sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A Legalidade do Ato de Pensar


Resumo do que o texto tenta transmitir:
 
"OK, galerinha, eu sei que vocês tem seus motivos pra acreditar nas legalizações disso ou daquilo, e eu posso até apoiar x ou y; mas eu peço, de coração, que vocês estudem antes de saírem por aí tentando mudar a opinião alheia, caso contrário vocês não convencerão uma alma viva"."

 
Não é de agora que tenho notado uma consistência nos jovens brasileiros na busca por legalidades. De um tempo para cá parece até uma praga: pra onde viro o cara encontro uma opinião inflamada cada vez em rostos mais jovens. E quando falo jovem é de pirralho com 12 anos... Já foram variados os temas levantados por essa cambada: aborto, maconha, casamento homoafetivo, menoridade penal... Mas o que também pude observar é que na maioria das vezes encontrei não alguém lutando coerentemente por um direito e sim uma juventude rebelde fazendo o papel bobo no que mais sabem: rebelar-se não importa como e contra o quê.

Defender a legalidade da maconha é uma pauta diária. Eu não consigo ir para um treino, abrir uma rede social ou sentar em uma mesa com amigos sem que esse assunto brote das catacumbas.  Na maioria das vezes, a maconha é defendida por já usuários, por pessoas que escondem o vício dos familiares e/ou por pessoas que circulam com grupos onde todos fumam. A legalidade é buscada por eles porque o ato de não fumar torna a pessoa “careta”, inibe a “liberdade de expressão” e porque jovem nenhum gosta de ser proibido de nada. Acredito que se a maconha fosse liberada desde sempre eles inclusive encontrariam qualquer outra coisa para se rebelar. Porque para eles se rebelar dá status e agrega valor.

Já a defesa da legalização do aborto é bastante comum por pessoas que transam com frequência sem camisinha e por pessoas que já correram riscos de gravidez indesejada: pessoas despreparadas para ser pais e que já passaram noites em claro a espera do resultado de um exame de gravidez. A grande parcela e maioria desses defensores não pensam nas causas mais “nobres” como a utilização do aborto em casos de má formação fetal ou em gestações que coloquem em risco a vida da mãe. O importante é a resolução imediata do seu problema e, é claro, a satisfação da sua vontade de se rebelar.

Pessoalmente eu não tenho nada muito grave contra o uso da maconha. Eu não sou usuário, não me incomodo com o cheiro dela e sei que ela inclusive é menos nociva a saúde do que o cigarro (que é legal). O meu problema com ela, além do fato de ser crime, é que boa parte das pessoas que a defendem são pessoas imbecis. A grande maioria são pessoas incapazes de enxergar os lados de uma mesma moeda e de compreender algo que vá além do seu umbigo. Manja uma porta? São elas. Daqueles bem tapadas!

O mesmo se refere ao aborto: estão tão interessados em satisfazer um ego e uma necessidade, que esses “defensores” na verdade é que mereciam ser os verdadeiros abortados. É muito fácil ser a favor de uma causa em beneficio somente de si. Mas quantos estão dispostos a estudar, avaliar critérios, dados e impactos de ações, para enfim tomar um partido? Quantos gastaram 10 minutos de seu dia para ler uma análise clínica, um ensaio bem escrito ou um artigo sobre o tema? Acho que esses energúmenos não leem justamente por serem incapazes de entender o próprio idioma.

Eu reconheço, é claro, que existem militantes legítimos dessas causas. Pessoas que possuem um ponto de vista coerente e que lutam por uma sociedade de direitos mais justos. Conversar com vocês é sempre algo maravilhoso. Mas convenhamos, meu(inha) querido(a)... metade ou mais das pessoas que te seguem são retardados mentais. Infelizmente vocês, os legítimos conhecedores, são minoria. Pode ir chorar ali no cantinho...

A maconha poderia ser legal. O aborto, em casos extremamente controlados, poderia ser legal. E diversas das reivindicações que são feitas pela humanidade hoje em dia, poderiam sim ser legalizadas também. O problema é que o ser humano (e principalmente esses jovens) não sabe usar corretamente ainda o bom senso e nem direitos básicos que já possuem. Então para que diabos criar uma cobra que vai morder a gente? Nem a cabeça pregada no pescoço eles usam direito e querem defender a legalização de alguma coisa?

Por esse motivo eu abro mão do meu “direito” de fumar maconha. Abro mão também do meu direito de abortar. Tudo isso porque sei que o ser humano ainda não é responsável e nem benevolente o suficiente para arcar com o peso dessas liberações. Eles são burros. Nós somos burros.  E abro mão de minha liberdade por essa prostituição de pensamento toda. Fim de Papo.

Na verdade, você já deve ter percebido que eu sou meio nilista, né? Meu pai fica com raiva quando eu digo isso, mas por mim o ser humano é uma praga e se eu pudesse apertar um botão de “matar todo mundo e começar do zero” eu acho que apertaria, porque a gente faz muita coisa errada... puta que pariu!

Faz o teste: na próxima vez que um amigo seu manifestar opinião a favor da legalização de alguma coisa que exige um mínimo de conteúdo para se debater, pergunte a ele os motivos e de onde vem sua inspiração para isso... você, assim como eu, pode se surpreender com tanta babaquice.

E, comprovando o ser humano babaca que eu sou, eu lanço aqui então a minha campanha: A legalização do ato de pensar. Já passou da hora de exercemos esse direito e deixarmos de ser tão medíocres, egocêntricos e inconsequentes.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Proibição do Parkour em Escolas e Clubes




Resumo do que o texto tenta transmitir:

"OK, galerinha, eu sei que vocês tem seus motivos pra acreditar nas legalizações disso ou daquilo, e eu posso até apoiar x ou y; mas eu peço, de coração, que vocês estudem antes de saírem por aí tentando mudar a opinião alheia, caso contrário vocês não convencerão uma alma viva".
Em qualquer momento de nossa história, sempre que for preciso lidar com o que nos é estranho, diferente ou desconhecido, teremos que lidar também com o surgimento de preconceitos. Por se tratar de uma atividade recente e que não se encontra ainda fixada na sabedoria popular, a prática do Parkour é muitas vezes marginalizada, mal compreendida e proibida sem necessidade.

