Até onde você pode exigir de seus alunos numa aula de Parkour?
Ontem fui um dos instrutores do GTreino, grupo de edificação e proteção aos valores do Parkour ao qual pertenço. Após apresentados, dividimos os grupos (4 de aproximadamente 10 pessoas) e revezamos os alunos em estações especificas puxadas por cada um de nós.
Ontem fui um dos instrutores do GTreino, grupo de edificação e proteção aos valores do Parkour ao qual pertenço. Após apresentados, dividimos os grupos (4 de aproximadamente 10 pessoas) e revezamos os alunos em estações especificas puxadas por cada um de nós.
Meu treino consistia de uma série de desafios: desafios de velocidade, tempo, limitação e persistência. Estabeleci metas individuais e em grupo e incentivei-os a cumpri-las.
Quando o último dos grupos chegou as minhas mãos, eles já estavam alerta do que ia acontecer porque viram três grupos antes serem incentivados por meus gritos e nego correndo pela vida.
Ao apresentar a última parte do treino disse:
- Bom. Vocês tem 15 segundos, contados por mim, para realizar o seguinte trajeto: corre, sobe muro, corre, sobe muro, passa arvore, sobe degrau, corre, desce muro, desce muro e volta. Se serve de consolo até agora ninguém conseguiu completar nesse tempo.
- Bom. Vocês tem 15 segundos, contados por mim, para realizar o seguinte trajeto: corre, sobe muro, corre, sobe muro, passa arvore, sobe degrau, corre, desce muro, desce muro e volta. Se serve de consolo até agora ninguém conseguiu completar nesse tempo.
Eles se empolgaram. Era tudo bem em cima de parkour+velocidade+flow e notei que eles não tinham muito costume de treinar assim... sob pressão.
O melhor sucedido terminou em 16 segundos e morrendo. Como viram que estavam dando de tudo e não surtia efeito para diminuir desse tempo, um corajoso jogou a bola pra mim (e foi em seguida super-apoiado pelos demais):
- Duddu, você consegue?
Notei que a pergunta não era movida somente por curiosidade. Eles não sabiam que eu tinha ido sozinho, mais cedo, testado tudo que iria pedir pra eles e estabelecido meus próprios limites para servir de base para criar a oficina.
- Consigo.
Daí a galera toda começou a contar meus 15 segundos. Terminei em 14 e pouquinho e isso porque escorreguei numa peste de uma folha (em um dos meus testes eu bati 13).
O que percebi: Não vejo problema algum em você dar aula e ensinar o que não é capaz de fazer. Até porque chega um momento onde o discípulo supera o mestre. Mas se você exigir de seus alunos algo que eles considerem "impossível", eles irão desacreditar no treino que você propõe.
Quando me viram concluir o trajeto, sem morrer e com folga, o rosto deles dizia claramente "Caralho, dá pra fazer mesmo. Eu só não consigo ainda!". E isso torna-se perspectiva pros treinos futuros deles.
É extremamente importante elaborar o treino com antecência ou ao menos ter noção do que será feito (e os desvios que podem ocorrer no "durante"). Do contrário, você pode ferir o bom senso dos praticantes e acabar criando uma descredibilidade tanto para você quanto para ele.