Eu já tive certezas absolutamente ridículas e ignorantes, como aceitar, por exemplo, aulas pagas ou não de Parkour. Hoje estou em cargo de uma associação estadual que ministra todas as semanas aulas e uma brasileira que vê o assunto com muitos bons olhos.
Acredito que a reflexão interior e o julgamento das atitudes é sempre o melhor caminho para o amadurecimento. E entre as opiniões divergentes a respeito da disseminação de nossa prática no país, aconteceu uma invasão dos praticantes de Parkour ao Art of Motion Brasil 2011.
Inquestionavelmente o protesto não foi realizado de uma forma inteiramente feliz.
Houve falta de mais planejamento e isso resultou na enxurrada de praticantes que invadiram o evento sem nem saber o motivo. Alguns convidados pré-selecionados estavam mascarados por ter um objetivo diferente dos muitos invasores da platéia; estes últimos que viram no ato apenas uma brecha para transgredir a norma e fazer uso da estrutura proibida.
Segregar não é o mesmo de diferenciar. Acredito que o Art of Motion é uma ferramenta ótima e que pode ajudar a concretizar a política do Freeruning. Não valeria a pena entrar mais uma vez no mérito da discussão, mas: O que é feito no Art of Motion não é a mesma coisa que eu pratico todos os dias de minha vida; e ponto.
Dou os meus sinceros parabéns ao Jean Wainer por ter, exaustivamente (e em uma época bastante conturbada), fôlego pra dialogar com a Redbull a favor da comunidade brasileira de Parkour. No início do ano o pedido de apoio ao evento passou por minhas mãos e até os últimos momentos eu estava inteirado dos bastidores: o trabalho que ele fez de consultoria foi de formiga e cavalar.
Em contrapartida, o Zico (um dos idealizadores da invasão) foi insistentemente convidado pela Redbull a ser um dos competidores. Ele recusou todos os convites para a competição e tomou uma postura extremamente bacana: se prontificou a ajudar em tudo que favorecesse o Parkour (e não a competição) e que a Redbull estivesse disposta a fazer.
A Associação Brasileira, da qual sou presidente, desde o mês de junho, por consenso entre seus membros, decidiu não se envolver com o projeto por fugir do campo de atuação e dos valores que ela defende. No máximo, foi feito um manifesto no mês de julho, depois de definido na reunião presencial com a grande maioria dos diretores, no qual a associação se postava contra competições de Parkour (basicamente para nos resguardarmos contra qualquer associação da ABPK com competições de Parkour e que inclusive já estava acontecendo).
Sempre e em todo o momento a assessoria da Redbull se manteve absurdamente interessada em agradar a gregos e troianos. Nunca antes tinha visto uma empresa se importar tanto com o público alvo do evento. Infelizmente a falta de entendimento, de ambos os lados, levou ao que aconteceu durante o Art of Motion.
Qual a causa?
Em um dos acordos com a Redbull ficou acertado que não haveria divulgação do evento como competição de Parkour. Eles se “equivocaram” e logo após publicaram a “competição de Parkour” em seu site, foram solicitados para modificar o texto para não incomodar a comunidade brasileira. Eles corrigiram sim.
Mas para você, honestamente, causa alguma diferença o significado das seguintes frases?
“Uma grande competição de Parkour e Freerunning entre os melhores do mundo no Red Bull Arte do Movimento, no Brasil”.
e
“Os melhores do mundo em free running e parkour virão ao Brasil para o Red Bull Arte do Movimento”.
ou
“Maior evento internacional de freerunning e parkour faz sua estreia no Brasil no Paço das Artes (USP), no dia 13 de agosto”.
Se já havia ficado claro que se tratava de atividades distintas, eu pergunto: alguém já viu uma competição automobilística divulgar que as pessoas que estão vindo para ela são praticantes de outra atividade? Em meu posicionamento profissional como professor de letras ficou bastante óbvia a manipulação de texto e a estratégia de marketing.
Eles conseguem divulgar o evento como campeonato de Parkour da mesma forma.
“Ah, mas eles sempre falaram que seria um EVENTO de Parkour e Freerunning e não uma competição de Parkour”.
Diga-me onde foi que o Parkour teve espaço nesse evento que eu ainda estou zonzo procurando. Ou o que justifica a presença do “Parkour” são os dois caixotes e a barra que eles esconderam debaixo daquela escada?
Possa ser que o evento de Parkour que eles se referiam tenha sido a apresentação de Parkour que foi cancelada no dia anterior. Ou talvez então o evento do Parkour tenha sido a liberação de treinos na estrutura que não ocorreu...
Engraçado que em todos os lugares constavam divulgações do campeonato de alguma-coisa-que-eles-juram-que-não-é-parkour no maior evento internacional de parkour e freerunning. Mas a programação, e o que de fato corresponde ao Parkour, ninguém nunca soube onde se informar ou ter acesso (com exceção de migalhas, divulgada as pressas em comunidades do orkut e passíveis de mudança a qualquer momento).