Em ambientes escolares e clubes, a problemática torna-se ainda mais conflitante: o papel educacional da instituição é educar para a vida e incentivar a práticas que conduzam a uma vida saudável. Porque então proibir uma atividade que pode provocar tantos benefícios? Parkour trabalha, além do desenvolvimento de todas as valências físicas do corpo humano, o reconhecimento do praticante enquanto cidadão assim como o aprimoramento de sua consciência moral. Não faz sentido se posicionar de forma contrária a isso.

Em pratos limpos, o que acontece é o medo de abraçar o desconhecido. Ao invés de procurar andar de mãos dadas com uma nova ferramenta de ensino, algumas entidades preferem ignorar o histórico e os benefícios da prática e instaurar uma absurda proibição. Absurda porque o coração do Parkour é a comunicação do praticante com o meio em que se encontra. Coibir sua prática é reprimir a noção de consciência espacial e reprimir o desenvolvimento motor do ser humano. Enxergo nisso uma medida totalmente arbitrária.

Óbvio que muitas vezes os ditos praticantes não são pessoas instruídas na atividade e que, pelo mau comportamento empregado, faz-se necessário um posicionamento mais enérgico da direção dos estabelecimentos. Mas acredito que o papel educacional nos ensina a incentivar o conhecimento ao invés de ignorá-lo.

A medida positivista que é esperada de uma instituição que promove o ensino e o lazer deveria ser a busca de pessoas qualificadas e preparadas para retransmitir esse conhecimento sem causar danos: nem aos pretensos iniciantes nem ao patrimônio. O Parkour tem muito a oferecer. É uma ferramenta educacional ainda muito pouco explorada. Mas se não abrirmos o espaço para que ela seja desenvolvida, estaremos marginalizando uma atividade que nasceu para revolucionar o modo como o ser humano encara o meio em que vive, e por tabela, os futuros praticantes e cidadãos.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Jamais Hesite Quando Puder Ajudar

Sangue que eu ainda deixei escapar. Droga!

Estávamos em um grupo de mais ou menos 10 pessoas treinando na ferroviária. Para quem não é de Aracaju, esse local esta abandonado a cerca de 20 anos e hoje serve apenas de esconderijo para usuários de drogas e bandidos. Era nosso primeiro treino oficial por lá. Durante toda a tarde, fiquei com os sentidos alertas caso fossemos abordados por alguém reclamando de nossa presença. Felizmente não fomos (apesar de uma viatura da polícia ter passado por perto e nos encarado).

Ficou escuro e decidimos pegar as bicicletas e voltar para casa. Quando chegamos na avenida, escutamos um barulho de derrapagem e assistimos quase aos nossos pés uma moto atropelar um homem de bicicleta. A confusão de corpos e ferro no ar, se não fosse a seriedade da situação, poderia ser apreciado como uma obra de arte. Em meio a tanto caos, você identifica corpos e ferro em um balé brilhantemente coreografado.

Quando os dois homens enfim caíram no chão, a ação de todos nós foi instantânea. Largamos tudo: bicicletas, mochilas e corremos em direção a eles.

Minha primeira reação foi checar o senhor da moto. Em questão de segundos vistoriei o corpo dele atrás de anomalias graves e não as encontrei. Pelo que pude notar ele só havia se arranhado bastante e apresentava aquelas marcas brancas, típicas de pele e carne comidas pelo asfalto.

Virei o rosto para checar o senhor da bike e quando ele tentou ficar de pé vi uma torneira de sangue jorrar da panturrilha dele. Sem brincadeira. Parecia que haviam decepado a perna dele com uma espada como naqueles filmes japoneses. O sangue espirrava a cerca de meio metro do corte. Entendi que precisava fazer alguma coisa e rápido. Corri até ele e vedei o buraco com minhas duas mãos. Fiz uma varredura rápida com os olhos e, apesar do cara ter um sangramento que não aparentava ser grave na cabeça, aquele ponto que eu segurava era sim o de maior lesão e onde eu podia ser mais útil. Decidi que iria ficar ali tapando o buraco quanto tempo precisasse.

Apoiei minha cabeça na perna dele e pressionei com força. As pessoas curiosas começaram a chegar e eu tive visão clara do que o Parkour Aracaju fazia naquele momento:

Monique, Tárcio e Do Vale estavam em pé e sinalizando o tráfego para que diminuíssem a velocidade. Leury, Gabriel, Ícaro e Victor estavam servindo de suportes, ligando para a emergência, entrando em contato com os familiares das duas vítimas e reunindo os nossos pertences que estavam espalhados na avenida. Aquiles segurava o joelho do motoqueiro no lugar e pelo que pude ver a distância parecia que ele tinha uma fratura ali. E Rafa, que estuda psicologia, começou um trabalho magnífico de acalmar as vítimas e evitar que eles dormissem (o cara que eu segurava, começou a se tremer muito e reclamar de frio).

Parecíamos uma equipe de resgate! Todos estavam ali para ajudar, executando a tarefa que podiam e tentando somar para o bem estar de alguém que não conheciam.

Minha pegada na mão começou a ficar cansada e quando aliviei um pouco o sangue voltou a espirrar bem forte. Fui mexendo os dedos bem devagar até sentir de onde exatamente o sangue jorrava e quando o encontrei concentrei minhas forças ali. Era impressionante a violência da pulsação, o que me dava a certeza de que eu não podia de jeito nenhum deixar aquele sangue sair.

Fiz pressão na panturrilha dele durante cerca de 40 minutos (isso mesmo... o resgate levou 40 minutos para chegar...). Quando chegaram, a socorrista era a mesma que socorreu minha avó quando ela caiu em nossa casa. Ela se aproximou de mim, pediu para eu largar a perna dele e quando a torneira de sangue voltou a abrir ela usou um kit médico para rapidamente estancar.

Se já estava muito orgulhoso de nossa ação, imagina como fiquei quando os meninos me contaram o que ouviram duas senhoras falarem:

 “Ah meu deus, são os doidos que estavam pulando na ferroviária. Eu vi eles mais cedo e agora são eles que estão socorrendo. Deus proteja esse homem!”

