quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Interferência do estado emocional nos treinos


Desde que compreendi o quanto poderia crescer através do Parkour, meus treinos se tornaram verdadeiros laboratórios. Sempre estou testando alguma teoria maluca inventada por mim ou então explorando conceitos que li em algum artigo ou que copiei descaradamente do treino de algum amigo.

Como tudo nessa vida, às vezes a coisa funciona pra uns e às vezes só pra outros. O que repercute na minha movimentação é como um degrau galgado. O que não, se torna aprendizado prático e teórico de onde posso tirar grandes ensinamentos (e me preparar para auxiliar melhor os futuros iniciantes que cruzarem meu caminho).

Por mais que muitas vezes eu esqueça de tomar nota e não torne público o que ando pensando ou fazendo, ser cobaia de mim mesmo já se tornou uma prática constante. E dessa vez vou relatar o que aprendi com treinos guiados essencialmente pelas emoções.

Basicamente três emoções me fazem largar tudo que eu tenha pra fazer e atender ao chamado da minha vontade. São elas: Alegria, Tristeza e Raiva!

PS: Essa série de postagens é fruto da minha vivência com os treinos diários de Parkour e de como eu reparei que eles se relacionam com o meu estado emocional. Isso não quer dizer que as coisas acontecem da mesma forma para todo mundo e muito menos que possui algum embasamento científico.

PS2: Meus últimos treinos têm sido guiados essencialmente por Tristeza e Raiva (tenho treinado todos os dias, sem pausas, desde uns 10 dias atrás). Então, propositadamente, esses serão os últimos aspectos a serem tratados para que eu consiga “me ler” com um pouco de mais clareza.

PS3: A vontade de escrever sobre isso veio de uma conversa com o Kalebe, de Florianópolis, a respeito de uma pesquisa que se encontra em processo de elaboração.

ALEGRIA

Quando recebo uma notícia muito boa; quando meu dia é uma cadeia de acontecimentos que deram certo; ou então quando simplesmente amanheci de um jeito onde arrancar o sorriso das pessoas é a prioridade. Então eu saio pra treinar em comemoração.

Apesar de parecer um convite à felicidade, aprendi a duras penas que treinar nesse estado é extremamente perigoso. A sensação de que aquilo irá durar pra sempre faz com que eu aumente consideravelmente a velocidade de minha movimentação e a irresponsabilidade dos meus movimentos. Flows que antes fazia de forma rápida, se tornam muito mais rápidos. Na verdade eu corro tanto, e fico tão elétrico, que as distâncias parecem ser mais curtas, as alturas mais baixas e surge a impressão de que qualquer coisa que eu decida fazer é possível! Consequentemente isso já me levou a lesões sérias e alguns machucados menos graves.

Em estado normal eu não costumo me machucar. Mas quem se encontra comigo nos eventos já deve ter percebido a freqüência com que eu apareço machucado neles (isso quando não assiste o machucado acontecer presencialmente). A felicidade em estar com aquelas pessoas, ou a euforia em estar num local novo, ativa esse meu lado menos cuidadoso e irresponsável. Quando estou no meu habitat natural é mais raro eu me machucar. É tanto que pessoas que treinam localmente comigo se impressionam quando, por ventura, eu recebo um tombo um pouco mais pesado.

Outra coisa que pude reparar é que treinar alegre deve fazer algo estranho com meu corpo, metabolicamente falando. Não costumo sentir fome, não sinto sede e sou capaz de treinar por várias horas seguidas, brutalmente, migrando pra lá e pra cá sem aparentar cansaço e nem cansar. Em várias situações (por exemplo: frequentemente com o Ibyanga e em todas as viradas esportivas) já passei mais de 8 horas treinando sem parar e alimentado por apenas um pão com queijo e um copo de suco ou água.

Resolvi esse problema quando decidi carregar sempre comida e bebida na mochila (às vezes ela até parece um mini-supermercado). Dessa forma, se o treino durar mais que umas 3 horas, eu me obrigo a ingerir alguma coisa (mesmo sem vontade) sem perder tempo sentando numa lanchonete ou me afastando do local do treino pra comprar.

Segue uma relação das cinco maiores lesões que já tive no Parkour e que foram causadas justamente por conta do meu estado de felicidade:

# Tendinite aguda no pulso direito
Motivo:
Usei a mão para frear o impacto de um tic-tac com cat-leap distante.
Quando: Durante minha primeira visita ao Lê Parkinho no Rio de Janeiro.
Tempo total de cura: cerca de 6 meses.

# Torção do tornozelo direito
Motivo:
Tentei dar uns 32534364 passos na parede para atravessar uma fenda.
Quando: Durante o 4º Encontro Brasileiro de Parkour em Belo Horizonte.
Tempo total de cura: cerca de 2 meses.

# Tendinite aguda no pulso direito
Motivo:
Insistência em querer usar o pulso já machucado.
Quando: Treino no pentatlo militar do 4º Encontro Brasileiro em Belo Horizonte.
Tempo total de cura: a reincidência agravou aquela primeira lesão lá em cima.

#Torção das articulações da região central do pé direito
Motivo:
Atirei meu pé com toda força numa parede para trocar a direção do flow.
Quando: Durante o 4º Encontro Nordestino de Parkour, aqui em Aracaju.
Tempo total de cura: cerca de 5 meses.

# Tendinite aguda no pulso esquerdo
Motivo:
Usei a mão para evitar que minha cara batesse numa parede após a mão escorregar num kong.
Quando: Durante os treinos com os amigos do Omnis e do Ibyanga, nas vésperas do 4º Encontro Carioca
Tempo total de cura: já se vão 2 meses e contando...

Treinar parkour causa uma sensação incrível. Fazer isso do lado dos amigos duplica essa felicidade. E se você anexa isso a sua sede de desbravar um local que tão cedo não poderá utilizar novamente, você têm uma bomba caseira de lesões pronta para explodir na sua mão... pé... joelho... tornozelo...

Sejamos felizes, mas prudentes.