sábado, 24 de abril de 2010

O Parkour e o Egoísmo - Episódio Final


Fiquei um tanto surpreso com a repercussão da última postagem e por várias pessoas terem me apresentado alguns fatos isolados que se enquadram no propósito desse assunto. Definitivamente minhas dúvidas e incertezas são mais comuns do que pensava e partilhadas por outras pessoas na mesma situação.

Anteriormente já deixei claro o quanto estou feliz com o Parkour na minha cidade. Como uma semente que precisava de tempo para se desenvolver, parece que finalmente as pessoas pararam de enxergar a atividade como um esporte radical de final de semana e resolveram serem mais ativas. A mudança é evidente e não podia me matar mais de orgulho. Não tenho mais do que me queixar: hoje tenho excelentes parceiros de treino.

Em contrapartida, junto com esse “progresso intelectual” veio uma nova geração: recém-chegados que desembarcaram nesse novo Parkour Aracaju de melhores qualidades física e mental. E eis então que vejo o ciclo se repetir. Aprendi que essa espera é necessária para maturação e que cada pessoa tem seu próprio “tempo para despertar”. São novos praticantes cujas sementes estão sendo plantadas agora e que, se persistirem, irão se tornar meus futuros bons companheiros. Mas como devo proceder quando essas pessoas não querem esperar a árvore crescer para saborear os frutos?

Descobrimos um pico novo. Uma imensa casa abandonada, sem boa parte do telhado e que as coisas mais legais a se fazer estão acima de 5 metros de altura. Um erro de cálculo, a desatenção no momento crítico pode custar caro a todos nós. Nós. É essa a palavra que norteia esse texto.

Como dito na postagem passada, para existir uma boa disseminação do Parkour é necessário determinado sacrifício ou abnegação das pessoas. Não se deixe impactar com o sentido da palavra. Deixar de treinar para auxiliar alguém ou encorajar um amigo com palavras são sim pequenos atos de sacrifício. Às vezes não notamos, mas a doação ao próximo existe naquele momento e muitas vezes é preciso anular a nossa “vontade real” em beneficio da atividade ou do grupo com quem treina.

O “zumbido” que se encontra em minha cabeça e que atualmente perturba meus treinos está justamente quando as pessoas tornam-se egoístas e param de pensar no coletivo.

Lembra da casa que falei lá em cima? Agora, olha pra essa foto:




O menino ”voando” tem apenas 13 anos e treina a somente 6 meses. Inclusive, eu, pessoalmente, quem me encarreguei de conversar com os pais e cultivar neles um voto de confiança para a prática. Como fazê-lo entender que deveria partir dele a compreensão de que uma queda, naquela situação, significa um possível extermínio e o “caça as bruxas” do Parkour em nossa cidade? Eu tenho algum direito de interferir em seu livre arbítrio? Afinal de contas, em caso de um acidente serão quatro anos de luta jogados fora em quatro segundos.

Esse exemplo de descaso é extremamente comum. Nesse mesmo local costuma comparecer outra criança: menos de 10 anos de idade e que treina a mais ou menos um ano. Sempre ela está acompanhada dos irmãos mais velhos (inclusive, um maior de idade). Existe alguma maneira de eu conseguir manter o foco do meu treino quando pessoas se arriscam a minha volta?

Entendeu agora porque intimamente eu gostaria de aprender a ser um pouco mais egoísta? A solução do meu problema seria muito mais rápida se eu ignorasse minha responsabilidade, ligasse o “foda-se” e pudesse treinar normalmente.

Para poder usar o pico com tranqüilidade já cheguei ao cúmulo de ir treinar lá sozinho. A todo tempo me sentia como se estivesse fazendo algo de errado porque eu sabia que, se houvesse avisado ao grupo, eles teriam me acompanhado. Mas foi muito bom usar pela primeira vez aquele espaço como eu gostaria: com calma e sem receber de 5 em 5 minutos aquele choque na espinha quando alguém sem o devido preparo decidia se aventurar em algo com muito risco.

Ainda não tenho discernimento para proceder nesse tipo de situação. As soluções que passam na minha cabeça são todas muito agressivas e com certeza eu estaria ferindo o direito das pessoas que treinam comigo se as colocasse em prática (o que confirmaria egoísmo de minha parte, mesmo que bem intencionado).