A partir desse dia, tenho certeza que seremos melhores vistos naquela redondeza e poderemos treinar com menos receio de ser confundidos com malfeitores.

Depois, pensando friamente, vi o quanto eu havia sido imprudente ao entrar em contato com o sangue de um desconhecido sem antes ter me precavido. É uma atitude que talvez da próxima vez eu esteja mais esperto e não repita da mesma forma. Mas cara... Ter a oportunidade de ajudar a alguém é uma coisa legal. Só que tomar de fato uma atitude e fazer a diferença para esse alguém é muito mais que “legal”: é incrível!

Hoje acertamos.

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Enquanto escrevia esse texto, eu me lembrei muito do Jarbas, do Santigas, do JJ e do JC. Por motivos diferentes e pela mesma energia positiva doada, obrigado aos quatro.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Pesquisa: MEDO E ENFRENTAMENTOS NA PERSPECTIVA DE PRATICANTES DE PARKOUR



Vou deixar aqui guardada a pesquisa que respondi para a estudante de psicologia Alessandra Fernandes. Ela está fazendo um trabalho engendrado na Psicologia do Esporte e a relação do praticante de Parkour com o medo e seu enfrentamento. Gostei das perguntas e ficarei de olho na conclusão do trabalho.



Entrevista semi-estruturada para tracers

1.      O que o Parkour representa na sua vida?

Um turning-point. Uma atividade que chegou no momento certo para dar direcionamento e foco ao que eu pretendia fazer e ser. Os conceitos existentes por trás da prática e as consequências do seu treinamento ajudaram por moldar a pessoa que eu sou hoje.

2.      Quais as lições fundamentais proporcionadas pela prática do Parkour?

Primeiramente o controle de variáveis que antes estavam inacessíveis: você descobre que o seu corpo é capaz de muito mais ações do que àquelas que as pessoas ao seu lado executam diariamente; e que esse controle, dessa atividade corporal, permite trilhar caminhos e interagir com o meio ao seu redor de maneira única e diferenciada.
 
Por consequência, o Parkour te induz aos questionamentos. A medida que você recebe uma quantidade absurda de respostas, essas novas informações passam a gerar novas perguntas: “Eu agora tenho a capacidade de subir esse muro. Será que eu tenho direito de subir esse muro? E porque eu quero subir esse muro?”.

3.      Quais as principais coisas que te impedem de ter um bom desempenho/de executar os movimentos/de superar os obstáculos?

Nada me impede. É justamente isso que o Parkour irá te ensinar o tempo inteiro. Que os problemas que te forem apresentados precisam de solução prática e eficiente. O Parkour é um caminho para resolver esses problemas. Se sua intenção for passar um muro mais alto que você: treine para ser capaz disso. Se sua intenção for atingir a meta da empresa: trabalhe em dobro para alcançá-la. Se você está sem tempo para fazer algo importante: acorde 1 hora mais cedo ou utilize uma hora menos de internet ou de televisão.

4.      Quais seus medos no Parkour? E na vida?

Tenho muito medo de me machucar ou de me expor a perigos por conta de situações que não posso controlar. Eu tenho pleno controle de meu salto. Mas até que ponto pode-se confiar na aderência do muro? Na solidez da parede? Na direção do vento? No barulho que pode ser executado durante minha movimentação? Essas variantes externas devem ser sempre levadas em consideração e por maior que seja sua habilidade, elas sempre irão existir e te influenciar. É meu dever entender o momento oportuno, a situação correta e o julgamento do que devo fazer ou não. Eu não posso errar nesse julgamento, assim como tenho certeza de que não errarei na minha movimentação.

Na vida, tenho muito medo de me tornar dependente de outras pessoas, sobretudo para atividades físicas. Convivo com pais que estão ficando idosos e tenho minha avó morando comigo já a 15 anos. Não quero ter que passar por situações onde até para defecar e urinar eu precise de ajuda. Quero ser um idoso ativo, com o máximo de saúde que for possível e executando tarefas simples sem nenhuma dificuldade. Meu maior medo é ficar impossibilitado de ação.


5.      Quais os medos que persistem hoje e que existiam na infância?

Aos 12 anos eu caí de um telhado e me machuquei bastante. Hoje ainda, mesmo com todo controle que tenho, eu tenho muito medo de cair. Nas circunstâncias da minha queda, o telhado cedeu. Tenho muito medo de a barra que me apoio ceder, o muro cair ou o telhado desabar de novo. Porém, o medo não tem me paralisado. O Parkour aos poucos tem me feito encarar o que é preciso para que esse trauma não me torne inerte.

6.      Qual época da sua vida você acredita que sentia mais medo/mais ansiedade? Por quê?

Na adolescência. Porque havia a necessidade de auto-afirmação, de mostrar aos demais que eu valia algo e de que seria proveitoso para eles andarem comigo ou estarem comigo. Fora isso eu fazia parte da seleção de um esporte altamente competitivo (Ginástica Artística). Minha posição de destaque necessitava um feedback das minhas habilidades e isso gerava uma ansiedade incrível diariamente; porque eu precisava demonstrar resultados. Eu era alvo de atenção e tinha que corresponder à altura. E eu queria essa atenção. O Parkour jogou todos esses valores para cima e eu dou risada quando lembro de algumas passagens de minha vida.

7.      Quais os medos mais intensos e mais persistentes no Parkour?

O de que a sua vida depende de você. Que uma movimentação certa, por mais consciente que seja, pode dar errado por fatores externos. Que um erro seu pode te trazer sequelas para o resto da vida e trabalho extra para aqueles que você ama. Então, por esse motivo, treinamos para nos tornarmos mestres nessas habilidades. Para que os riscos sejam reduzidos e deixem de nos amedrontar tanto.

8.      O que você acredita que originou esses medos? O que poderia ter causado eles?

Uma vez que você começa a treinar, a sensação de liberdade motora é inexplicável. Você as vezes se sente um super-herói ou um passarinho que descobriu as asas. Um novo mundo é aberto para você diferente de tudo aquilo que as pessoas ao seu redor experimentam. Então a possibilidade de voltar a ser como “as demais pessoas na rua” amedronta. O medo de voltar a ter a mobilidade básica dos seres humanos ao nosso redor (que hoje alguns nem se quer sabem mais o que significa “correr”) assusta. O que teria causado seria os altos índices de morbidez e de sedentarismo explícitos pela mídia dia a dia. O ser humano tem perdido o seu potencial motor de geração a geração. Eu não quero contribuir com a involução da minha espécie.