Isso pra não falar do próprio evento em si. Ouvi tanto “parkour, movimentos e manobras do parkour e parkour e mais parkour” que eu duvido que qualquer pessoa leiga ali presente sequer tenha ouvido “freerunning” alguma vez.
Como já disse antes: SIM, eu separo as coisas e acredito que cada um tem seu espaço! E a Redbull foi instruída desde o início do ano a fazer o mesmo.
Nos bastidores da invasão, invadiriam somente e só: Zico, eu, Edi e Marcello (com convites para mais uma ou duas pessoas). Todos com camisas brancas e com uma máscara com um X na boca. Nos colocaríamos diante da Redbull sem falas: utilizando a movimentação mais utilitária e rápida que pudéssemos realizar. Se os seguranças viessem atrás, eles seriam deixados pra trás. Se os gringos fossem ajudar, iriam ter que nos pegar primeiro. Se os gringos quisessem se aliar à causa, seriam bem vindos. Tudo terminaria tão rápido quanto começou.
Obviamente cogitamos a invasão do público, assim como cogitamos também a possibilidade de sermos presos, de sermos expulsos do evento ou de inúmeras outras variáveis de final. Infelizmente houve sim contratempos. Se era para fazer um bom protesto, podíamos ter desenvolvido a idéia, criado faixas, meios de chamar mais a atenção e mostrar que nem todos concordavam com o que acontecia naquela noite. Nossa intenção era ser a voz de muitos dos amigos presentes e não presentes.
Por motivos avulsos eu não pude fazer parte das demais reuniões (se é que houve). No dia do evento, inclusive, por causa de um outro compromisso, eu havia desistido de acompanhar o AOM (nunca foi prioridade minha ir prestigiar o evento). Cheguei bem mais tarde só que ainda em tempo de ver a invasão acontecer.
Pensei até que já tinham invadido e que o que estava acontecendo no show do emicida era a tal apresentação que foi cancelada no dia anterior.
Não foi algo justo. Não foi algo que passou de fato a mensagem que havíamos elaborado anteriormente e eu não sei quais rumos levaram ao que aconteceu.
Não sei se houve uma grande reunião com todos que entraram na arena. Mas sei que algumas pessoas (os mascarados) estavam ali por motivos justos e defendendo uma causa.
Para eles eu estendo minha mão. Mais ainda pela postura de terem ficado até o final da invasão e, após a descida da enxurrada, sustentarem o protesto de forma unida. Obviamente poderia ter sido muito melhor. Se somente eles tivessem subido, muito melhor ainda.
Mesmo sem ter invadido, eu assumo minha parcela de culpa na organização. E por esse motivo, em honra aos mascarados e aos idealizadores do protesto, escrevo esse texto para esclarecer o que aconteceu e enviarei uma síntese do ocorrido (e os seus motivos) para a direção da RedBull.
Se por conta da confusão não ficou claro o porquê do manifesto, não vejo problema algum em fazer isso diretamente por meio das palavras.
Assino despido de qualquer autoridade. Meu posicionamento contra qualquer coisa que atrapalhe o desenvolvimento do que acredito sempre foi bastante transparente. E acredito que minha postura não seja uma voz única já que encontro os mesmos ideais refletidos em vários amigos com quem caminho junto.
A vocês, meus parabéns!
Eduardo Rocha
9 comentários:
O único erro no seu texto, e na verdade um bem grosseiro, na minha opinião, é ignorar que o Parkour está dentro do Freerunning. São sim conceitos diferentes, mas não da pra separar um do outro completamente. Não da pra ignorar que praticamente todos lá (talvez exceto por alguns do Team Tempest) fizeram sim parkour também. Não da pra ignorar que o freerunning só nasceu por causa do parkour. A run do Sergio foi pura eficiência e flow. A precisão que o Rocco errou, foi puro (tentativa de) parkour. É impossível dizer que não há parkour num evento de Freerunning, e justamente por isso eu não questionei o uso de parkour durante a divulgação do evento.
Ninguem foi homem de virar pra alguem da Red Bull e colocar sua insatisfação com alguma coisa. Eu o fiz claramente, via telefone ou email, dias antes, quando vi o andar de algumas coisas. Um "protesto" (você o colocou como tal desde o começo mas não deixou claro qual era a mensagem) em forma de boicote de um evento desse porte é uma atitude muito agressiva pra ser usada como PRIMEIRO recurso de reinvindicacao ou reclamação.
