sábado, 4 de abril de 2009

Survivors!



Nunca fui muito fã de história. Lembro que na escola de freiras onde tive minha formação básica, o aluno ganhava 2 pontos por comportamento e os 8 pontos restantes eram do resultado da prova escrita. Nessa matéria eu tinha comportamento ZERO e na véspera da prova decorava completamente o capítulo para tirar o meu 6 ou 7.

Uma vez meus colegas contaram isso para a professora e ela disse que se eu citasse a página completa eu nem precisava fazer a prova. Foi o primeiro (e acredito que único) 10 que já tirei nessa matéria. E assim cresci. Passei anos enrolando a mim mesmo e só vim descobrir que essa “merda” valia pra alguma coisa anos depois.

Ainda hoje não consigo transformar os erros dos meus antepassados em acertos para o meu presente. Sou do tipo cabeça-dura que apanha na cara pra depois poder dizer: “ah... agora entendi”.

Os membros do Ibyanga, em sua grande maioria, são mestres no assunto. Ao menos quando querem usá-lo como apoio para as atitudes que tomam. É um tal de socialismo pra lá, democracia pra cá, anarquismo por baixo... Sempre que estamos juntos muita crítica é feita e várias delas fundamentadas em conceitos que não pertencem ao meu vocabulário. Eles me influenciaram a buscar compreender os diversos sistemas de governo existentes e a entender o que nomes como “Che Guevara”, “Rousseau” e “Hitler” querem significar.

Tenho lido cada vez mais sobre o assunto e hoje entendo um pouco melhor porque eles criticam tanto o método de governo brasileiro. O capitalismo encontra-se infiltrado em todas as relações sociais (parkour inclusive) e o conceito do “ter para ser” é evidente até em miudezas de nosso dia a dia. Você sempre se considera superior a alguém por deter algo que julga faltar a ele. Seja um conhecimento, uma habilidade ou um bem material.

A verdade é que eu tenho medo do homem. Tenho medo de não haver limites entre mim e as pessoas e mais medo ainda de que elas não tenham limites perante mim. Regras existem, basicamente, para melhorar o nosso convívio social. E eu lamento o desejo das pessoas que anseiam viver distante de um código de leis.

O ser humano é o mais maluco dos seres. Se o nosso sistema de sociedade não existisse, se hoje o governo caísse, se estivéssemos somente por nossa conta, EU ENTRARIA EM PÂNICO! Toda selvageria humana que é contida pelas regras e leis viria à tona! A propriedade privada cairia de imediato: Seríamos livres para ir aonde quiséssemos, mas reclamaríamos quando nosso espaço fosse invadido. Será que realmente haveria liberdade em um ambiente onde os limites não seriam mais respeitados?

O próximo viveria realmente próximo, e me cago de medo ao pensar no uso que daríamos a essa proximidade. Eu me relaciono super bem com as pessoas, mas preciso que elas mantenham-se em seus lugares para eu me sentir seguro! Numa terra sem lei tudo pode acontecer, principalmente se tratando de gente.

Eu, ao menos no momento, me sinto totalmente incapacitado de lutar em um mundo onde tenha que cruzar o limite de alguém para atingir os meus objetivos. Não tenho dúvidas de que acharia uma forma de “sobreviver”, mas também tenho certeza de que a consciência por cada atitude tomada me faria perceber que não é dessa forma que eu gostaria de "viver".

Eu dependo de cada um de vocês.

6 comentários:

Thiago Lima disse...

Olá Eduardo!

"A verdade é que eu tenho medo do homem."

É inegável que o desconhecido, em primeira instância, cause medo, e no caso do homem, posso compreender seu sentimento. Afinal, quanto do homem o homem sabe?

"Tenho medo de não haver limites entre mim e as pessoas e mais medo ainda de que elas não tenham limites perante a mim."