9.      Quais as consequências desses medos? No que eles te impedem e no que eles te impulsionam?

Com o Parkour aprendi que o medo pelo medo é um fator paralisante. Ele te prende a uma condição mental que se não administrada te fará desistir e se frustrar. Então aos poucos você entende que o medo é somente uma ferramenta de bom senso, criada por suas convicções, e que ela está ali para te ajudar a pensar e não para te impedir de agir. Hoje aprendi a transformar o meu medo em energia de ação. Se tenho medo, tenho que descobrir porque tenho medo e o que posso fazer para diminuí-lo. Meu medo tem fundamento? Se não, vamos adiante. Se sim, qual sua origem? O que posso fazer para criar em mim o necessário para superá-lo? E é isso. O constante diálogo entre o “onde estou” e o “onde eu quero chegar”. Parkour é uma ferramenta absurdamente eficiente para te ensinar a agir.

10.   O que você faz para enfrentar/ como você enfrenta esses medos?

Analiso-os. O Parkour é uma ferramenta de autoconhecimento. Se tenho medo de saltar de um muro para o outro, porque tenho esse medo? De o muro desabar? Analise-o antes. Da minha mão não segurar com firmeza? Fortaleça-a antes. Do meu corpo não suportar o impacto? Torne-se uma muralha de força. A expansão do progresso pessoal, tanto físico como mental, é uma dádiva para aqueles que praticam. É reconfortante compreender que quando você elimina todas as possibilidades de algo dar errado, através do seu trabalho, o medo desaparece sem que você note.

11.  Dessas estratégias, quais você utiliza na vida em geral?

A de fortalecimento constante. Treino até o ponto de ser impossível errar o que estou fazendo e de modo que eu posso confiar completamente e inteiramente nas minhas habilidades e força. Se for preciso me segurar durante 10 segundos em um braço só? Eu o farei. Se for preciso segurar o peso do meu corpo com somente as pernas saltando de 4 metros de altura? Eu conseguirei. Eu treinei para isso. Essa certeza de acerto devido ao treinamento árduo é recompensada com a confiança para não ter medo. Seu corpo é o seu maior aliado quando você tem conhecimento do que é capaz e em que nível físico se encontra.

12.  Seu(s) parceiro(s) de treino tem alguma influência nos seus medos ou no enfrentamento deles?
 
Os meus, pessoalmente, não transmitem os medos deles para mim. Eles já sabem do que sou capaz ou não e da minha linha de pensamento. Então por mais que para eles o que estou prestes a fazer seja um absurdo, eles compreendem que se eu me prontifiquei a fazer é porque é o momento certo e eu já tenho todas as peças do meu quebra-cabeça resolvidas. Por outro lado, mesmo tendo confiança no seu treinamento, as vezes a dúvida e o medo te paralisam. Quando isso acontece, as vezes, um amigo que te conhece, por estar ali ao seu lado e ter ciência de que você treinou já o suficiente, ajuda muito. O incentivo é fortalecido quando se passa por problemas juntos e os resolve juntos. Ganha-se uma nova energia.

13.  Quando você decide executar (ou tentar) o movimento, você o faz por acreditar estar preparado ou por saber que é possível fazê-lo?
 
Faço porque ESTOU preparado e é possível EU fazê-lo. Nem sempre o que é possível é alcançado por qualquer um. Cada ser humano é individual e com características próprias. O que posso compreender é que: se é possível, eu posso treinar e conseguir. Aquele que usa o argumento de que “é possível”, para se arriscar sem ter maiores incentivos para isso, é um imbecil. Coloca sua saúde em risco por querer satisfazer o ego.

14.  Geralmente, você se machuca por medo de executar o movimento ou por falta de técnica?  
Nenhum dos dois. O praticante de Parkour deve treinar para não se machucar. Nunca. Quando isso acontece, no geral, não é por erro de execução em si ou por falta de técnica, mas sim por falta de atenção e foco ao que se faz. As movimentações que realizo ao me machucar já foram repetidas “em treinamento” por centenas e milhares de vezes. O que mudou e me fez cair ou me machucar foi o meu estado mental e equilíbrio psíquico.

15.  Qual a importância do medo no Parkour?

Essencial. Sem o medo seríamos incapazes de calcular onde nossas falhas se encontram e onde temos que trabalhar para melhorar. Além disso, não existem super-heróis. Haverá movimentações que é simplesmente impossível de se realizar. O impossível existe. Não é uma questão de opinião.  Não adianta acreditar em positivismos, fortalecer a perna e encarar uma aterrissagem saltando do décimo andar para o asfalto. Isso é impossível de se ter um sucesso; você pode treinar o quanto você quiser. É uma impossibilidade física e humana. Conviva com isso. O medo é o sustentáculo da sua razão: até onde você pode ir com a condição que tem? O importante é somente não se deixar mesurar por ele.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Vovó, Por Favor, Durma.





“Você viu as galinhas do tanque de minha vó Jovina?”.


Eu queria ter visto e saber do que a senhora esta falando. Nesse momento em que sou somente eu e a senhora, em um quarto escuro, eu baixo minha cabeça e me permito rezar um pouquinho porque sei que a noite será bem longa. É uma provação?

Acenda esse candeeiro aí pra você não morrer de frio. Ele te esquenta.”

Eu não preciso de calor ou iluminação. Eu tento todo dia ficar mais forte e embora eu ainda não tenha chegado lá, eu já tenho muita energia. Eu queria muito dividi-la com a senhora agora. Sei lá, eu devo ter o quê? 5 ou 10 vezes mais do que o meu corpo precisa para continuar funcionando de forma normal? A reserva da senhora parece já estar no fim. Se pudesse com meu amor repartir esse poder: eu seria um candeeiro para esquentar a sua mente e clarear essa nuvem de confusão. A senhora iria perceber que eu estou aqui do seu lado. Mas não posso. No momento só espero paciente o dia nascer e sua debilidade acabar.