Certo ou não o protesto serviu pra divir, não quem é contra ou a favor dele. Mas agora esta mostrando pessoas que idealizam o parkour competitivo e que sempre pregaram pela não competição se trocarem por poder tem ao lado um gringo, ou seja pessoas ao meu ver sem a minima honra ao que dizia e ainda batem no peito dizendo serem praticantes. Sem essa de pureza no parkour ou não, só não podemos deixar o parkour virar uma embalagem de pessoas que seram vendidas e apesar de muitos dizerem "fail" pro protesto ele criou esta polemica necessaria no momento de agora, o correto não é discutir o evento ou protesto, mas sim o que vamos fazer agora porque o parkour do brasileiro vai mudar ou não? Ainda vão defender o parkour sem competição?
"...isso resultou na enxurrada de praticantes que invadiram o evento sem nem saber o motivo."
"Mas sei que algumas pessoas (os mascarados) estavam ali por motivos justos e defendendo uma causa. Para eles eu estendo minha mão. "
"A vocês, meus parabéns! "
- Duddu?!
Terrível o evento, jean veio no início falando sobre separação das atividades, até achei que talvez pudesse acontecer... mas não houve. Parkour e dinheiro não combinam, qualquer coisa que envolva a mídia tem um fim lucrativo e ninguém se preocupa com a mensagem que vai ser passada, trazendo muita gente merda para a prática. O discurso do jean era bem diferente antes do evento, não falou antes que é impossível excluir o parkour num evento como esse, muito pelo contrario. A manifestação talvez pudesse ser melhor planejada, mas eu gostei, redbull, wfpf, tempest, UFF não merecem prestigio nenhum, se os apoiadores de outros eventos de parkour que presenciaram o fato e foram sitados em outros sites se espantaram com alguma coisa, MELHOR, pode ser que não tenham a ideia de criar algum evento parecido.
Parabéns por seus ideais duddu.
A interligação entre Freerunning e Parkour é algo que eu concordo; realmente a proximidade existe no que diz respeito a movimentação. No que diz respeito aos posicionamentos, vamos chamar pelo bem do argumento, "filosóficos", a diferença é gritante. Os movimentos do Parkour foram aproveitados pelo Freerunning, mas não houve Parkour puro ali.
Estou com você Duddu.
eu acho sim que existe muito de parkour no freerunning pois sem a base do parkour eles só ficariam girando sem objetivo mais se a red bull disse que ia divulgar como freerunning e não divulgou ta certo o protesto e pronto.Eles quebraram o que disseram eu sei girar e tals e até entraria no art of motion se ele fosse um evento como dizem! e não a competição como realmente é! seria bom se eles criassem algum tipo de "evento" para unir todos já q pra muitos como eu oque importava era só ver os caras e não quem ganhava! pra mim não deveria existir competições já que elas só irão deixar mais difícies as poucas comunicações com os praticantes que se continuar assim no futuro vão querer ser estrelas! diga não as competições seja de qual for mais não diga não ao freerunning que é uma arte q também tem o seu valor!
Eu concordo com o duddu que eles divulgaram o evento com o nome do parkour só para ganlhar mais publico, mas descordo em ele dizer que não ouve parkour e despresar o freerunning pq o freerunning pode ser usado em competições mas ele tambem tem o seu valor quando não é usado em competições os belos saltos mortais, eu como praticante do parkour não axo que o freerunnig venha descartado na pratica. Mas tambem quero parabenlizar os mascarados que em seu protesto contra COMPETIÇÕES DE PARKOUR E FREERUNNING consseguiram mostrar para os gringos que o parkour puro sem competição é o nosso alvo. vou fazer minhas as palavras do tracer alexandre: -"diga não as competições seja de qual for mais não diga não ao freerunning que é uma arte q também tem o seu valor!"
Cara acho que fizeram muita confusão desnecessária, parkour, freerunning ou movimento natural. Tem pessoas que vivem por esse debate querendo separar coisas que não podem ser separadas, acho que a maioria está esquecendo que a primeira coisa que todos aqui começaram a buscar tanto no parkour como no FR foi diversão e isso não importa a forma que tu faça se tu vai gira ou não, é o mais importante, depois vem o parkour com utilitário, ou o FR como maneira de ganhar a vida.
Não gosta de competição? Simplesmente ignora, não me venha com baboseira de que o parkour vai ser divulgado de maneira errada, claro que vai! Sempre será, mas alguém que entra na prática e tiver o espírito do parkour, começar a treinar sério e dedicar vai encontrar o parkour real, não importa quantos modas aparecem, no final os únicos praticantes que restam são os praticantes de verdade.
O resto que quiser ficar girando ótimo, deixa gira, sem quiserem ir competir e virar mais uma mercadoria da redbull podem ir, e se tiver alguns que se diziam "praticantes" e querem lá paga pau eu ajuda eles a fazer o evento, ótimo bom pra vcs, vendam a porra do esforço que vcs fizeram pra ser o que são hoje. Se quiserem aproveitem e vão pro circo também, aposto que vai ter lugar pra vocês e uma boa grana no final ;)
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