Sangue que eu ainda deixei escapar. Droga!
Estávamos em um grupo de mais ou menos 10 pessoas treinando
na ferroviária. Para quem não é de Aracaju, esse local esta abandonado a cerca
de 20 anos e hoje serve apenas de esconderijo para usuários de drogas e bandidos.
Era nosso primeiro treino oficial por lá. Durante toda a tarde, fiquei com os
sentidos alertas caso fossemos abordados por alguém reclamando de nossa
presença. Felizmente não fomos (apesar de uma viatura da polícia ter passado
por perto e nos encarado).
Ficou escuro e decidimos pegar as bicicletas e voltar para
casa. Quando chegamos na avenida, escutamos um barulho de derrapagem e
assistimos quase aos nossos pés uma moto atropelar um homem de bicicleta. A
confusão de corpos e ferro no ar, se não fosse a seriedade da situação, poderia
ser apreciado como uma obra de arte. Em meio a tanto caos, você identifica
corpos e ferro em um balé brilhantemente coreografado.
Quando os dois homens enfim caíram no chão, a ação de todos
nós foi instantânea. Largamos tudo: bicicletas, mochilas e corremos em direção
a eles.
Minha primeira reação foi checar o senhor da moto. Em
questão de segundos vistoriei o corpo dele atrás de anomalias graves e não as
encontrei. Pelo que pude notar ele só havia se arranhado bastante e apresentava
aquelas marcas brancas, típicas de pele e carne comidas pelo asfalto.
Virei o rosto para checar o senhor da bike e quando ele
tentou ficar de pé vi uma torneira de sangue jorrar da panturrilha dele. Sem
brincadeira. Parecia que haviam decepado a perna dele com uma espada como naqueles
filmes japoneses. O sangue espirrava a cerca de meio metro do corte. Entendi que
precisava fazer alguma coisa e rápido. Corri até ele e vedei o buraco com
minhas duas mãos. Fiz uma varredura rápida com os olhos e, apesar do cara ter
um sangramento que não aparentava ser grave na cabeça, aquele ponto que eu segurava era sim o de
maior lesão e onde eu podia ser mais útil. Decidi que iria ficar ali tapando o buraco quanto tempo precisasse.
Apoiei minha cabeça na perna dele e pressionei com força. As pessoas curiosas começaram a chegar e eu tive visão clara do que o Parkour Aracaju fazia naquele momento:
Monique, Tárcio e Do Vale estavam em pé e sinalizando o tráfego para que diminuíssem a velocidade. Leury, Gabriel, Ícaro e Victor estavam servindo de suportes, ligando para a emergência, entrando em contato com os familiares das duas vítimas e reunindo os nossos pertences que estavam espalhados na avenida. Aquiles segurava o joelho do motoqueiro no lugar e pelo que pude ver a distância parecia que ele tinha uma fratura ali. E Rafa, que estuda psicologia, começou um trabalho magnífico de acalmar as vítimas e evitar que eles dormissem (o cara que eu segurava, começou a se tremer muito e reclamar de frio).
Apoiei minha cabeça na perna dele e pressionei com força. As pessoas curiosas começaram a chegar e eu tive visão clara do que o Parkour Aracaju fazia naquele momento:
Monique, Tárcio e Do Vale estavam em pé e sinalizando o tráfego para que diminuíssem a velocidade. Leury, Gabriel, Ícaro e Victor estavam servindo de suportes, ligando para a emergência, entrando em contato com os familiares das duas vítimas e reunindo os nossos pertences que estavam espalhados na avenida. Aquiles segurava o joelho do motoqueiro no lugar e pelo que pude ver a distância parecia que ele tinha uma fratura ali. E Rafa, que estuda psicologia, começou um trabalho magnífico de acalmar as vítimas e evitar que eles dormissem (o cara que eu segurava, começou a se tremer muito e reclamar de frio).
Parecíamos uma equipe de resgate! Todos estavam ali para
ajudar, executando a tarefa que podiam e tentando somar para o bem estar de
alguém que não conheciam.
Minha pegada na mão começou a ficar cansada e quando aliviei um pouco o sangue voltou a espirrar bem forte. Fui mexendo os dedos bem devagar até sentir de onde exatamente o sangue jorrava e quando o encontrei concentrei minhas forças ali. Era impressionante a violência da pulsação, o que me dava a certeza de que eu não podia de jeito nenhum deixar aquele sangue sair.