“Vamos lá espiar o que os meninos estão fazendo? Será meu deus que os meninos estão se comportando?”

Agora já é 02h30min da manhã. Eu posso ficar sem dormir, mas a senhora não. Durma, por favor. Pare de conversar com quem não esta aqui e de reviver histórias de outros tempos. Seus meninos já estão grandes e adultos: cada um em sua casa e com sua própria família. Durma que vai te fazer bem. Não se agite demais se não sua pressão sobe ou a sua glicose desce. Não! Não tente descer da cama! Eu não vou deixar! Pode reclamar que eu não vou obedecer a suas ordens!

"Você sabe onde está Elias? Será que ele está em Aquidabã?"

Eu também sinto a falta dele, mas ele não esta mais com a gente já faz muitos anos. Porque eu não herdei toda grandiosidade deste homem? Ele sempre te compreendeu e soube como te agradar em todos os momentos difíceis da sua vida. Mas eu não sei mais o que posso fazer além de ficar aqui do lado da senhora. Espero que ele esteja do meu lado neste momento também, me passando de longe energia para te ajudar. Ele sempre te amou tanto e eu a ele e a senhora. Às vezes queria que a senhora dormisse e não acordasse mais... Sua tarefa já foi cumprida e a senhora não tem maiores feitos a realizar. Se a senhora dormisse eternamente...  Elias te abraçaria de novo e a senhora estaria em paz e mais feliz do que nunca... 87 anos já é muito... Talvez eu esteja pecando e cometendo uma falta grave em pensar essas coisas, que Deus me perdoe e que a senhora me desculpe.

"E eu nem sei se mãe checou a proteção das galinhas? Amanhã vai tá tudo morta."

Já deu 4 horas e daqui a pouco outras galinhas e galos irão começar a cantar. As que a senhora fala pertence a um tempo distante e que não existe mais. Mas como fazê-la se libertar dele e voltar à realidade? Não são as galinhas que estão morrendo, mas sim a mente da senhora. A senhora desistiu de viver e se entregou a desintegração do seu corpo. Me dói muito vivenciar isso e ficar impassível enquanto a velhice come seus músculos e sua vitalidade.

"Não está com dor de estômago não? Se tiver, pega aqueles frangos, dá um jeitinho e come com galinha assada."

Não é desse alimento que eu preciso, droga! Meu estômago só dói pela impotência de não poder fazer nada. Aqui! Chegue! Vou deitar no colo e segurar a mão da senhora. Eu sei que quem deveria te confortar era eu, mas agora sou eu quem está precisando.

"Você sabe se Ziza está dormindo? Mas eles tem chegado na casa de Tia Mariquinha, né?"

Sim, sim. Ziza, onde quer que esteja e quem quer que seja, já deve estar dormindo porque o dia nasce daqui a pouco. A senhora deveria tentar dormir também. Por favor Deus, faça-a dormir!  Eu não vou sair daqui. Velarei o sono. Eu sempre penso muito na felicidade e em como ela se manifesta e agora me pergunto se a senhora ainda é feliz...  Será que a minha mãe passará por isso também? Então eu não posso deixar que ela sacrifique mais uma noite enquanto eu estou em casa, sou mais forte e posso fazer isso. Ah caramba...  Não é justo, mas infelizmente eu vou ter que acordá-la: “Mãe? Mãe? Ela quer ir pro banheiro.” - “Mãe? Mãe? Vá dormir eu fico”.

"Tio Janjão morreu? ..."

Enfim a senhora esta se acalmando e parando de falar. Obrigado Deus. É com felicidade que vejo a senhora fechar os olhos. Que assim permaneça. Boa noite, vó! E durma bem. Amanhã a gente acorda de novo e continuaremos vivendo.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Eu aprendi o Kaioken!



Desde uns meses para cá, aprendi a dedicar um pouco do meu tempo a arte da meditação. Sempre fui bastante curioso quanto a isso e quais os benefícios reais que ela poderia me trazer.

No início, somente ficava em silêncio (ou ao menos eu tentava, né?). O problema é que minha mente faz tanto barulho quanto uma escola de samba! O método que desenvolvi para me silenciar foi desviar toda a minha atenção para algo único que eu queria ter entendimento e compreender: a origem de um som, a direção do vento, o contato físico que o meu corpo fazia com as superfícies a minha volta e assim por diante. Com o tempo aprendi que eu era capaz de fazer isso mesmo de olho aberto: direcionar minha atenção para o que eu queria, de fato, enxergar.

Nada de pensar no vazio... Nada de imaginar campos... E nem de visualizar cores... Isso não funciona comigo. Os processos de anulação, a meu ver, só funcionam quando você já é bastante experiente em detectar todos os barulhos mentais que seu cérebro gera. Tendo conhecimento deles, de onde eles vem e o efeito que causam, aí sim eu vi que eu seria capaz de aprender a ignorá-los. A atenção exige bastante energia, a desatenção exige liberação. Os dois processos são bastante complicados de se assimilar e eu me demorei bastante neles.

O ponto que quero chegar é que, enfim, eu descobri e desenvolvi uma maneira muito prática de se utilizar o que aprendi com a meditação. Talvez isso tudo pareça loucura a primeira vista. Confesso que para mim esta sendo bem confuso também transmitir as sensações em palavras, mas vou tentar fazer o meu melhor aí embaixo.

Aos poucos, e bem lentamente, eu percebi que meu estado físico e minha sensação de humor e mental eram gerados pelo cérebro e “o barulho” da minha mente. Em exemplo para que fique mais claro: quando você presencia uma injustiça, a raiva que é gerada dentro de você é unicamente gerada por você. Não foi diretamente a injustiça que provocou sua sensação. Foi você. Você continua sendo o mesmo de minutos anteriores, o que muda é a forma como interpreta e encara a informação que recebeu. Dessa forma, esta, unicamente, dentro de você, a chave para se manter centrado, calmo e neutro. Não é errado deixar sua mente multiplicar e fazer surgir suas sensações, mas é previdente e interessante saber que você pode desenvolver certo controle sobre isso.

Não pense que foi fácil, chegar a essas conclusões. Muito pelo contrário. Tive que bater minha cabeça na parede muitas vezes e fiquei furioso e puto em um monte de outras. Mas ao final eu sinto que fui bem recompensado.

