sexta-feira, 20 de março de 2009

“Mas aqui não tem onde treinar...”


Ao contrário do que sugere, essa postagem não é sobre métodos de treino e muito menos para te ajudar a usar a imaginação. É mais pra abrir os olhos sobre um assunto que, roda e vira, me incomoda:
A falta de conhecimento a cidade em que se vive.

Eu escuto o desabafo de muitas pessoas (amigos inclusive) de que estão cansados de sempre treinarem nos mesmos picos, fazer sempre as mesmas movimentações e deixar o parkour cair “na rotina”.

Moro em Aracaju desde que nasci e sempre fui um cara caseiro. Meu conhecimento da cidade se resumia ao trajeto que fazia pra escola, pro cursinho e o quarteirão onde morava. Meus pais me diziam “Acorde pra vida! Você não conhece nada do mundo! É um Zé bobão!”. E de fato toda vez que eu precisava ir pra algum lugar que desconhecia era um sufoco. Tinha que fazer perguntas sucessivas para as pessoas, buscava pontos de referência pra me orientar e por vezes me atrasava para os compromissos.

Parkour modifica a visão que temos da cidade, correto?
Mas do que adianta essa percepção se você nunca conheceu sua cidade?

Quando comecei, um dos primeiros pensamentos foi: “Moro no menor estado brasileiro, aqui não deve ter muito lugar pra treinar”. Procurei as praças clichês, treinei nos pontos óbvios e eis que chegou a minha vez de dizer: “cansei dos locais que tenho”.

Eu considero essa fase crucial para um tracer porque é o momento em que ele desperta pro interesse de conhecer VERDADEIRAMENTE a sua cidade. Aquele que ignora esse “chamado interior”, me desculpem a expressão, mas volta pra mesma merda. Se nega a possibilidade de evoluir tanto como praticante de parkour quanto como cidadão.

Eu era uma anta. Desconhecia completamente a realidade do que era a minha cidade. Vivia preso e protegido sobre o trajeto de vida que meus pais preparam para mim desde a infância. E acho que é nosso dever nos libertar-nos disso.

Hoje, sempre que conheço alguém que mora numa região remota eu faço questão de dizer que sou praticante de parkour e pergunto se não existem algumas praças legais no local onde ela mora. Essa atitude já me rendeu ótimos frutos (além de instruir mais uma pessoa que futuramente poderia recriminar a prática).

A foto que encabeça essa postagem é a maior arma que já encontrei: Mapas rodoviários e urbanos. Ele foi retirado da lista telefônica de Aracaju e é minha arma secreta. Além de mostrar as ruas, ele assinala... Sabe o que?

PRAÇAS!
Todas as da minha cidade além dos parques!

Não tenho como descrever o quanto minha visão ampliou e a quantidade de picos que ganhei. Será então que é justo você reclamar sem conhecimento de causa? Uma pessoa teve o trabalho de mapear sua cidade e colocar em forma de desenho tudo que você precisa pra ter locais ilimitados de treino. É irresponsabilidade sua não fazer proveito desse instrumento pro seu próprio crescimento. Ontem mesmo levei o mapa pra auto-escola e depois dela fui visitar um parque que nunca tinha ouvido falar. Treinarei nele hoje à tarde.

- Ah duddu, mas eu não tenho um mapinha...
- Http://earth.google.com/

Imprima, entre num ônibus e pense duas vezes antes de chorar no meu ombro.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Dicas para se treinar só I



É pra falar a verdade?
Eu amo meus treinos sozinhos!

