniciante não deveria precisar de proteção individual contra impactos (por exemplo) justamente por não precisar se colocar em situações em que a gravidade dos impactos aponte para uma proteção auxiliar. O fortalecimento dia após dia, e o ganho de atenção meticulosa é que deve substituir qualquer apetrecho.

11 – Alongamentos e Aquecimento

Muita gente no evento tinha dúvidas sobre a eficácia de alongamentos, aquecimentos e se havia necessidade real de fazê-los antes dos treinos. O professor explicou que somente o fato de você provocar um estimulo ao seu corpo já faz com que seu cérebro se prepare pros exercícios que virão. O sistema muscular é ativado e descargas energéticas são disparadas internamente. O aquecimento, principalmente, serve pra aumentar a irrigação de sangue no músculo (pois esse vai precisar de toda fonte de oxigênio disponível) e o alongamento, principalmente, lubrifica as articulações (que serão prejudicadas se estiverem secas ao receber os impactos). Fora isso, o alongamento estende o músculo para que as fibras se desentrelacem, e não provoque danos com o rigor das contrações. Algumas pessoas argumentaram que leram em textos que alguns estudos mostraram diminuição na performance muscular após alongamento durante o treino. O professor disse que existe uma corrente em estudo dessa teoria, mas que ela se restringe a somente diferenciar os benefícios e prejuízos de se treinar alongamentos estáticos sem aquecimento prévio, e vice-versa. O resultado da conversa é que é imprescindível alongamento e aquecimento antes dos treinos para evitar lesões e ter um aproveitamento muscular assegurado.

12 - Percursos Planejados / Percursos Programados

Esse debate foi realizado logo após traçarmos o que consideramos ser parkour. Os praticantes foram questionados até qual ponto seus treinos são “de parkour” e quando eles passam a se tornar “para o parkour”. Após diversas opiniões, concluímos que a grande maioria dos praticantes treina “para o parkour’. Esses treinos, em sua maioria, são de repetição, tentativa e erro, análises de técnicas e percursos pré-estabelecidos. O parkour em si lidaria com uma situação de deslocamento real e natural, com direito a terrenos diferentes, situações inusitadas e onde a única garantia do praticante seria a habilidade de moldar sua movimentação aos obstáculos que surgissem.