Você já se viu em uma situação em que, enquanto estava dormindo, um barulho muito grande te acordou? Se sua sensação for a mesma que a minha, quando isso aconteceu seu corpo saiu do estado de dormência para o ápice de sua atenção. Dá pra sentir, de imediato, o gosto do ar e a textura do chão. Pois agradeça aos seus hormônios. A adrenalina e a serotonina são os principais responsáveis por você adquirir essa rápida resposta de seus sentidos e a rápida avaliação da situação em que se encontra. Tudo em questão de centésimos de segundo.

Se chegou até aqui você deve estar curioso e se perguntando aonde esta a prometida aplicação prática da meditação que eu afirmei ter encontrado... Acalme-se, gafanhoto, e respire fundo. É que eu precisava ter certeza de que tem os dados certos para que eu não seja chamado de louco nos próximos parágrafos (embora não faça nenhuma diferença em mim se isso acontecer).

Eu queria ter algum método de comprovar cientificamente ou biologicamente, mas eu acho que eu aprendi a disparar conscientemente a adrenalina e a serotonina no meu corpo. O fato é que, sempre antes de fazer uma movimentação em que eu esteja um pouco inseguro ou então que tenha um grau de dificuldade elevado, eu aperto um gatilho com minha mente. De imediato meu corpo é invadido por uma onda que amplia meus sentidos, potencializa minha força, canaliza minha atenção e me fornece tudo aquilo que preciso para concluir minha tarefa com êxito. Isso ficou bastante claro e mais evidente nos meus treinos de precisão e cat-leaps. Antes de fazer um que seja arriscado e que me coloque em perigo caso eu falhe, meu corpo sempre oscila bastante e eu me movo muito no mesmo lugar. Quando disparo esse gatilho, automaticamente tudo se clareia e surge uma decisão pronta. Meu cérebro dá um solavanco, minha pupila eu tenho certeza que dilata e a quantidade de oxigênio no meu sangue e músculos aumenta. Eu sinto isso! Ou então eu criei o mais eficiente dos efeitos placebos.

Eu já testei esse sistema de gatilho em outras situações como, por exemplo, cochilo durante um filme. Eu quero assistir o filme, mas estou caindo de sono. Basta disparar meu kaioken e eu estou acordado como se o sono não tivesse existido. É como uma lufada de vento que mandou uma nuvem escura bem pra longe. O mesmo acontece com minha disposição ao levantar da cama. Basta um comando do meu pensamento e voilá! O arrepio e a descarga elétrica percorre o meu corpo inteiro e me deixa “ligado e ativo".

Outro fato interessante é que eu percebi duas coisas:

1 – O efeito é passageiro. Ou seja, ele somente me concede uma janela de alguns segundos sob essa droga. Se eu for fazer dois cat-leaps seguidos e que estejam no limiar de minha explosão, o segundo não terá o “bônus” do meu kaioken.

2 – Existe um intervalo de tempo para eu soltar outro kaioken. E isso é uma coisa que me dá muita raiva porque a sensação é muito boa aí eu tento de novo e fico no vácuo... Quase dá pra ouvir uma risada maligna do meu cérebro dizendo: “Se fudeu otário, tem que encher a barrinha completa se quiser outro”.

Eu tô rindo nesse momento e sem acreditar que eu consegui escrever sobre isso. É quase 5 da manhã e eu estava justamente meditando nesta madrugada quando me veio a ideia de escrever esse processo todo. Eu já estava na cama e tive que disparar meu kaioken para me levantar dela e vir ao computador. Espero que tenha valido a pena.

Eu sou um noviço na arte da meditação, mas se tenho um conselho que posso dar é: reserve sempre um tempo para você e sua mente. Quem sabe você não aprende algo tão legal como aconteceu comigo?

*Kaioken é o nome de uma técnica desenvolvida pelo personagem Goku, da série Dragon Ball, onde ele é capaz de com uma explosão ao seu comando multiplicar o seu nível de luta durante certo período de tempo.

domingo, 21 de julho de 2013

Prudência, minha gente, PRUDÊNCIA!





Vou vender um conselho pra quem treina Parkour: Enquanto estiver treinando, além de sua movimentação procure desenvolver a sua visão (e astúcia) ao máximo para perceber se os obstáculos são frágeis ou não. Só com os olhos.

Tracer, com o tempo, passa a entender de construção quase igual a um mestre de obra: sabe o que é uma viga, uma coluna, o tipo de bloco que sai na mão, aquele que é mais firme... Mas se mesmo assim, só com os olhos, ele não for capaz de chegar a uma conclusão, a saída é uma das duas: Checar fisicamente ou desistir do movimento.
Dois fatos que aconteceram por aqui chamaram minha atenção e me fizeram escrever esse texto. Porém, nesses anos eles já aconteceram outras vezes e tenho certeza de que você que está lendo irá se identificar.

# Acontecimento 01: Um colega de treino, que é pesado e costuma chegar como um meteoro de pégasoo em suas precisões, foi checar COM UM CHUTE se o local de aterrissagem era seguro e acabou quebrando o único local que tínhamos para colocar o pé.

# Acontecimento 02. Um outro parceiro foi testar se o muro estava inteiro, colocou a mão no topo dele, puxou e a pedra de mármore caiu direto em sua cabeça. 6 pontinhos pra aprender a ser ligeiro.

Nos dois casos, provavelmente, eles não conseguiram chegar a conclusão da integridade do obstáculo apenas com os olhos. Eu quero acreditar que foi isso. Mas praticante de Parkour tem sempre a IDEIA IMBECIL de verificar se algo está seguro com voadoras, socos, chutes e pontapés. Minha gente, isso não é checagem; é destruição.

No primeiro caso lá em cima, eu fiquei bastante puto porque a aterrissagem foi destruída porque ele É GORDO E PESADO. Eu que sou magrinho e controlo meus movimentos conseguia fazer a precisão tranquilamente. Ele não fez um favor a todos. Eles fodeu com um local de treino.