Muito obrigado por terem conversado comigo no msn sobre o assunto. Eu até adiantei o “problema” para algumas pessoas e ouvi algumas sugestões. É um assunto um tanto delicado. Não somente o meu, mas sim, ter que lidar com pessoas que ainda não compreendem que as atitudes delas durante o treino repercutem diretamente na qualidade de imagem que o Parkour tem na sua cidade.

Seria tão legal e mais fácil se cada pessoa pensasse nisso antes de executar certas ações...

Confesso que agora estou um pouco apreensivo porque meus parceiros de treino recentemente descobriram a existência do meu blog. HUAUHAUHUAUHAUHAUHAUHA

Tudo bem Uilian, Wallace, Léo e Victors?
Espero que ninguém se sinta demasiadamente exposto ou ofendido com algo.

10 comentários:

Igor Scaldini disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Caires disse...

Ofendido com o que ? Vi sua razão em todo o post... S2

Victor Hugo disse...

Por mim você enfie esse seu blog no cu!
Não, sério... eu já sabia da existencia desse blog ha quase um ano e 2 meses, quando eu tinha 4 meses de parkour! Tive (e tenho até hoje) o maior prazer em acompanhá-lo.
porra, se eu contasse quantas coisas eu aprendi com esse blog (e do mesmo modo, com você)... ficariamos horas, ou dias discutindo sobre isso!
Parabéns Duddu, pelas suas sábias (e gays) palavras, e por ser tão gentil (e ignorante) comigo! Parabéns pra nós do Parkour Aracaju!
Bjo :*

§e¢kSon disse...

Velho você tem 2 opções:
Liga o modo" Fuck the World" ou
foca em passar consciência (e por que não filosofia) para esses praticantes. De início vai te tomar mais tempo(e exigir mais autruísmo), mas logo não vais mais ter iniciantes com que você se preocupa e passará a ter companehiros com que vc treina e que de fato treinam com vc!

Caires disse...

/\ UP !

wall disse...

Tio Duddu? Posso subir no telhado? hehe
Isso tudo me lembrou tbm akele iniciante la na praça dos guri e a conversa que agente teve depois da tentativa de suicidio.

Luiz Gustavo disse...

mto bom, mas eis que surge uma outra questão... como limitar o risco a que os iniciantes são expostos sem criar bloqueios ao processo de livre aprendizagem deles?
principalmente em crianças, acredito que mesmo que não seja a intenção, ao "solicitar carinhosamente" que não se arrisque, está imbutindo o sentimento de medo em relação a ação de risco, e aí começa a nascer um problema.
depois eu escrevo algo mais elaborado, mas pelo que vi nos comentarios aqui, parece que sua preocupação surtiu efeito e os garotos parecem ter compreendido ;)

Unknown disse...

CONCORDO COM O QUESTIONAMENTO DO GUSTAVO, MAS ACHO QUE O MÁXIMO (E MELHOR) QUE PODE SER FEITO É EXPOR O QUE REALMENTE ACONTECE, EXPOR AO INICIANTE OS REAIS RISCOS QUE ELE SOFRE E A RESPONSABILIDADE PARA COM OS OUTROS PRATICANTES (ME REFIRO À IMAGEM DO PARKOUR). ALGO A MAIS, NO CASO DE MENORES DE IDADE, SERIA APROXIMAR OS PAIS AOS TREINOS E ICENTIVAR O ACOMPANHAMENTO (E NÃO SUPERVISÃO) POR PARTE DOS RESPONSÁVEIS PELO MENOR.

Thiago Lima disse...

Gostei muito da leitura, tanto desse quanto no post anterior. Assunto polêmico, não?

Grande abraço. Saudade, amigo.

Uilian disse...

Demorei pra ler, mas estou aqui hauehauehuaehuae.
Eu ofendido? ki nada! Meu pensamento era um pouco próximo do seu. Agora ele está mais esclarecido.

E eu leio essa budega (blog) desde que eu morava em tobias barreto kkkkkkkkk...
bom post, abraço!