quarta-feira, 20 de maio de 2009

"No Pain, No Gain"




Lendo o título do tópico, eu pensaria: “Agora ele vai contar o quanto tem treinado pra evoluir”. Mas não. Esse é um daqueles posts chatos que não se focam em meu treino físico, mas sim no que anda passando por minha cabeça.

Eu odeio clichês. Não suporto papagaismos e só falto morrer quando modas como “Isso é Mara” ou “Ronaldo” ganham o boca-a-boca ao meu redor. Pra mim isso é o resultado de uma mente que se deixa influenciar facilmente sem apresentar o mínimo de senso crítico.

No Parkour não é diferente. Logo a princípio, antes mesmo de ser apresentado aos aspectos da prática que realmente me apaixonariam por ela, eu aprendi que:

Eu tenho que sofrer.
“No Pain, No Gain”

Eu tenho que ser útil.
“Etre Fort Pour Etre Utile”

Eu tenho que me cuidar.
“Etre et Durer”

Claro que pra pessoas que não tem uma direção a seguir, esse mundo de frases feitas se torna uma bíblia. Eu, particularmente, nunca dei bola; sempre entrou por um ouvido e saiu pelo outro. No máximo, incorporei algo do conteúdo que achei útil, mas isso sem a supervalorização da frase.

Duas delas são oriundas do método natural de Georges Hébert. O cara era um visionário e o seu pensamento de “ser forte, ser útil e durar” ajudou a nortear tanto o rumo da educação física moderna quanto os princípios do parkour em si.

Porém, eu me recordava de já ter visto a “No Pain, No Gain” em algum lugar. Quando a ouvi no parkour, fiz uma pesquisa e constatei que ela é o pilar para várias outras atividades físicas como: halterofilismo, fisiculturismo, bodybuilding, circo, ginástica artística e rítmica e qualquer outra onde a busca por resultados seja a propulsão para se treinar.

Semana passada, durante a aula de “Literatura Norte-Americana III”, um cara chamado Benjamin Franklin disse:

“A indústria não precisa de um desejo, e aquele que vive de esperança é o que morre mais rapidamente. THERE ARE NO GAINS, WITHOUT PAIN”.

O Caminho Para a Riqueza (1758)


O cara foi filho de um vendedor de velas que tinha 17 filhos e que por isso o pai só pôde lhe pagar dois anos de educação. Com certeza esse cara tinha uma infinidade de experiência para compartilhar por ter saído desse cenário social e se tornado o criador do “American Dream” e o pilar da independência americana.

Mas, o que me chamou muito a atenção foi o desvirtuamento que a frase de Benjamin sofreu com o tempo. O “pain” a que ele se referia não tinha muito a ver com “dor, sofrimento, repetições infinitas e cansaço físico” a que hoje nos referimos. É comum em atividades como o halterofilismo você se deparar com atletas que vão parar em hospitais por conta do esforço empregado. oO

Eu acho que a intenção de Franklin era inspirar as pessoas a deixar a preguiça de lado e construir um mundo melhor pra si mesmo com as próprias mãos; e não entrar em um processo doentio em busca de resultados (onde em muitas vezes se perde o prazer de cada passo que constitui essa busca). E por isso, termos como “dedicação, vigília e prontidão”, ao meu ver, seriam uma tradução melhor para “pain”.

Ao que remete ao parkour, a desvirtuação da frase é ainda um pouco pior. Eu já me deparei com tracers que se cortam, quebram ossos, batem canela por falta de prudência e quando você olha pra eles, com um sorriso amarelo, eles soltam a pérola: “Velho, é assim mesmo, no pain, no gain”. Quanta irracionalidade desse fi du cabrunco!

Por isso que sou ferrenhamente defensor dos “tracers pensantes”. Não me importa se pensam igual a mim, me importa que pensem! Essa política de muito copiar e pouco se analisar pra enfim tomar um partido, me irrita.

No twitter, o Rachacuca recentemente postou algo como “Deixe para xingar o despertador depois de ter se levantado para o desligar”. É esse o significado do “No Pain, No Gain” que eu acredito me ser útil.

Quanto ao sofrimento em demasia ou a idiotabilidade de se justificar falhas com frases, eu deixo para aqueles que precisam provar algo a alguém. No mais, o objetivo do meu treino é ser agradável a mim.

Com todo respeito aos masoquistas de plantão:

Busquem frases para justificar sua busca e resultado, eu buscarei me respeitar e me divertir.