No segundo caso, é prudente sim você checar a consistência com a mão. MAS TIRE A CARA, A CABEÇA, O ROSTO E O RESTO DO CORPO DA FRENTE. Se você está querendo ver se o obstáculo quebra, puxando em sua direção, VOCÊ TEM QUE ENTENDER QUE SE ELE QUEBRAR ELE VAI DIRETO NA SUA VENTA, DEMÔNIO!

Do que adianta você treinar com prudência para não se machucar durante os movimentos e cometer uma asnice como essa? Aprenda que a força só deve ser usada quando você tiver um propósito justo e for fazer bom uso dela. Do contrário, não vandalize e não se vandalize.

Você me deve um real.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A Aventura do Parkour (Por Dan Edwards)



Eu não podia passar por cima desse texto sem deixá-lo disponível para quem não sabe inglês. Tentei usar meu coração na tradução de cada frase para que o resultado final fosse o mais fiel ao sentimento que o Dan deve ter experimentado ao escrever.

O que é Parkour? Com vocês, a melhor resposta que já ouvi.


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A Aventura do Parkour         
(The Adventure of Parkour)

Autor: Dan Edwards
Tradução: Eduardo Rocha (Duddu)

O que é Parkour? Para mim é simples. É a arte de um guerreiro. Que requer tudo o que você tem e sem desculpas. Que espera o seu melhor e não aceita menos que isso. É uma jornada pessoal em busca do auto-aperfeiçoamento, da sincera auto-expressão e realização. É uma arte que nasceu da experiência visceral de viver no mundo real. Não um show.

Ele pode ser difícil; implacável na constante avaliação de si mesmo, de suas habilidades, de sua força e de suas fraquezas mentais e físicas. É um desafio aceito cada vez que você sai para treinar. Ele pode ser brutal. Não científico; politicamente incorreto; uma avaliação constante de quem você é através do desafio e das adversidades.

Tenha sucesso nessa prova e será recompensado com um profundo conhecimento de quem você realmente é. Ele irá te revelar fatos sobre você que até então eram desconhecidos.

Ele irá te fazer perguntas difíceis; irá revelar os seus pontos fracos; irá te indicar as partes que estão quebradas. E então será exigido que você as conserte e que construa sua força justamente em cima desses pontos. Não importa suas desculpas, seu senso de mediocridade ou falhas. Ele sabe que você é muito mais forte do que acredita.

Mas ele também pode ser divertido. Libertador como nada mais será. Imponente. Genuíno. Ele tem o poder de te reconectar com aquela parte adormecida de você mesmo, aquela que descansa obscurecida pelo medo, pela inércia, pela submissão e conformidade. É algo puro. Para compreender quem você é no Parkour, você deve encontrar a harmonia entre corpo e mente, o equilíbrio entre ter o controle e se render.

É desafio. É descoberta. É experimentação. É expressão. É inovação. É adaptação. É a grande aventura. É tudo e não é nada.

É a vida, te dando um empurrão. E você tem que empurrá-la de volta.

Texto Original:
http://www.parkourgenerations.com/node/9184

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Treino Não Convencional - Lavar Pratos





Desde que a senhora que trabalhava aqui em casa se demitiu (acho que porque é muito difícil me suportar), eu e minhas irmãs ajudamos no trabalho doméstico. Minha tarefa mais comum é lavar os pratos da manhã e os da tarde. Como eu odeio re-trabalho, minha mãe deixa eu juntar os pratos dos dois períodos e lavar tudo de uma vez.

Para que o processo todo não se tornasse uma obrigação chata, eu desenvolvi um treino para fazer em cima dele. E é divertido e tem dado resultados! huUHAUHUHAUHAUH

O primeiro passo é olhar a pilha de pratos que você tem que lavar.
Em seguida, tente adivinhar o tempo mínimo que você gastaria para dar conta de tudo.

20 minutos?
Ok. Então em seguida monte uma playlist com músicas que totalizem esses 20 minutos.

Lave os pratos desenvolvendo meios de economizar o tempo e acabar o processo todo em cima, ou antes, dos 20 minutos. Seria idiotice dar-se mais tempo que o necessário ou então lavar tudo feito a sua cara! Minha mãe, se não estiver satisfeita com minha lavagem, devolve os pratos pra pia e eu tenho que lavar tudo de novo! Então não tente se auto-sabotar, mas opte sempre pelo mínimo de músicas e, conseqüentemente, o mínimo de tempo.

O que você ganha com isso?
Além da sua mãe ficar com a sensação de que você é um filho exemplar?
E de você ter executado uma tarefa chata com diversão?
(E do monte de traceuse que agora vai querer casar comigo?)

Eu tive que desenvolver métodos de economia de tempo e otimização da tarefa.

Por exemplo:

Você lava os copos, os talheres ou os pratos primeiro? Qual desses precisa de mais água para amolecer a sujeira impregnada? Os que você julgar que precisam de mais água deveriam ser deixados no fundo da pia para receber a água dos demais utensílios que forem lavados antes e agilizar o processo de esfrega...

Quanto de espaço você tem? Então o que seria melhor lavar primeiro, tendo em vista que isso tudo irá ocupar espaço e te impedir de se mover com fluidez? Eu lavo primeiro as coisas grandes porque elas se tornam recipientes para as coisas pequenas e elas me deixam ver o restante de coisas que estavam escondidas por baixo.

Com o tempo você vai se tornando meio ninja e resolvendo quebra-cabeças como esses com a maior naturalidade.

Acredito que, em termos de eficiência, resolver esses enigmas ative o mesmo processo dedutivo que me faz escolher entre saltar um corrimão ou passar por baixo dele. Que técnica você escolhe para descer de um muro quando não sabe o que te espera do outro lado? O caminho é por aí...

Opte sempre pela segurança (lavar os pratos direito) e pela eficiência (antes da música acabar). E tente sempre achar um jeito de fazer melhor, mesmo que a forma como você já execute seja legal!