Claro que você perde todo o apoio, chamego e conversa dos amigos, mas, pense pelo bom: "aquele momento é unicamente seu!". Na intenção de tirar melhor proveito desses momentos, eu percebi que instintivamente desenvolvi alguns artíficios. Vou listá-los sempre que lembrar para ajudar outras pessoas que passam pelo menos caso e para eu mesmo ter um registro. :)

1 - No caminho para o local de treino faça das quadras pares um obstáculo. Cada quadra normalmente tem 200 metros (se eu não me engano). Na ida, brinque de que nas ímpares você tem que ir caminhando rápido e respirando compassadamente, e nas pares você tem que prender o ar e correr o máximo que puder. É engraçado porque quando eu estou numa quadra ímpar (a primeira por exemplo) eu já a percorro nutrindo raiva pela quadra par (a segunda). Daí quando ela chega o primeiro passo quando subo a calçada é "sai daqui sua desgraçada!".

2 - Trave duelos com o pico. Nesse caso, eu foco em algo que está dentro do meu limite físico, ou de algo que quero apurar a técnica. Por exemplo: uma precisão de 10 pés. Como ela é díficil pra mim, eu estabeleço que vou fazer somente 10 naquele momento. Cada precisão certa é 1 ponto pra mim, cada errada é um ponto pra precisão. Da primeira vez que treinei isso, o placar foi 0 x 10 pro pico. Não contenha a raiva, chame ele de filho da puta mesmo! Sempre volte e faça a competição no mesmo local. Quando eu consegui (meses depois) fechar um 10 x 0, eu quase choro de alegria! Se você perder 5 de cara, lute por cada uma das seguintes! E se perder a sexta, faça as últimas 4 pensando em lavar a sua honra e voltar pra casa de cabeça erguida. "Ao menos acertei uma! SEU FI DO CABRUNCO! VAI VER DA PRÓXIMA VEZ".

3 - Não se limpe. Normalmente eu vou sem camisa, então sempre que rolo ou subo em árvores minhas costas ficam pretas. Percebi que as pessoas olham pra você (e te atrapalham) mais, quando você está com o cabelo certinho, cheiroso e com carinha de "minha mãe me arrumou". Se você estiver porco, suado e sujo, elas fazem menos piadinhas imbecis e se tocam que o que está fazendo é algo sério.

4 - Saia de casa sempre com o pensamento: "Não volto até ter encontrado algo novo". É incrível como essa obrigação aguça a mente. O pior (ou melhor) é que você vai esquartejando o pico metro por metro e cada dia sobra menos coisa nova pra fazer. AÍ A COISA FICA BOA! Você vai se pegar analisando cada galho de árvore em busca do seu "ínedito daquele dia". E NÃO SE ENROLE! No desespero de não ter achado nada, re-olhe o local buscando as coisas mais simples e idiotas, normalmente são elas que você deixou passar em branco (mesmo treinando lá há anos).

5 - Mentalmente, no trajeto de volta pra casa (sempre volto caminhando e relaxando), tente pensar em situações em que poderia usar o parkour de forma útil. A de hoje eu imaginei que um ladrão poderia me abordar a qualquer momento (a rua era deserta) e eu iria dizer que não tenho grana nenhuma porque estava treinando parkour. Quando ele me perguntasse o que é isso (O SER HUMANO É CURIOSO PRA CARALHO!) eu ia explicar bem gaymente que é um esporte que treina a pessoa pra salvar outras pessoas. E que se naquele momento um cachorro corresse atrás da gente, eu teria como subir um muro e ainda ter força pra puxá-lo pra se esconder comigo. Moral da história: Ele ia achar o parkour algo tão nobre que não iria me matar. Seja bobo!

6 - Imagine sempre que você é o Jerry e o Tom quer te fuder. Na sua precisão ele colocou espinhos pra te furar se você errar (ENTÃO NÃO SE DEIXE ERRAR!). No local onde você apoia suas mãos nos climbs ele colocou uma chapa quente (CLIMBA E SAI RÁPIDO PORQUE QUEIMADURA ARDE!). Imagine essas situações idiotas. Vai ver como sua perícia aumenta.

Sempre que usar algum novo ou recordar de um antigo eu posto aqui.

Um treino de parkour só é ruim quando você não quer treinar.