Bom, agora é possível entender melhor o porquê de, algumas pessoas externas ao mundo do que treinas, olharem de maneira assustada e inquieta. Vejamos:

"Não se limpe. Normalmente eu vou sem camisa, então sempre que rolo ou subo em árvores minhas costas ficam pretas. Percebi que as pessoas olham pra você (e te atrapalham) mais, quando você está com o cabelo certinho, cheiroso e com carinha de "minha mãe me arrumou". Se você estiver porco, suado e sujo, elas fazem menos piadinhas imbecis e se tocam que o que está fazendo é algo sério." (Post do dia 05/03/09)

Será? Apesar de não ser contra as Leis da sociedade ficar sujo, agir dessa maneira não deixa de ser um fenômeno social que nos chama a atenção. Distanciando um pouco da vida que temos hoje, pensemos em quantas vezes é possível observar uma pessoa suja e ofegante fazendo movimentos aparentemente aleatórios maneira isolada. Isso assusta e causa toda essa impotência e vulnerabilidade que citas quando pensamos em nos deparar com algo do tipo.

"Será que realmente haveria liberdade em um ambiente onde os limites não seriam mais respeitados?"

O que é liberdade? Se para algumas pessoas a definição for a de que se trata basicamente do contrário disso, a não-definição/não-delimitação, então assim, talvez, possamos acenar positivamente quando tu perguntas se haveria realmente liberdade em um ambiente onde os limites não seriam respeitados. Mas é preciso cautela ao observar todos esses aspectos.

Gostei do seu texto, meu amigo.
Um grande abraço.

Duddu Rocha disse...

Caramba Thi, Muito pertinente essa sua citação e o comentário de forma geral. Acredito realmente que o mesmo medo que sinto ao pensar em um ser humano não "freado" por regras e leis é o mesmo medo que as pessoas externas sentem ao me ver treinar sujo.

Mas como você mesmo citou, eu não infrinjo nenhum principio social quando o faço. As regras e leis me concedem o direito de exprimir minha liberdade até esse ponto. E por vezes eu noto que o "receio" que as pessoas sentem não é por eu extar fazendo algo "diferente" mas sim pelo fato de elas não serem corajosas o suficientes para fazer o mesmo.

É como um mundo de regras dentro de outro mundo de regras.

Quanto ao fator "liberdade", eu fui criado com o principio de que "o meu direito termina quando começa o seu". Essa máxima norteia minha vida desde a infância. E eu luto com todas as forças pra me manter sempre dentro do meu espaço sem afetar o próximo.

Apesar de parecer, isso não mostra que sou uma pessoa boa. Mas sim que sou previdente, pois quero que meu limite seja igualmente respeitado quando a hora de fazer uso dele chegar.

E é aí que os interesses se chocam.

Sempre bom ouvir suas reflexões!
Abração, meu rapaz!

Koxxxa disse...

Duddu, seu blog é inspirador pra caralho, e o caso da policia, que virou?

Gabriel de Assis Miranda disse...

E ai Du, tudo certo contigo?

Compreendo seus medos, e os lendo lembrei de alguns filósofos que refletiram sobre o homem no seu estado de natureza. Dentre eles Hobbes que dizia que os homens não são irmãos. Ao contrário, são inimigos, capazes de matar um ao outro. O homem, na verdade, é o lobo do homem. Para Hobbes o estado natural do homem é a guerra, como ferramenta de autopreservação e satisfação de seus fétidos desejos. O governo seria algo que lhes protegeria de outros homens que quisessem tomar seus "pertences".

Acho isso um pouco extremista. Claro que a ganância e a satisfação do poder sempre existiu, mesmo quando a terra supria a todos. Só que o desejo que o homem tem de expandir seu espaço foi o que o corrompeu. E até hoje corrompe, só que hoje os espaços de expansão estão se acabando. Isso é o conflito existencial do espaço, algo que nasceu junto do homosapiens. Aliás isso é algo que o Parkour transcende.