Essa pilha de pratos da foto... eu acabei de lavar! Ela tava enorme porque hoje o povo daqui da casa comeu que nem um bando de animais! Infelizmente hoje eu perdi porque calculei que gastaria 16 minutos e levei 17:35. Droga! Amanhã eu dou o troco e faço tudo melhor!

sábado, 1 de junho de 2013

Ô, Anda, Júlia! (Rotina de Treino)



Esse treino foi criado pra uma amiga minha, traceuse de lá de São Luiz, no Maranhão. Ela estava meio parada nos treinos por causa de uma lesão, e quando tentou retornar com tudo viu que o corpo dela tava um lixo. Aí a bichinha, sagaz, veio me pedir uma rotina de treino que ajudasse ela a se fortalecer novamente. Nas palavras dela:

"Eu queria um treino pra perder calorias, ganhar velocidade, resistência, força e que seja um treino efetivo pro Parkour, algo que nos deixe (eu e a minha mãe) quebrada no dia seguinte."

Pois bem minha querida, te apresento o "Ô, Anda, Júlia!"

Espero que ele faça jus ao que você precisa aí nesse sol que é escaldante até pra mim que sou nordeste. Bjãozão pra você e pra sua mãe!

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Ô, Anda, Júlia!

Rotina simples de resistência, fortalecimento e equilíbrio
idealizada para Júlia realizar com sua mãe.


  • ·         Alongamento livre: cerca de 10 min

Mãos, cotovelos, braços e ombros.
Cintura.
Tornozelos, joelhos e pé.

  • ·         Corrida: 10 min

Use um cronômetro pra marcar o tempo porque normalmente nosso corpo tenta nos enganar. Tente correr todo o tempo controlando sua respiração para que não sinta “dor de facão” e de preferência sem tocar o calcanhar no chão. Depois de 5 minutos de corrida, procure por alguma marca (uma lixeira, um poste, um banco...) e faça um pique até ele (de preferência que essa explosão dure de 7 a 10 segundos). Quando atingir o objetivo, volte pro ritmo normal (sem parar de correr por nada nessa vida). Espere sua freqüência cardíaca e respiração normalizar e continue o restante da corrida. Quando o cronômetro marcar os 10 minutos, realize um último pique como o primeiro e ao final reduza a marcha gradativamente até parar de vez.

Finalizou, recupere o fôlego por no máximo 3 minutos.

  • ·         Sequência “Na lua, no peito e no chão”. (Quadrupedia com saltos)
 
Esse exercício será dividido em três blocos e é importante que você o realize nessa ordem.

Bloco 1: Realize 20 passos de quadrupedal de costas. Finalizados, imediatamente salte para cima com braços e pernas esticados tentando topar a sua mão na lua. Aterrisse lembrando-se sempre de chegar ao solo com as pontas dos pés e jamais o calcanhar.

Bloco 2: Comece a andar no quadrupedal para frente e contabilize 20 passos. Ao finalizar, realize agora o salto mais alto que puder tentando trazer o seu joelho para o peito. Retorne ao chão na ponta dos pés. E toque as mãos no chão. E fique agachada.

Bloco 3: Jogue as duas pernas para trás para deixar seu corpo totalmente esticado na posição de flexão. Em seguida, aproveitando a explosão, traga as duas pernas de volta para o meio dos braços e realize o salto esticado para tocar na lua. Realize o exercício 5 vezes com o salto esticado e 5 vezes com o salto trazendo o joelho pro peito.

Descanse por no máximo 2 minutos e faça tudo novamente.

Concluído esses 3 blocos, duas vezes, você terá feito:

40 passos no quadrupedal de costas
40 passos no quadrupedal de frente
20 transições completas do agachamento para a flexão
12 saltos esticados “tocando na lua”
12 saltos grupados “joelho no peito”

Descanse seus merecidos 2 minutos antes do próximo exercício. (Tente relaxar o máximo os braços e as pernas nesses dois minutos, balançando-os).

OBS: No quadrupedal tente sempre sincronizar o movimento do braço com o da perna. Quando a perna que vai à frente é a esquerda, o braço que segue o movimento é o direito. Você tem que se enxergar como se fosse um gato se movendo em silêncio para roubar comida da cozinha. Tome cuidado também com a posição do quadril e da lombar para não causar dores por execução errada do movimento.

  • ·         Equilíbrio no meio fio

Ache um local para se equilibrar. Pode ser um meio-fio, uma barra, um tronco de árvore, qualquer coisa que você precise de um mínimo de esforço para se manter em pé. De preferência, um lugar onde você (ou quem estiver treinando com você) não precise se segurar em nada.

Quando estiver em equilíbrio, realize as 5 sequências uma após a outra:

Sequência 1: Ande 10 passos e levante a perna direita, esticada, o mais alto que conseguir.

Sequência 2: Ande mais 10 passos e faça o mesmo com a esquerda.

Sequência 3: Mais 10 passos, toque as duas mãos no chão e volte a ficar de pé.

Sequência 4: 10 passos e mude a direção do caminhar (faça com calma, sem pressa).

Sequência Desafio: Agache em equilíbrio e tente fazer 10 passos em quadrupedal.

Descanse por uns 2 minutos e repita a sequência completa.

O que muda na segunda tentativa é que cada exercício (elevações de perna, agachamento e mudança de direção) deve ser executada a cada 2 passos em equilíbrio. A sequência desafio continua a mesma.

Finalizou as duas sequências, descanse por 2 minutos.

  • ·         Box Jumps com Flexões

Ache um banco com altura na sua cintura (ou altura confortável). Realize 10 precisões para cima dele, começando em repouso com os pés juntos. Realize-as com calma, porém sem pausa. E não se esqueça da ponta de pé.

Acabou a série, caia no chão para fazer 10 flexões o mais rápido que puder. Caso não consiga realizar o movimento com somente as mãos e os pés no chão, faça o máximo de repetição que puder e segure 20 segundos na posição.

Realize 5 séries completas de 10 precisões com 10 flexões. Descansando o necessário para começar uma nova sequência, porém tentando se recuperar o mais rápido que puder.

Ao final, descanse seguindo diretamente para o alongamento final.

  •  ·         Alongamento livre: sem definição de tempo

Estiramento dos músculos principais. Somente para que eles voltem para os lugares corretos. Segure cada músculo que foi alongado no inicio do treino. Sem forçá-lo. Tente relaxar o máximo possível lembrando sempre de controlar a sua respiração.
  • Recomendações:

Tente realizar tudo em no máximo 1 hora.
Não beba água durante o treino.
Não pare para conversar.
Se quiser, elabore uma playlist e deixe rolando no mp4. Ajuda a relaxar.