18 comentários:

Bronze disse...

"no pain, no gain" pra mim é sobre dedicação, sobre esforço. Não sobre "Se eu me quebrar vou evoluir."

Esforço, dedicação são coisas que demandam energia mental, essa dor seria subjetiva então.

É o que eu penso.

Sayeg. disse...

não concordo com nada do que você disse!

[/contradição]

(L)

Duddu Rocha disse...

Caramba velho... eu me contradisse? Eu não devo ter exposto minha opinião direito então... porque a imagem sobre o assunto está bem clara na minha cabeça.

Qualquer coisa me diz aí o que foi que eu revejo se não fui eu quem escrevi errado.

Bjo

Ah... e é como disse no texto... eu tenho prazer em te ver discordar. É sinal de que vc pensa.

bjo again!

C.R. disse...

Frases feitas realmente tem interpretações variadas, mas ultiliza-las na vida dessa maneira que você sitou além de "irracional" é brega credo!
Outro problema dessas frases é que elas passam de boca em boca e seu conteudo acaba sendo absorvido da pessoa que o transmitiu, resumindo, deturpado!

Ícaro Iasbeck disse...

Muito bom Duddu! :D

Penso o mesmo que você, chega ser ridiculo essas pessoas que não sabem nem o significa do frase, e falam mesmo assim. Mais acontece, esse filosofia de butiquim é a mais barata de todas, acho que a frase por si só não "inspira" em nada, é só uma desculpa para os "erros", como você mesmo disse. Alias, acredito na frase do (vai parecer muito cliche!) Nuno cobra, "saber de cabeça, não é saber nada"

EU acredito que a pessoa só aprende na prática.

Caralho, eu sou muito confuso, saudade rapaz!

DUDDU É MARA!!!!

Ícaro Iasbeck disse...

A sim, já vai pro meu HD virtual! :D

Jarbas Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jarbas Rodrigues disse...

nunca fui fã dessas frases feitas, se bem que eu tenho uma em meu orkut: "informação é a chave!"... mas não vem ao caso, mas justamente essa "no pain, no gain" deu muita força e disciplina aos meus treinos, claro que não levo isso como dor causada por coisas erradas que eu ando fazendo nos treinos, mas sim como esforço, desgaste, a dor que precede a evolução... até gosto de olhar para as mãos sangrando pelo esforço que acabei de empenhar, não que essa dor seja necessario para minha evolução, mas gosto de pensar assim em alguns treinos, chame de masoquismo se quiser, te amo de qualquer forma. =*

Koxxxa disse...

(Y)


Prefiro analisar 3 horas um obstáculo, que tentar pula-lo e meter a cara no chão!

Boa Duddu!

Eduardo Bittencourt disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Bittencourt disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Bittencourt disse...

Muito legal o texto, os que removi é porque quando lí Benjamin Franklin, entendi Walter Benjamin e tinha feito uns comentários, sobre as possiveis relações com esse autor... Mas gostei do texto mesmo, parabéns pelas evoluções na vida.

Sayeg. disse...

entendemo-nos errados uns aos outros!

HFEUAHSIOUEHFAIUEHFSOAIUE

Arteba disse...

Concordo demai.

Millano disse...

"Velho, é assim mesmo"
AAHAHAHAHAHAHAAHHAAH FILHO DA PUTA, imaginei direitinho a cena aqui.
acho que quando a pessoa não pensa no que ta fazendo e continua fazendo ela pode até evoluir, mas mesmo assim continua um merda que não sabe o que ta fazendo. isso me lembra esses mil vídeos de desgraçados de pé sujo tentando imitar jackass

Pedro disse...

Sei lá, pra mim essas frases feitas possuem efeito motivador. O problema que eu vejo jaz na deturpação da informação, e não na sua apropriação. Nego em vez de entender, simplesmente decora. Por entender me refiro a história, o conteúdo, o iceberg como um todo.

:P

Unknown disse...

Só quem treina de verdade sabe o real signigicado da frase "No pain, no gain". A maioria treina por uma vida inteira e nem chega próximo disso.
Se um dia você treinar de verdade, seguir uma dieta rígida, se dedicar de coração e ver seus resultados transformando seu corpo em algo que você nunca imaginava, você entenderá esta frase.

NO PAIN, NO GAIN !

Marilia Coutinho disse...

Adorei, Duddu. É um pseudo-estoicismo ainda por cima pateticamente ignorante, como você tão divertidamente mostrou. Aplausos! :)