segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O Tropeço





Tinha ido à padaria comprar um lanche. Naquele momento retornava para a empresa com um copo de café numa mão e uma sacola de pão na outra. Ouvia música no fone de ouvido, mas não prestava atenção nem na letra e nem na melodia. Na verdade, não prestava atenção em nada e também não ouvia quase nada. Era apenas mais um cara extremamente relaxado executando uma ação simples no piloto automático. De repente, no instante seguinte... POF! Nem tentei entender o que havia se colocado entre meu pé e o chão. O reflexo instintivo determinava apenas que o café não caísse.

E dessa ação, cotidiana para bípedes e quadrúpedes, surge o inquérito para esse texto: Quem é o culpado pelo meu tropeço?

Comecei a caminhar com nove meses de idade. Isso me concede 26 anos e 3 meses de experiência nesse ofício. A essa altura já deveria ser um atleta profissional. A verdade é que se analisarmos os 10 últimos tropeços que dei, cada um deles foi ocasionado por uma variável: o centímetro a mais de um degrau, o desnível em uma calçada que parecia ser plana, a pedra que estava no lugar errado na hora errada...

- Epa epa epa! O que temos aqui? Então quer dizer que estou tentando convencer a mim mesmo que existe uma culpa para a pedra, para o desnível e para o degrau? Você está tentando nos convencer que eles três, seres inanimados, são mais culpados do que a nossa escolha em ir por aquele determinado caminho? Que petulante você é!

- Não. Não é isso. Estou identificando para você, sua anta, que você não falhou com sua habilidade de caminhar nas últimas 10 vezes que tropeçou. Nós apenas fomos confrontados com uma situação não esperada e que foi negligenciada por nossa (sua) falta de atenção.

Tropeços podem ser evitados. Mas isso demanda foco, análise e concentração. Filho da puta do Parkour... novamente se intrometendo em meu dia: A energia que gastei com a passada que gerou o meu tropeço é a mesma contabilidade errada de energia que fiz ao falhar em subir um muro. Em miúdos, se pouco se dá, pouco se tem. E se você pouco tem explosão pra subir um muro, vai ter que o usar o cotovelo ou descer covardemente dele.

O tropeço da minha caminhada é o mesmo obstáculo dos meus percursos. A diferença é que quando corro do ponto A ao B, minhas atenções pertencem exclusivamente ao que estou fazendo. Não existe confiança ilimitada e nem soberba da minha parte em achar que sou um especialista no que faço e, portanto, impassível de cometer um erro.

Afinal de contas? Será que alguém caminha sem ter certeza de que vai caminhar?

Culpado! Guilhotina na cabeça e veredicto assinado! Assumo de forma livre e consciente que o tropeço foi gerado não pela pedra, pela calçada ou pelo degrau, mas por minha audácia em achar que já caminho tão bem e que por isso não precisaria mais dispor de minha atenção para este fim.

É esse mesmo alerta que devo redirecionar a todas as áreas da minha vida. Excelência é diferente de perfeição. Buscarei ser um ser humano excelente.

522 palavras só por causa de um tropeço... somos mesmo um doente, Eduardo...AOIUQPWIPUwiIQPUUOIPWOQPIPIUWUOPIw