Embora não pareça eu não tenho medo de altura. Tenho sim, medo de me machucar, o que transforma tudo numa situação completamente diferente.
Quem já me viu treinar alguma vez, pode facilmente ter percebido que não sou bem um tracer dominado pela adrenalina, fascinado pelo mais distante ou ansioso pra fazer o que existe de mais alto. As duas coisas que mais me fizeram apaixonar pelo Parkour foram às corridas desenfreadas e os flows ininterruptos. E pra ser bastante sincero, acredito que a alma da atividade seja essa mesmo. Então, obviamente, eu tenho sempre em mente, em cada movimentação que executo, a obrigação interna de trabalhá-la para ser mais veloz sempre e sempre.
Outra característica minha que pude notar com os anos é que, embora eu faça algumas coisas muito bem, não sou bem um especialista em determinação (talvez já tenha sido um dia). Hoje eu treino de tudo, sei um pouquinho de cada tipo de técnica e por isso, nos flows, consigo sempre me virar muito bem com as armas que disponho.
Mas me ver nas alturas é algo muito raro. E isso acontece basicamente por ação do meu instinto de conservação. Na minha mente, não se trata de uma questão de correr riscos, mas sim de não atentar o cão com reza e não dar chance de acontecer o que eu não posso controlar! Eu faço. Eu sei. Eu consigo. Mas não faço e ainda continuo tendo a certeza que sei e que consigo. E o pior é que todas as vezes que faço algo que não ache desnecessário ao meu objetivo com o Parkour, eu fico com aquela sensação de “Tá legal, Eduardo... e provou isso pra quem? Você já sabia que conseguia... correu o risco de acontecer algo de ruim por quê?”.
Existem situações no Parkour onde qualquer deslize (seu, do material, do acaso, das pessoas a sua volta, da atmosfera ao seu redor, da bomba que explodiu ao fundo...) pode te trazer uma conseqüência drástica pro resto da sua vida. E eu amo demais viver! Demais mesmo! Meu salto pode ser perfeito, eu posso estar perfeito naquele momento, mas tudo de ruim ainda assim pode acontecer e eu gosto demais de minha vida pra colocá-la a disposição do deus-dará.
Meu parkour é rasteiro. Eu quero correr e passar tudo rápido, basicamente. Nunca senti necessidade (e nem vontade) de saltar de um telhado pro outro ou cravar aquela precisão de 6 metros de altura. Porque na verdade eu sempre tenho medo de me machucar. Eu sempre treino Parkour com muito medo. É tanto que se já treinou comigo você sabe o quanto eu testo tudo! É mMedo de que o galho esteja podre, medo de que o muro não esteja firme, medo de o que não pude testar antes se torne meu inimigo, medo de que a barra que parece segura tenha conseguido me enganar... E eu consigo facilmente continuar essa lista.
Enquanto treino minha mente avalia todo o espaço ao redor e tenta calcular todos os riscos em que me encontro exposto. Tudo aquilo que não contribua para que eu atinja o meu objetivo de ser um cara extremamente rápido, normalmente é descartado. E tudo aquilo que possa me colocar em um risco onde a falha do universo (não a minha) possa me machucar, também é descartado.
Eu sei que não posso ser controlador total do meio em que me encontro e que isso é uma trava psicológica que eu devo romper. Mas às vezes me pergunto: Devo mesmo, e por quê? Não sou eu o cara que acha ruim quando dizem que Parkour é uma atividade arriscada?
Estou seguro em dizer que as habilidades que tenho hoje já me satisfazem. Claro que tenho muito a lapidar. Muito a compreender sobre mim mesmo e muito mesmo a me disciplinar. Meus treinos atuais têm se dedicado a isso: aumentar ainda mais minha velocidade, ficar mais forte, ter mais fôlego pra agüentar flows por mais tempo e realizar minhas movimentações de forma aceitável aos meus padrões de segurança e ego. O resto pra mim são anexos (entenda por isso: coisas não tão primordiais, mas que ainda assim fazem e farão parte dos meus treinos).
Não precisa se preocupar pois embora pareça essa não é uma postagem de comodismo e sim um reconhecimento de quem eu sou no Parkour, quais os valores que me orientam e pelos quais eu vou lutar pra alcançar. Definido tudo isso: hora de trabalhar!