Minha pegada na mão começou a ficar cansada e quando aliviei um pouco o sangue voltou a espirrar bem forte. Fui mexendo os dedos bem devagar até sentir de onde exatamente o sangue jorrava e quando o encontrei concentrei minhas forças ali. Era impressionante a violência da pulsação, o que me dava a certeza de que eu não podia de jeito nenhum deixar aquele sangue sair.
Fiz pressão na panturrilha dele durante cerca de 40 minutos
(isso mesmo... o resgate levou 40 minutos para chegar...). Quando chegaram, a
socorrista era a mesma que socorreu minha avó quando ela caiu em nossa casa.
Ela se aproximou de mim, pediu para eu largar a perna dele e quando a torneira
de sangue voltou a abrir ela usou um kit médico para rapidamente estancar.
Se já estava muito orgulhoso de nossa ação, imagina como fiquei
quando os meninos me contaram o que ouviram duas senhoras falarem:
“Ah meu deus, são os doidos que estavam pulando na ferroviária. Eu vi eles mais cedo e agora são eles que estão socorrendo. Deus proteja esse homem!”
A partir desse dia, tenho certeza que seremos melhores
vistos naquela redondeza e poderemos treinar com menos receio de ser
confundidos com malfeitores.
Depois, pensando friamente, vi o quanto eu havia sido imprudente ao entrar em contato com o sangue de um desconhecido sem antes ter me precavido. É uma atitude que talvez da próxima vez eu esteja mais esperto e não repita da mesma forma. Mas cara... Ter a oportunidade de ajudar a alguém é uma coisa
legal. Só que tomar de fato uma atitude e fazer a diferença para esse alguém é
muito mais que “legal”: é incrível!
Hoje acertamos.
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Enquanto escrevia esse texto, eu me lembrei muito do Jarbas, do Santigas, do JJ e do JC. Por motivos diferentes e pela mesma energia positiva doada, obrigado aos quatro.
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Enquanto escrevia esse texto, eu me lembrei muito do Jarbas, do Santigas, do JJ e do JC. Por motivos diferentes e pela mesma energia positiva doada, obrigado aos quatro.
10 comentários:
Nossa! Não tem como não se emocionar.... Parabéns Duddu pela ação/ reação sagaz!!!! E aos demais participantes também.. Muito orgulhoso que eu tô cara :-)
Att JJ
"Ser forte para ser útil"
Parabéns! Vcs são um exemplo.
Não tem como não se emocionar, Deus os abençoe
Parabéns Duddu e grupo, arrepiei lendo o texto. Realmente são atitudes assim que fazem diferença no mundo. É também sempre importante ter um pouco de conhecimento para não acabar fazendo besteira, mas realmente, nesse dia vocês acertaram ! Imagina se você não tivesse a pegada tão forte rs... Já vivi uma situação semelhante com um parente próximo, em que tive que estancar o sangue sozinho, aprendi muito a importancia de saber agir em momentos assim =\ Grande abraço.
Parabéns a todos vcs PARKOUR ARACAJU!
Me lembrou meu acidente, onde tive fratura exposta na canela e fiz os primeiros socorros.
Excelente ação! Agir rápido no momento certo, da maneira certa é complicado, mas faz toda a diferença.
É muito importante, para quem treina pk, fazer um curso de primeiros socorros, ajuda a saber como agir corretamente.
Parabéns pela ação rápida, pela força, espírito forte e por compartilhar!
Não tenho o que escrever, é sério. A emoção bateu muito forte em mim. Obrigado pelo exemplo Duddu e amigos Sergipanos!
Ja passei por situacao semelhante, sangue jorrando da cabeca da mulher e eu estancando e fazendo curativo (Com Luvas e os materiais do kit de primeiros socorros). Ver o pai da vitima chorando me fez pensar em muita coisa, "minha filha ta morrendo, nao deixa ela morrer", o resgate chegou depois de uns 30 a 40min tbm e ajudei a carregar a Andreia para a unidade movel....3 dias depois o pai da Andreia vindo agradecer por ter salvo a filha dele, com lagrimas nos olhos dizendo eu tinha feito a vida dele voltar a ser feliz.
Logico que eu nao queria que nada daquilo tivesse acontecido, mas pude ajudar alguem.
Parkour nao eh apenas ali nos treinos, eh para a vida. Nessas horas onde a vida de alguem esta em jogo vc tem que ser bem forte mesmo.
Parabens mano, exemplo mesmo.
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