Já Locke, grande homem, tinha outra visão sobre o estado natural do Ser. Ele acredita que o ser humano em seu estado natural é livre, e está sujeito as leis da natureza. A os frutos da terra são abundantes para sobrevivência e para ele não teria porque no estado natural um homem atentar contra a liberdade do outro. E se atentasse todos os homens que estivessem vivendo naquele conjunto teriam o direito de punir o "depravado" que transgrediu as leis da razão natural. O homem nesse estado é regido por essa razão. Assim tendo a noção de um possível certo e errado para viver em harmonia. Mais os homens não aguentaram os inconvenientes dessa forma de vida e renunciaram as liberdades a um grupo de pessoas, que é o corpo político. isso deu origem a sociedade. Leis foram instituidas pelo legislativo e executadas pelo executivo e assim por diante...

Rosseau dizia que nossa liberdade é civil, não natural. A partir do momento que renunciamos a natureza para formar uma sociedade civil, onde leis seriam estipuladas pelo legislativo, a nossa única liberdade nesse sistema seria a liberdade civil. um indivíduo se torna livre quando satisfaz seus prazeres dentro das leis.

Esquecendo os filósofos e falando de nosso sistema vigente, eu acreditaria em um neocapitalismo. O capitalismo tomou o rumo errado. O anarquismo que é um pré-socialismo científico é furada. O comunismo precisava ser reformulado, pois nele o homem não tinha crescimento algum. O capitalismo não é um sistema tão ruim, só que como outras coisas foi usado de má forma. Hoje não existe mais o público - aqui em São Paulo. É um aglomerado de espaços privados. o Brasil não fez uma revolução industrial, não fez uma reforma agrária, a coisa podia ser diferente aqui se a burguesia não fosse tão cruel. O preciso seria agora algumas das reformas do governo Jango.

O essêncial eu encontro em Lock, que seria o respeito mútuo entre as propriedades alheias a nossa. Aos pequenos espaços, e o contentamento a esses espaços capazes de nos fornecer as coisas essenciais da vida, amor, comida, conforto. A propriedade privada virou um absurdo, está tomando conta do mundo. O certo seria uma reapropriação dessas propriedades exclusivas para alguns.

O sitema do brasil não é tão ruim Duddu - se foram criados muitos cargos desnecessários -, o que falta é uma coletividade entre todos os tipos de governos, governantes e mandatos. O problema que nesse mundo ninguém pensa em reformas estruturais para o Brasil. Na verdade é uma eterna disputa de poder, e quando a disputa é ganha é preciso se manter o máximo de tempo com o dito. Quem mudou isso foi o governo Lula. Muitas portas estão se abrindo para o Brasil.

Agora o Parkour.O parkour é uma ferramenta essencial para a reeducação espacial, a reeducação de convívio social. O Parkour se apropria da cidade de uma forma inovadora, ele transpões os limites demarcados pelas propriedades privadas - não de uma forma coersiva e desrespeitosa - transformando a cidade num todo, num todo público e saudavel a todos.

O Parkour transcende o conflito existencial do espaço, superando os limites ordinários da pele, transpondo os limites impostos ao corpo.

Isso é uma dentre mil possibilidades que o Parkour nos mostra diariamente.

Deixo postado de grande humildade pra ti esse textículo como diria o Edu do LEPA haha. Bom Duddu não liga para a desorganização do texto, fui escrevendo e nem reli o que escrevi. Não sei nem se você vai chegar até aqui na leitura ou vai fechar antes haha! Mais se chegar, valeu. Um ótimo texto o seu! Gostei! E agora que descobri esse blog sempre estarei por aqui lendo seus superlativos post's.

Grande abraço seu marabá danado. Haha!

Adriano (pop) disse...

sobre o bonequinho excluido da foto... é vc? =/

não fique assim, junte-se a nós !
;)

Lucas Santana disse...

Ah! Eu amo história! s2