segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Aprendizados Para o Ensino I



Até onde você pode exigir de seus alunos numa aula de Parkour?

Ontem fui um dos instrutores do GTreino, grupo de edificação e proteção aos valores do Parkour ao qual pertenço. Após apresentados, dividimos os grupos (4 de aproximadamente 10 pessoas) e revezamos os alunos em estações especificas puxadas por cada um de nós.

Meu treino consistia de uma série de desafios: desafios de velocidade, tempo, limitação e persistência. Estabeleci metas individuais e em grupo e incentivei-os a cumpri-las. Quando o último dos grupos chegou as minhas mãos, eles já estavam alerta do que ia acontecer porque viram três grupos antes serem incentivados por meus gritos e nego correndo pela vida.

Ao apresentar a última parte do treino disse:

- Bom. Vocês tem 15 segundos, contados por mim, para realizar o seguinte trajeto: corre, sobe muro, corre, sobe muro, passa arvore, sobe degrau, corre, desce muro, desce muro e volta. Se serve de consolo até agora ninguém conseguiu completar nesse tempo.

Eles se empolgaram. Era tudo bem em cima de parkour+velocidade+flow e notei que eles não tinham muito costume de treinar assim... sob pressão. O melhor sucedido terminou em 16 segundos e morrendo. Como viram que estavam dando de tudo e não surtia efeito para diminuir desse tempo, um corajoso jogou a bola pra mim (e foi em seguida super-apoiado pelos demais):

- Duddu, você consegue?

Notei que a pergunta não era movida somente por curiosidade. Eles não sabiam que eu tinha ido sozinho, mais cedo, testado tudo que iria pedir pra eles e estabelecido meus próprios limites para servir de base para criar a oficina.

- Consigo.

Daí a galera toda começou a contar meus 15 segundos. Terminei em 14 e pouquinho e isso porque escorreguei numa peste de uma folha (em um dos meus testes eu bati 13).

O que percebi: Não vejo problema algum em você dar aula e ensinar o que não é capaz de fazer. Até porque chega um momento onde o discípulo supera o mestre. Mas se você exigir de seus alunos algo que eles considerem "impossível", eles irão desacreditar no treino que você propõe.

Quando me viram concluir o trajeto, sem morrer e com folga, o rosto deles dizia claramente "Caralho, dá pra fazer mesmo. Eu só não consigo ainda!". E isso torna-se perspectiva pros treinos futuros deles.

É extremamente importante elaborar o treino com antecência ou ao menos ter noção do que será feito (e os desvios que podem ocorrer no "durante"). Do contrário, você pode ferir o bom senso dos praticantes e acabar criando uma descredibilidade tanto para você quanto para ele.

Um comentário:

Raíssa disse...

Achei interessante quando vc postou esse texto no Facebook.
Mas eu acho que tem outras maneiras de ensinar sem que o iniciante se sinta "inferior" a você.
Eu entendo que a intenção não é mostrar o quanto você é mais rápido que aqueles que você está instruindo, mas não dá pra controlar como eles vão ver essa situação (alguns podem ter a mesma visão que você, mas va que 1 ou 2 não compreendem dessa forma)
E já fiz muito disso, de dar o exemplo, mas atualmente evito.
Hoje, eu acho bacana ao invés de estabelecer referencias externas para o aluno (a referencia seja: eu, outro professor ou praticante), mas que ele encontre referências nele mesmo.
Ao invés de colocar um tempo que você sabia que fazia, colocar metas que saberia que eles podem alcançar.
Ou ainda dar oportunidade deles fazerem 3 ou mais vezes e tentarem diminuir o tempo deles mesmos. Uma competição consigo mesmo e não com uma referencia que não sejam eles próprios.
Não sei se me fiz entender, e aliás, quem sou para falar o que é certo ou errado, mas acho bacana comentar outras possibilidades para alcançar o mesmo objetivo.

:)